
Existem duas formas de tratar da questão relacionada à pobreza: uma é garantir programas sociais para que os mais de 60 milhões de brasileiros nessa condição tenham uma dignidade minima de sobrevivência.
Vivemos no Brasil de 2022 uma crise social crescente, com a fome marcando a vida das pessoas, e as ruas sendo “moradia” de crianças e adolescentes. Uma pobreza que mata sem piedade.
A outra e entender que pobreza não é destino, nem pode ser uma herança familiar. Não podemos continuar a lidar com miséria, pobreza ou indigência como se fossem algo normal, uma consequência normal da vida. Pobreza não é um cenário de normalidade. Pobreza deve ser considerada exceção, e nossa atuação deve ter inteligência social.
Essa segunda compreensão requer compromissos muito além de programas sociais. Romper o ciclo da pobreza exige do governante compromisso com o presente e responsabilidade com o futuro. No presente, agimos para garantir dignidade, mas olhando para um futuro de liberdade social.
Em Goiás, desde 2019, tomamos uma decisão: a escola pública é o principal investimento social, familiar, humano e comunitário do governo. Fazer uma escola pública eficiente que ensine e encoraje o aluno a construir o caminho da mudança dele e de sua familia foi, é e seguirá sendo nosso objetivo.
Nosso trabalho é mobilizar crianças, adolescentes, jovens e suas familias a acreditarem no poder insuperável que a escola pública tem sobre o futuro.
Muita gente escreve ou declara que a educação é fundamental, mas fazer do discurso a prática não é tarefa fácil. É preciso muito mais que jargões ou palavras de ordem.
Foi preciso elevar a credibilidade da escola pública e construir com pais, alunos, professores e trabalhadores da educação a convicção de que o caminho certo para mudar a vida é na escola pública. Sem atalhos e sem desvios.
Mas numa escola que ensine, motive e construa o caminho sólido para a superação da pobreza. Uma escola pública que garanta ao aluno as mesmas condições da escola privada. Não era mais possível que a escola pública fosse considerada um espaço que não ensina.
Para muitos, o investimento em educação pública de qualidade poderia ser usado em mais transferência de renda isolada. Para nós, a transferência de renda é complementar, e não protagonista no combate ao ciclo da pobreza.
Não se vencerá a pobreza apenas distribuindo cartões, mas sim distribuindo livros, cadernos, Notebooks e conhecimento.
Nunca comemorei nenhum número de novas famílias em programas sociais ou em um programas de transferência de renda. Tenho a responsabilidade de organizar esses programas que eu faço com respeito as famílias e com atualidade que todos merecem em momentos de desalento social.
Mas o que celebro com verdade é o resultado do Ideb. São alunos que inventam nos laboratórios de robótica ou nas feiras de ciência, que participam de Olimpíadas de matemática e português e trazem medalhas do peito, os que terminam ensino médio e entram na universidade.
A verdadeira superação da pobreza e a garantia da autonomia do cidadão, de sua independência. Não se supera pobreza só aumentando transferência do renda.
Supera-se pobreza aumentando o desejo de conhecer e aprender de cada criança e adolescente. Supera-se a pobreza construindo, na confiança com a escola, a qualidade da educação em todos os Municípios.
Amanhã a Copa do Mundo começa. Não existe jogo fácil.
Goiás começará seu segundo tempo no combate à pobreza e no fortalecimento da educação pública.
Para nós, não existe retranca nem bola parada. Só existe o gol. O gol se traduz em escolas equipadas, professores valorizados, alunos motivados, famílias engajadas e goleada na aprendizagem.
Nossa comemoração é diária, pois nossa responsabilidade nos impõe que a educação não sofra um gol sequer. E não vamos parar até que o ciclo da pobreza ceda para um tempo de mudanças sociais sustentáveis.
Nada contra transferência de renda que é organizada com foco em Goiás, Mas tudo para que a escola pública cumpra seu papel de transformar e mudar histórias e destinos.
Eu tenho certeza de que é possível.
Ronaldo Caiado – Governador de Goiás
(Artigo publicado pelo Jornal O Globo, edição deste sábado dia 19 de novembro de 2022)