O escritor, jornalista e comentarista da Globo News, Octávio Guedes, explica o surgimento do estado narcopentecostal, que, segundo ele, mistura religião com tráfico de drogas no Rio de Janeiro. O jornalista informa que essa combinação se baseia em elementos do Velho Testamento e do crime, tendo início na Ilha do Governador.
Ele relata que o tráfico na região era comandado por um traficante e ex-paraquedista do Exército, conhecido como Marcelo PQD. Certa vez, um garoto que era soldado do tráfico assistiu a um jogo enquanto fumava maconha. No entanto, PQD não tolerava que os integrantes de sua equipe usassem drogas. Como castigo, ele ordenou que as calças do garoto fossem arriadas, deixando-o nu como forma de humilhação diante de todos.
Nesse momento, um pastor de uma igreja evangélica passou e percebeu a situação do garoto. Ele tirou seu terno para cobrir Fernandinho Guarabu e o levou para a igreja, dizendo uma frase bíblica que marcaria a vida do menino: “Os humilhados serão exaltados.” A partir daí, Fernandinho começou a frequentar a igreja.
Entretanto, mesmo frequentando a igreja, Fernandinho não abandonou a vida do crime e continuou trabalhando para Marcelo PQD. Logo, ele mandou tatuar em seu corpo a frase dita pelo pastor.
Certo dia, PQD foi preso pela polícia, e Fernandinho tomou o controle da favela, passando a comandar o tráfico na região. Ele impôs a religião da igreja que o acolheu e expulsou todas as outras religiões, como Umbanda, Candomblé e outras.
Com um desejo de vingança, Fernandinho se aliou ao então policial militar Adriano da Nóbrega, que tinha funcionários no gabinete do senador Flávio Bolsonaro. A partir daí, Adriano começou a ajudar Fernandinho em seu plano de vingança contra Marcelo PQD.
Octávio Guedes enfatiza que, a partir desse momento, Fernandinho passou a ter a proteção da polícia. Ele fez um acordo com Adriano da Nóbrega para prender novamente PQD assim que ele deixasse a prisão, o que realmente aconteceu. No dia da prisão, PQD saiu da casa onde estava, apenas de cueca, com a imprensa registrando tudo. Assim, Fernandinho Guarabu realizou sua vingança com a ajuda da polícia militar. Essa história está registrada no livro Anjo Decaído, de Sérgio Ramalho.