Tecnologia pode diminuir empregos?

Por José Roberto Assy*
O termo Indústria 4.0 se popularizou no Brasil a partir da fabricação de produtos. Porém, aos poucos vem conquistando o homem do campo e fazendo a diferença no resultado do agronegócio brasileiro, mesmo em cenários de crise. Comprovando a afirmação, o 2º trimestre do PIB brasileiro foi marcado por dois únicos resultados positivos: agropecuária com crescimento de 0,4% e exportação com saldo de 1,8%.
Entendendo a importância desse setor para aumentar a eficiência e até reduzir custos no agronegócio brasileiro, o Governo Federal acaba de lançar o Programa Agro 4.0. A proposta é dar apoio financeiro para implantar 14 projetos, que possam ser replicados em grande escala nas fazendas brasileiras. Embora o investimento esteja na ordem de R$ 5milhões reais, toda iniciativa que colabore com esse setor é bem-vinda.
É inegável que a indústria 4.0 ganha escala no agronegócio. Em Goiás, já está presente através de conectividade, robótica, Inteligência Artificial e principalmente, melhoramento genético a partir da biotecnologia. Mas, ainda não está acessível a todos os produtores, que em geral, são multitarefas, assumindo desde a compra de sementes para o plantio à comercialização. Soma-se a isso, insegurança em estradas de péssima qualidade, o que gera perdas e dificulta o controle de frotas.
A introdução de novas tecnologias é capaz de racionalizar insumos, aumentar a produtividade possibilitando projetar o resultado com mais precisão. Na agricultura, por exemplo, a análise do solo é feita em modo analógico, mas no futuro, tudo será digital. Essa potencialidade do agronegócio na economia brasileira, somada a modernos processos mecanizados e integração dos ciclos produtivos, sinaliza quão grande será o crescimento do mercado de tecnologia no país nos próximos anos.
Outra tendência, o modelo de fazenda idealizado para o futuro, com produção 100% autônoma, ainda segue distante de ser uma realidade. Uma boa notícia para aqueles que temem a substituição de mão de obra por máquinas é que o Brasil ainda tem os próximos anos para se preparar. Porém, quando se avalia a transformação do trabalho humano por introdução de novas tecnologias, uma regra que nunca muda é a necessidade de se reinventar, adquirir novas habilidades e assumir funções, que ainda nem foram criadas.
Na educação básica, escolas particulares já introduzem em Goiás, disciplinas como pensamento computacional, além de aplicar estratégias disruptivas associadas a outras disciplinas. Aos profissionais que atuam ou pretendem iniciar carreira no agro é importante que estejam capacitados. Afinal, com um estado tão avançado no agro como o nosso, o modelo de educação deve seguir o mesmo protagonismo para que empregos sejam gerados e inovações disruptivas ganhem o mundo.
Em Rio Verde, por exemplo, um grupo de pesquisa idealizado por empresários investe uma média de R$3milhões anualmente em melhorias de processos produtivos. Goiás conta com boas graduações, mas em outros estados o ambiente cultural que promete dominar o agro nos próximos anos, já é gestado em laboratórios de altíssima complexidade. Nesses espaços, a capacidade de criar métricas, avaliar processos e falhas, além de novos modelos de negócios são aplicados de forma que o profissional consiga mais resultado com menos investimentos e em menor tempo.
Como desdobramento no campo, o produtor terá acesso a tecnologias para aplicar insumos sob medida, coordenando o plantio a horários e locais ainda mais inusitados. Com sistemas tão eficientes, fazendas terão equipes trabalhando diuturnamente.
A história prova que as inovações foram capazes de gerar riquezas e oportunidades, ampliando o número de empregos. No caso do agro, poderá atrair ainda mais agroindústrias, serviços de assistência tecnológica em tempo real e integrar outros setores da economia.
*José Roberto Assy é especialista em tecnologias para o agronegócio
Formação: engenheiro agrônomo pela USP e empresário no ramo de Pesquisa & Desenvolvimento para o agronegócio. É ganhador do Prêmio Finep de Inovação (2013), na categoria nacional Inventor Inovador. Em 2019, concluiu um programa presencial de três anos, na universidade americana Harvard – OPM (Owner/President Management).
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Alan Ribeiro
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