
Lá vai o homem descendo o rio caudaloso. Nenhum esforço faz para seguir à frente. As águas o levam no influxo impetuoso, poupando-o das pedras e outros obstáculos. Com facilidade, ele avança sempre, impelido rapidamente pelo bojo da massa líquida. Força, situação e movimento a seu favor. Nada lhe é contrário.
No entanto, outro homem vai subindo o rio. Em luta constante, movimenta os braços. Bate os pés. Respira fundo. Desgasta-se agoniado. Esforça-se para não afundar. Fadiga-se para sobreviver. E avança contra o impulso das águas e os obstáculos. Com dificuldade, ele nada, nada sempre, varando, pouco a pouco, a torrente poderosa.
Esta é a vida do homem na Terra. Descer a favor da corrente do mundo é sempre fácil. É só deixar-se levar. Acumpliciando-se sistematicamente com as ações da maioria. Jamais se dispondo contra o erro, o equívoco. Só dizendo sim para tudo e para todos. Seguindo despreocupadamente, sem o exame dos próprios atos. Mas, subir contra a corrente do mundo, é mais difícil. É preciso valor para enfrentar a adversidade. É necessário paciência para fugir aos erros de tradição. É indispensável ser forte para tornar-se exceção no esforço maior.
Para aproveitarmos bem a oportunidade da vida, para que alcancemos nosso progresso, a alma roga a porta estreita das dificuldades, como oportunidade gloriosa de evoluir. Reconhece a necessidade do sofrimento purificador. Anseia pelo sacrifício que redime. Exalta o obstáculo que ensina. Compreende a dificuldade que enriquece a mente e não pede outra coisa que não seja a lição, nem espera senão a luz do entendimento que a elevará nos caminhos infinitos da vida. E, graças a Misericórdia Divina, obtém oportunidade de viver, em que mergulha para o serviço de retificação e aperfeiçoamento. Porém na oportunidade da existência terrestre, procura as portas largas por onde transitam as multidões. Fugindo das dificuldades, empenha-se no menor esforço. Temendo o sacrifício, exige a vantagem pessoal. Longe de servir aos semelhantes, reclama os serviços dos outros para si. Lembremo-nos de que, como cristãos, em muitas ocasiões devemos estar contra a corrente dos preconceitos e prejuízos das convenções.
E que, conforme ensinou o Cristo, devemos nos esforçar por entrar pela porta estreita, a porta que dará acesso à felicidade almejada por todos nós. O caminho normal é viver com todos. No entanto, vez por outra é imperioso nadar em sentido contrário…
Com base no cap. 39, do livro Bem-aventurados os simples, de Waldo Vieira e no cap. 20, do livro Vinha de luz, de Emmanuel e Francisco Cândido Xavier.