A dor invisível no campo: um grito por socorro que ecoa do Brasil inteiro

O número de suicídios entre produtores rurais no Brasil é o dobro da média nacional. Enquanto cerca de 15% da população brasileira apresenta sinais de depressão, entre os trabalhadores rurais esse índice salta para alarmantes 36%. Um levantamento de 2022 mostrou que 45% dos produtores estavam endividados — e isso foi antes dos recentes eventos climáticos extremos, das crises no mercado e da escalada nos custos de produção.

Em pleno 2025, essa realidade só se agravou.

Do sertão nordestino ao centro-oeste agrícola, do sul produtor ao norte extrativista, o campo brasileiro enfrenta uma batalha silenciosa. Uma batalha que não se vê nas prateleiras abastecidas dos supermercados, mas que pesa no peito de quem levanta todos os dias antes do sol para garantir o alimento de milhões.

O produtor rural brasileiro é a base da nossa economia e da nossa segurança alimentar. Mas também é quem mais sente na pele a falta de previsibilidade, de apoio e de empatia. Ele investe milhões, deposita esperança em cada semente, mas lida com incertezas cruéis: secas prolongadas, enchentes destruidoras, geadas fora de época, pragas e doenças que devastam lavouras inteiras.

E mesmo quando o clima colabora, há outro fator implacável: o mercado. O produtor não sabe quanto vai colher, nem quanto vai receber. Ele aposta tudo — tempo, dinheiro, energia, sonhos — em um jogo onde as regras mudam o tempo todo.

Diante desse cenário de instabilidade climática e econômica, o mínimo que se espera são políticas públicas sólidas, eficazes e ágeis. Mas o que muitos produtores encontram é o oposto: linhas de crédito escassas, seguros agrícolas limitados, burocracia sem fim e um sistema que muitas vezes parece desenhado para excluir quem mais precisa.

A consequência é devastadora. O endividamento vira uma bola de neve. O sono desaparece. A saúde mental entra em colapso. Casos de depressão se multiplicam. E tragicamente, o suicídio se torna uma triste realidade no campo — o reflexo desesperador de quem vê anos de trabalho e sacrifício desmoronarem por fatores que fogem ao seu controle.

Essa tragédia não é causada por falta de coragem, nem por má gestão. É causada por falta de condições justas. Por um sistema que exige, mas não apoia. Que cobra, mas não compreende. Que vê o produtor rural como um número e não como um ser humano.

A securitização das dívidas, nesse contexto, não pode ser apenas um ato burocrático. Precisa ser uma ferramenta de justiça. Uma medida concreta para reconhecer perdas, dar fôlego e permitir o recomeço. Um olhar mais humano e comprometido com quem está no coração do país, garantindo que o Brasil tenha o que comer.

Chegou a hora de estender a mão para os nossos produtores rurais. De enxergá-los como heróis anônimos que, mesmo diante das maiores dificuldades, continuam plantando o futuro do nosso país.

Porque até agora, eles têm pagado tudo isso com a própria vida.

Alan Ribeiro – Jornalista e Blogueiro

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