
Técnicos e políticos podem ajudar Ronaldo Caiado a governar Goiás. Novo gestor aguarda diagnóstico da situação fiscal do Estado para começar a pensar equipe
Welliton Carlos
A vitória do senador Ronaldo Caiado (DEM) ao governo de Goiás representa mais do que o fim do Tempo Novo na política. É o início da mudança que ele propôs ao lado de um pequeno grupo de defensores que dava para contar nos dedos antes do início da campanha eleitoral. Nos últimos meses este grupo cresceu.
No início, ainda nas visitas realizadas durante a pré-campanha nos municípios agendados, o batalhão de Caiado era composto principalmente por admiradores.
A construção da nova base teve pelo menos três momentos: um inicial de reafirmação do desejo em disputar as eleições (começou em 2017, quando Caiado declinou de uma disputa para presidente da República), a fase de pré-constituição da coligação (de janeiro de 2017 até junho) e a fase final (da convenção até a realização das eleições). Em cada fase, um ou outro agiu como protagonista ao lado do grande vencedor.
Apesar de Caiado em nenhum momento ter antecipado nomes de secretários, já que a fase é ainda de comprovação do diagnóstico da máquina pública, é inegável que existiu um grupo que o defendeu nas ruas, na imprensa, redes sociais e que se manteve atuante para ajudá-lo na vitória.
A cada tempo Caiado teve o auxílio de amigos, familiares, companheiros e lideranças que marcharam com ele em direção à vitória histórica de 7 de outubro. “Preciso de todos vocês, minha gente! Não vou governar sozinho”, dizia sempre Caiado durante os discursos que repetiu em cada cidade que visitou.
A frase da mudança jamais foi interpretada profundamente durante a campanha. Mas o que se pressupõe é que Caiado atuará, primeiro, para mudar pessoas – e com elas suas ideologias e ideias. Fica evidente que os rostos do “Tempo Novo” tendem a desaparecer dos jornais e do comando das políticas públicas. No lugar surgirão novas pessoas. Espera-se, também que novas práticas e políticas públicas atendam a expectativa de mudança: Caiado sempre prometeu uma equipe mais técnica, composta por especialistas, mestres, doutores, gente mais competente do que simples políticos.
O núcleo básico de Caiado inclui os deputados que primeiro marcharam com ele, antes mesmo da formação das coligações, e aquelas pessoas que já estavam do seu lado durante a fase de especulação da pré-campanha.
Neste grupo inicial, Caiado atraiu tanto ex-integrantes do Tempo Novo quanto emedebistas descontentes – caso dos prefeitos de Catalão, Formosa, Rio Verde, Goianésia e Turvânia.
Na base zero deste grupo estão, sobretudo, familiares – caso da esposa Gracinha Caiado, sempre fundamental em toda a disputa, e a filha Ana Paula.
Elas devem participar da montagem da equipe, dar sustentação para suas convicções administrativas e ajudar na realização do diagnóstico do Estado.
Anna Vitória já reafirmou que não pretende participar diretamente do governo, mas ser o braço jurídico do pai, dando a ele orientação para obter segurança jurídica – elemento essencial para sustentar o governo.
O senador Wilder Morais (DEM) é outro do grupo mais próximo de Caiado. Quando decidiu optar pelo líder democrata, em vez, por exemplo, de Daniel Vilela (MDB), falou mais alto sua raiz: desde 2010 era filiado no DEM. Saiu para se viabilizar na base aliada, mas quando decidiu retornar não fez um único movimento de arrependimento.
No meio da pré-campanha, em uma reunião de trabalho coordenada pelos dois senadores e Gracinha, as equipes de Wilder e de Caiado se integraram como se preparassem para uma verdadeira batalha. A campanha foi integrada: mesmo material, mesmos discursos, mesmas cidades.
Wilder permanece no grupo como revelação: é o candidato iniciante nas urnas que mais teve votos na história de Goiás. Em um eventual governo de Jair Bolsonaro, pode integrar a equipe do novo presidente como ministro – o que ajudaria Caiado em sua articulação junto da União.
