Os desafios que Caiado terá pela frente

O governador Ronaldo Caiado (DEM) é o favorito para vencer as eleições em Goiás no próximo dia 7 de outubro. Trata-se da chegada ao poder de um dos mentores do Tempo Novo, que no percurso sofreu perseguições e silêncios impostos pelos mandatos de Marconi Perillo (PSDB) e seus seguidores. Através do jogo político da força e da imposição do poder como violência, Marconi a todo tempo tentou enfraquecê-lo.

Fez isso de diversas formas, como quando retirou o senador Wilder Morais do DEM, tentando arquitetar a primeira estratégia de desconstrução de Caiado: dar ideia de que ele não mobilizava ninguém, era solitário, sem alianças e grupos.

Percebe-se que Caiado venceu a batalha e deve ganhar a guerra: todos os institutos apontam a vitória do líder político goiano de maior inserção nacional na atualidade. É fato que politicamente o peso de Caiado sempre foi maior, tanto que é um dos pilares dessa nova era política de Goiás que tende a terminar no final do ano a ter inserção nacional.

Para se ter ideia, Caiado é quem abriu espaço para o surgimento de Jair Bolsonaro (PSL), na medida em que não aceitou fazer o discurso fácil do “capitão”. Mais refinado, Caiado optou em ser o que é: um livre pensador e deixou a política nacional para cuidar da regional.

Portanto, Caiado não é um político isolado nem descontextualizado. Surgirá no comando do governo e dentro de um circulo de poder, assim como sempre ocorreu nas tradicionais disputas que ocorreram desde a velha República. É o elemento interno que sobressai, rompe e cria um movimento.

A vitória atual e anunciada é um conjunto de fatores: desgaste do “Tempo Novo” e de Marconi Perillo (a teoria da redundância, aplicada na teoria matemática da comunicação, diz que passa a ser insuportável a repetição dos mesmos códigos informacionais). E Marconi, seu grupo, seus programas, suas falas e ‘persona’ enjoaram os goianos. Por mais que o Governo de Goiás tenha instrumentalizado toda a mídia (o Jornal Opção é a prova disso), existia uma forte rejeição ao código apresentado ao receptor das mensagens. O nível de redundância aumentou e Caiado se sobressaiu.

Não bastasse, a vitória de Caiado se anuncia por um segundo motivo: o Governo de Goiás está na atualidade ingovernável. As pesquisas revelam os menores índices de aprovação da história dos levantamentos dos institutos de pesquisa. A desaprovação recorde simboliza uma inigualável armadilha montada para quem deseja reeleição ou se perpetuar no poder daqui para frente. É sempre preciso lembrar que Marconi não foi governador quatro vezes por bom desempenho. É evidente a quem conhece a ecologia política que fatores como a criação do instituto da reeleição e a manipulação política possibilita esta vitória. O povo não escolhe o melhor, mas o que é oferecido, o que é permitido chegar até o cardápio eleitoral.

E, por fim, Caiado vence devido ao grande carisma que acumulou ao longo da vida. Não fosse isso, não seria o que é: um político enérgico, com comprovada coragem para enfrentar os grandes nomes do cenário nacional e que jamais cometeu um deslize público que marcou sua reputação. Estes fatores revelam, evidentemente, toda uma possibilidade política daqui para frente. Caiado chega ao poder, com prestígio. Tem militância e uma base de apoio.

A partir de agora resta saber: é possível ser diferente de Marconi Perillo no poder? Evidente que desinfetar o ambiente já será o início desta mudança apregoada por Caiado. Mas é preciso realmente colocar no papel os problemas do Estado e começar a tentar resolvê-los, caso queira ter um final diferente de Marconi.

Inúmeros problemas se apresentam como graves. A prestação de serviços públicos não terá qualidade sem a devida valorização do servidor público, ignorado pelo Tempo Novo desde o segundo mandato de Marconi Perillo. As políticas de desenvolvimento baseadas nas isenções tributárias para grandes empreendedores não tirou Goiás de onde está há 20 anos. Portanto, a guerra fiscal – uma das principais estratégias do Tempo Novo que agora está velho – jamais funcionou. Teve, isto sim, um efeito paliativo, momentâneo. Giramos em círculos, mas não saímos do lugar. O futuro governador terá que agir diferente caso queira resultado diverso do que temos hoje.

Na cultura, evidente, existe muito a ser feito: Goiás não produz mais escritores de qualidade como no passado. Inexiste política pública para tal intento. Não se discute a formação do escritor, mecanismos de valorização, possibilidades de inserção nacional. O que se vê é uma política retrógrada de fundo de cultura, que nutre sempre os mesmos, os que sabem montar processos burocráticos e que se alimentam de um sistema que não tem dado resultados práticos para a produção cultural do Estado. O mesmo acontece com as artes plásticas, apenas para citar dois segmentos que se perderam nas gestões do Tempo Velho/Novo.

A mais grave herança do atual modelo de gestão é a política de segurança pública e de combate à violência. E esta pode ser a armadilha de Caiado daqui para frente. Ele que se prepare, pois a anomia social tornou-se uma realidade crescente dentre os goianos. Temos sinais de agudização deste cenário, através das decapitações e linchamentos, que ocorrem principalmente nas regiões metropolitanas de Goiânia e Distrito Federal. Se acreditar que a solução é apenas uma conversa com a Polícia Militar e uma nomeação na Polícia Civil, com certeza, estará prestes a dar continuidade a um cenário chocante: a disparada dos índices de criminalidade, que já interferem na qualidade de vida até mesmo de cidades sem homicídios.

Inúmeras vezes o antigo governador anunciou “forças-tarefas” que serviram para nada. Nós, que pesquisamos o tema nas universidades e fóruns de discussão e apresentação de pesquisas científicas, encarávamos as ações como amadoras, ‘naifs’ e primitivas. O resultado é este: o Tempo Novo protagoniza uma escalada da violência nunca antes vista no Centro-oeste. O amadorismo desta era será representado por aquela imagem de um secretário da pasta que aparece na chuva com um PM. A semiótica não consegue oferecer subsídios para entender a polissemia da imagem: honra? Glória por trabalhar na chuva? Coragem por cumprimentar um policial durante um vendaval? O que seria isso?

É por isto que Caiado precisa realmente encarnar a mudança daqui para frente. Declaro abertamente meu voto ao seu projeto de transformação, tendo em vista que voto é esperança, jamais consentimento. Acreditamos que chegou a hora de transformar o Estado, para que ele sirva de ‘norte’ ao Brasil. Caiado tende a ser um dos mais experientes agentes políticos a partir de 2019 em atuação no Brasil. Acreditamos em sua trajetória e, como sociedade civil, sabemos que estamos todos juntos no mesmo barco.

Welliton Carlos. Doutor em Sociologia, mestre em Comunicação, mestre em Direito Agrário pela Universidade Federal de Goiás (UFG), jornalista, advogado e professor universitário

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Alan Ribeiro
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