Memorial a Meire Estrela – cala-se a voz de Ipameri

Há vozes que não se calam — mesmo quando o silêncio tenta dominar o palco.
A dela era assim: rouca, firme, carregada de histórias e sentimentos.
Cantava como quem liberta um segredo antigo, desses que moram no peito e só encontram sossego quando viram canção.

Diziam que era boêmia das noites, dessas que o tempo respeita.
Entre uma taça e um riso, falava da vida com a leveza de quem aprendeu que a dor também pode virar música.
E quando subia ao microfone, Ipameri parava para ouvir.
Porque aquela voz… ah, aquela voz!
Era mistura de estrada e saudade, de amor vivido e poesia guardada.

“Gaivota que voa longe, voa tão alto…” — ela mesma dizia, rindo de canto, sabendo que não nasceu pra pousar.
O palco era seu ninho, e cada nota, um voo.

Foi mãe, avó, mulher de presença.
Dona de uma musicalidade que vinha de dentro, sem pressa, sem medo.
Simpática, generosa, dessas que abraçam com o olhar e fazem a gente acreditar que a vida tem trilha sonora.

E eu — que tive o privilégio de chamá-la de amiga — guardo comigo a lembrança viva de nossas conversas, risadas e confidências.
Nossa amizade era daquelas que o tempo não apaga: sincera, cúmplice, tecida de afeto e admiração.
Vi de perto sua coragem diante das tempestades e sua doçura nas calmarias.
Com ela aprendi que ser artista é muito mais que cantar — é deixar pegadas no coração das pessoas.
E a dela, meu Deus, quantas deixou.

Hoje, Ipameri sente falta do eco de sua voz rouca nos botecos, nas praças, nas festas, nas madrugadas.
Mas quem a ouviu, sabe:
ela não se foi — apenas aprendeu a cantar de outro jeito.
Lá do alto.

Como uma gaivota que voa tão longe,
tão alto,
que o céu inteiro a aplaude.

Voa, minha querida e eterna amiga,
Teu canto agora mora entre as estrelas — e a saudade, entre nós.

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Alan Ribeiro
Alan Ribeiro

Alan inicia seus trabalhos com o único objetivo, trazer a todos informação de qualidade, com opinião de pessoas da mais alta competência em suas áreas de atuação.

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