Existem pessoas que amam a vida e parecem ter o condão de alimentar sonhos e estimular quem se lhes aproxime a uma existência vibrante e cheia de esperança.
Exemplos são muitos. É possível que alguns de nós possamos recordar, nos anos vividos, de alguém que nos ajudou a crescer, a superar obstáculos, a procurar nosso lugar ao sol.
Diva Guimarães, quase aos oitenta anos, recorda com lucidez e gratidão, de algumas dessas.
Como da educadora que lhe arrumava sapatos forrados com jornal. Deixava-os na varanda da casa para que ela os apanhasse, a caminho da escola.
De família pobre, doze irmãos, uma mãe que lavava roupa para as famílias abastadas, aqueles sapatos eram muito importantes para Diva. Mas, houve outras.
Como dona Deni que, além de lhe oferecer o ombro para as horas ruins, alimentou seu gosto pela literatura.
Ela lhe apresentou Monteiro Lobato, José Lins de Vasconcelos e por aí afora.
Também aquele professor que, vendo-a lançar dardos numa oficina de atletismo, a aconselhou a prestar vestibular para Educação Física.
Diva era normalista formada, e tinha um emprego. Decidida, deixou o Eldorado cafeeiro do norte do Paraná e foi para a capital.
Com extraordinária vontade, conseguiu uma vaga na Casa da Estudante Universitária, fez amigas e saiu dali para uma carreira de quase trinta anos em duas escolas locais.
Talvez por recordar a generosidade de outros corações, talvez porque isso já fizesse parte de sua personalidade, ou talvez porque tivesse aprendido com sua mãe, sempre a postos para auxiliar o próximo, fez a diferença por onde transitou.
Auxiliou na formação de quinze sobrinhos e muitos dos seus alunos recordam as dádivas recebidas de suas mãos. Quem pode esquecer a maravilha de um agasalho para os gélidos dias de inverno curitibano?
Recentemente, numa festa literária, Diva se levantou para falar de si, de sua infância, de sua mãe.
A fala foi filmada, caiu na rede e viralizou. Desde então, ex-alunos começaram a lhe escrever. Alguns simplesmente para expressar gratidão.
Outros, para afirmar sobre como ela lhes influenciou as vidas.
Jornais, emissoras de televisão e rádio – todos desejam entrevistar Diva. Também convites para palestrar em feiras de livros Brasil afora.
Quanto a dar por quem se sente grata pelo tanto que recebeu da vida! Um exemplo de força. Um exemplo de quem aproveitou todas as mínimas chances que lhe foram oferecidas.
Ouvindo histórias como esta, é bom que nos analisemos e respondamos a nós mesmos: Somos dessas pessoas pessimistas que acham que esforço não vale a pena?
Que quem não nasce em berço de ouro não tem chance de crescer neste mundo de tantas desigualdades?
Ou somos daqueles que amam a vida e desejam que outros cresçam, mostrem seu valor, façam a grande diferença em sua comunidade, em sua cidade, em seu país?
Se nos descobrirmos pertencentes ao primeiro grupo, ergamo-nos hoje para incentivar o talento de alguém, a força de vontade de outro.
Lembremos: hoje é o tempo de mudar para melhor. Hoje é o tempo de fazermos o melhor.
Com base no artigo Dias de Diva, de José Carlos Fernandes, publicado no Jornal Gazeta do Povo.