A campanha ao lado de Caiado aproximou ainda mais Wilder do futuro governador, que já teria nele um quadro competitivo para disputar novos cargos majoritários – caso do Senado, prefeitura ou mesmo governo. Caiado gostou do que viu: Wilder é dinâmico, espécie de coringa e gosta de fazer política.
Ao lado de Wilder, outro político que atuou 24 horas na campanha é o prefeito Adib Elias (Catalão). Foi o homem de frente da disputa: respondeu adversários, articulou candidaturas, confidenciou com o senador, doutrinou neo-caiadistas e, sobretudo, trouxe parte do MDB histórico para a campanha.
A força de Adib pode ser medida nos eventos. Ainda na pré-campanha, realizou um encontro com milhares de pessoas em sua cidade que mostrou poder de articulação. É o guerreiro que pode desmanchar definitivamente o “Tempo Novo” com sua verve e capacidade de discurso.
O deputado estadual Lincoln Tejota (Pros), vice-governador eleito, é também outro quadro que se aproxima cada vez mais de Caiado e poderá ajudá-lo na governabilidade.
Tejota poderá, dentre outras ações, ser o interlocutor do governo na Assembleia, já que conhece o ambiente e futuros personagens. O governador ainda não tem a maioria de deputados, necessária para aprovar com maior conforto as mudanças que pretende executar, mas a atuação de Tejota poderá ajudá-lo.
BATALHÃO
No grupo dos deputados e futuros parlamentares, existe um batalhão que pode atuar na defesa de Caiado e até mesmo ocupar cargos em sua administração: Iso Moreira (DEM), Lívio Luciano (Podemos), Álvaro Guimarães (DEM), José Nelto (Podemos), Henrique César (PSC), Delegado Waldir (PSL), Major Araújo (PRB), José Mário Schreiner (DEM), Zacharias Calil (DEM), Flávia Moraes (PDT), Chico KGL (DEM), Glaustin da Fokus (PSC), Alcides Rodrigues (PRP) e até o novato e desconhecido Major Vitor Hugo (PSL), dentre outros, pode ajudar a dar sustentação ao novo governo.
Iris pode ajudar futuro governador
A vitória de Ronaldo Caiado (DEM) pacifica o Estado, retira de Goiás um grupo que perpassa o poder há três décadas e reoxigena a gestão pública. Mas não coloca paz no MDB, um dos principais partidos da oposição.
A legenda terminou a disputa como começou: com uma pequena parcela (e contundente) aliada de Caiado. Esse grupo foi criticado pela ala vilelista (que disputou o governo de Goiás e perdeu), mas é visto com bons olhos por Iris Rezende (MDB). Iris e Caiado estão juntos desde 2014, quando Caiado marchou ao lado de Iris durante toda a campanha.
O prefeito de Goiânia deve liberar aliados para atuarem na sustentação de Caiado – caso do ex-deputado Samuel Almeida.
Este grupo pode ajudar a decidir a organização do poder daqui para frente, tendo em vista impedir que a antiga base ressuscite. Ainda que mergulhada em um horroroso histórico de denúncias e investigações, o antigo grupo tende a se rearticular com dissidentes e a partir de agora ser pedra na vidraça governista.
Servidor público efetivo tem peso cada vez maior
A primeira ideia incorreta dos neófitos que assumem o poder executivo é confundir governo com estado. Na teoria geral do estado, é visível que o Estado é perene e permanece com suas instituições. Já o governo tem a possibilidade de se modificar a cada eleição – e a qualquer tempo.
O servidor público concursado é patrimônio do Estado. Exerce e cumpre atos administrativos. Principal instrumento do governo, ele conhece os pormenores do serviço público. E neste sentido mantém o histórico das políticas executadas e serviços aplicados.
A nova equipe de Caiado chega para se integrar a este grupo, tendo em vista gerir os servidores para a esperada “mudança” proposta.
Ronaldo Caiado garantiu dialogar e valorizar o servidor público – que não recebe aumento nem participa ativamente de programas de valorização e titulação.
Publicado no Diário da Manhã