
Demóstenes Torres
O poeta Carlos Drummond de Andrade morreu de amor pela filha, Maria Julieta, levada pelo câncer aos 59 anos, em 5 de agosto de 1987. O poeta aguentou apenas 12 dias. Oficialmente, a causa mortis foi infarto agudo do miocárdio; na verdade, sua cardiologista Elizabete Freitas diagnosticou com a frase que começa este artigo, “Carlos Drummond de Andrade morreu de amor”. Tinha 84 anos.
Drummond não viu o Plano Real, o futebol tetra e penta ou a estabilidade econômica, porém ficou livre da chegada do PT ao governo federal, do aparelhamento das universidades e do mau uso da máquina pública, à qual serviu com brilho e dedicação. Na idade em que partiu, hoje há velhinhos morrendo de fome e em consequência da corrupção.
Em minha 1ª temporada no Senado, 2003, fui relator do Estatuto do Idoso, que em 2022 a onda woke rebatizou de Estatuto da Pessoa Idosa, pois os lacradores não sabem que o idoso é uma… pessoa idosa. Craques em renominar palavras, os lulistas se mostram mais ases ainda em afanar o pouco que o pobre tem. Distribuem com a direita e tomam com a esquerda. As apurações iniciais estimam entre R$ 6,3 bilhões e R$ 9 bilhões o que os apadrinhados de Lu(la)pi tungaram de 97,6% dos aposentados que não autorizaram o desconto em seu depósito mensal, segundo pesquisa da Controladoria-Geral da União.
A gigantesca organização criminosa é formada por siglas, AAPB, AAPEN/ABSP, AAPPS Universo, ABCB, Ambec, APDAP Prev, CAAP, Conafer, Contag, Sindnapi/FS, Unaspub, e o uso indevido de dois verbos maravilhosos: os monstros registraram Amar e Acolher. Esse emaranhado de letras se resume a duas, PT, e o verbo é gatunar, que dá mais verba que o gatonet imposto a comunidades por seus braços faccionados. É um assalto em dobro, pois essas entidades deveriam proteger seus integrantes, não subtrair-lhes os pertences.
Numa conta simples, em números arredondados, os malfeitores assim-assim com o INSS conseguem arrebatar R$ 875 milhões num mês, considerando-se 25 milhões de aposentados (são 34,2 milhões na Previdência) e R$ 35 em cada furto (a média entre os R$ 20 e R$ 50 da “contribuição sindical”). Uma nota de R$ 100 tem 1 milímetro de largura. O potencial para descontar dos velhinhos neste mês soma 8 milhões e 750 mil cédulas. Portanto, os vilões do Seguro Social, em conluio com auxiliares do 1º escalão, finalizam abril com uma montanha de notas de R$ 100 quase da altura do Everest (8.750m a 8.849m). Basta investigar.
Em 2024, Lula gastou mais com viagens (R$ 3,58 bilhões) que com a Farmácia Popular (R$ 3,4 bi). O idoso chega à drogaria às 7 da manhã e espera na fila a hora de abrir para ver se tem insulina. Nada. E o comprimido tal? Em falta. E meu tarja preta? Acabou. E pra minha doença crônica? A última caixa saiu na semana passada. Farmácia Popular? Pode pular fora. A vítima tem duas opções: compra o medicamento com o dinheiro da aposentadoria ou morre. Se os arrombadores tiverem arrancado os últimos tostões, só lhe restará a 2ª alternativa.
É tão desumano pegar dos aposentados quase 1 Everest de notas de 100 que o governo e seus aliados fizeram tudo para impedir a força da informação mais monstruosa já tolerada pelo Brasil. Para despistar, foram em visita beija-flor ao funeral de Francisco, mudaram a cor da camisa da Seleção Brasileira, provocaram rompimento de Comando Vermelho e PCC. No tempo de Drummond, casado com Dolores há 100 anos (30.mai.1925), renderia algo como “A bomba”, que “saboreia a morte com marshmallow”. No caso, os bandidos amigos do INSS (e do alheio) saboreiam a morte com Ferrari, Porsche, joias ultravaliosas, obras de arte e moeda estrangeira.
Podem dizer que advogo em causa própria, já que passei do mínimo (60 anos) que colocamos no estatuto para ser considerado idoso. Todavia, quem diz que o governo considera o idoso? Considera-o máquina de arrecadação da companheirada de sindicatos e associações. É impossível contabilizar os assassinatos provocados por esses ladrões de aposentadorias. Pra eles, sim, anistia não. Eles matam, sim. Matam diretamente com a falta de remédios e alimentos. Matam tirando o trocado de o velhinho pagar o Uber rumo à farmácia e ao pronto-socorro, os dois endereços que os idosos frequentam enquanto seus algozes vão a ilhas no Pacífico e paraísos fiscais.
Carlos Drummond de Andrade não morreu de ataque cardíaco, mas de amor. E o Brasil está vivendo de ódio dos que roubam de quem deu a vida para construir este estado de coisas.