O perigo maior oferecido por malucos no poder

Demóstenes Torres

Há quem considere bizarrice o que o ditador da Coreia do Norte supõe ser demonstração de força. A cada vez que Kim Jong-un rosna para o vizinho do Sul ou experimenta seu arsenal nos mares que cercam a península, encara-se como mais uma maluquice. Não. Loucura é uma patologia. O que ditadores como o norte-coreano fazem tem a ver com o fim do mundo. E não é da maneira prevista por Nostradamus, astrólogos ou memes na internet.

Calcula-se que Kim tenha bombas seis vezes mais potentes que a despejada sobre Hiroshima para evitar a continuidade da 2ª Guerra apenas pela fé dos japoneses de que seu imperador era divino. A Coreia do Norte tem 60 delas, além de mísseis com alcance de 13 mil quilômetros, quase duas vezes a distância de Pyongyang a Nova York ou o suficiente para chegarem à América do Sul. E a gente aqui fingindo que o baixureco de penteado ridículo é apenas um monstro da Pixar/Disney.

Assim, brincando com coisa séria, o planeta assiste pelo terceiro ano seguido ao conflito ocasionado pela invasão da Rússia à Ucrânia, uma potência militar medindo-se com a régua da Otan. Todos conhecem esse filme: a Humanidade morre no final. Após a Guerra Fria, entre os grupos de União Soviética (que antes da fragmentação tinha 40 mil imensos artefatos nucleares) e Estados Unidos (que ainda conservam mais de 30 mil ogivas), a possibilidade de armagedon é plausível. Maior fatia do que sobrou na URSS, a Rússia ainda possui quase 6 mil bombas nucleares, uma delas fincada na cadeira principal.

Vladimir Putin, o czar da Rússia, tem de poder o que Kim tem de pose. Sua ascensão é assistida passivamente pela Otan – Organização do Tratado do Atlântico Norte desde o réveillon de 2000. Acaba de ser reeleito beirando 90% dos votos para mandato que vai atravessar os anos 30 deste século. Seus adversários são assassinados de formas inimagináveis e o mundo os enterra na cova da impunidade. E, sim, Putin e Jong-un são aliados.

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Como diz a velha anedota do sujeito que quando acordou estava morto, os líderes globais dormem o sono dos injustos. Joe Biden é o presidente norte-americano mais desassistido em termos de força. Em bom português, um cabra raquítico no proceder. Melhores dias teve Tio Sam com o caubói Ronald Reagan e até os preenchedores de polos, o democrata Barack Obama e o republicano Donald Trump. Alemanha, França, Itália e Reino Unido se tornaram um Saara em termos de liderança. Ásia chegou ao 3º milênio na economia, porém patina na Era das Cavernas dos gestores públicos. Nas Américas só se salvava o Norte; agora, nem ele. O restante, Oceania e Antártida, vai afundar antes por questões climáticas.

O pipocar de perfis, canais e páginas virtuais fez com que o gênio alemão Albert Einstein aparecesse como autor de mais frases que a lei da relatividade poderia suportar. Uma delas é lapidar para o tema:

Não sei como será a guerra mundialmas sei como será a 4ª, com pedras e paus”.

Pela quantidade de doidivanas com estoque de bombas arrasa-continente, não haverá a prosaica luta entre as infantarias. O próximo embate já seria o último. Mesmo que se amenize o número de ogivas nucleares, pois é impossível acreditar nos relatórios oficiais, os seres vivos não resistiriam. Game over para animais, plantas, ar respirável, água potável, chão fértil. Talvez sobrevivam os escorpiões, tão tranquilos atualmente quanto os mortais, como eles também andando de lado e soltando veneno.

Coreia do Norte, sempre ela, e Irã são os inimigos na vitrine. Existem outros territórios recheados de bombas cujas autoridades preferem as sombras? Nicarágua? Não, pobre demais. E os terroristas do Oriente Médio? Não, sem tecnologia. Precisamos acreditar em alguma debilidade incontornável dos homens, mesmo dos piores, para que a negação se revele provável.

O sueco Alfred Nobel criou o prêmio que leva seu nome por estar frustrado com o rumo da invenção que o tornou rico e famoso, a dinamite, usada para abrir estradas, todavia igualmente para explodir pessoas. Com esse precedente levado ao extremo, o americano Robert Oppenheimer, pai da bomba atômica, deveria ter deixado um planeta como alternativa para as vítimas de sua criação. O filme que batiza dominou o Oscar, epílogo perfeito para o the end que nem os grandes roteiristas hollywoodianos bolariam. O tapete vermelho pode nunca mais sediar os passos das estrelas, que agora seriam restritas ao céu. Basta que um irresponsável, como o são Putin e quejandos, saia do sério e resolva demonstrar que seu país é superior.

Já se diz que a situação atual é de uma gravidade inédita. Nem a crise dos mísseis, tensão entre EUA e URSS em outubro de 1962, teria chegado tão longe.

Tomara que a humanidade chegue mais longe. É o que resta, torcer. Não há, entre primeiros-ministros e presidentes das potências, nível de compreensão de seu papel histórico à altura de impedir uma decisão extrema de Estados Unidos, China, Rússia ou europeus. Não conseguem conter nem Irã e Coreia do Norte…

É uma digressão, eu sei. É o que posso fazer. O sentimento de impotência nos paralisa, como se estivéssemos anestesiados ante o inevitável na esperança de que alguém comece a ter juízo e evite o Juízo Final.

A gente fica discutindo o BBB24 , a fase decisiva dos campeonatos estaduais, as oscilações nas bolsas, enquanto os governantes brincam de deuses, quando são apenas homens como todos nós, com a diferença de que têm vocação para demônio. Deus não pode deixar que esses sujeitos destruam com um apertar de botão o que Ele fez em seus seis melhores dias.

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Alan Ribeiro
Alan Ribeiro

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