
Lula da Silva e Bolsonaro: durante o debate
O que vai manter Bolsonaro no cargo não é seu palavreado. Lula é o argumento para Bolsonaro se reeleger.
Nilson Gomes
O Auxílio Brasil significou além de alimento na mesa de 100 milhões de pessoas. Isso o PT também fez, governadores distribuem, prefeitos idem, igrejas e centros espíritas ibidem, entidades sempre, na pandemia muito mais. O benefício aprovado graças às habilidades políticas do ministro da Casa Civil, senador Ciro Nogueira, e do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, é tido como o marco do ressurgimento do presidente Jair Bolsonaro para vencer novamente. É um equívoco de avaliação. Na verdade, as chances de Bolsonaro permanecer no cargo se transformaram em realidade quando o Supremo Tribunal Federal encontrou uma desculpa para anular as condenações de Lula, algumas por múltiplos colegiados e instâncias, com provas que lotariam uma biblioteca.
Quando tiraram Lula da cadeia e o pretenderam levá-lo sem escalas ao Palácio do Planalto, petistas e parte do STF esqueceram de combinar com o povo. Na campanha, o PT relembrou a bonança de crédito para as famosas viagens à Disney, o carro na garagem, o Minha Casa, Minha Vida. O próprio Lula repetiu insistentemente na picanha e na cervejinha. Nem foi preciso rebater que muita gente ainda deve as excursões, o veículo popular triplicou de preço, os 14 milhões de desempregados deixados pelo PT mal têm o do arroz com feijão, o banco tirou as famílias dos imóveis e tomou-lhes as residências.
O nome negativado prejudica as classes CDE de tal maneira que o mesmíssimo Lula enfiou em seu débil programa de governo 2023/2026 a renegociação dos débitos. Ou seja, joga a pessoa na lama depois lhe vende fiado uma toalha de limpar o rosto.
Pintura de Igor Morski
Para cada estômago saudoso do churrasco há milhões de fios de cabelo no ralo do banheiro derrubados pelas preocupações com as contas. Eis o que Lula evoca no campo da economia, boleto.
Moralidade pública, outra bandeira hasteada no edifício ideológico petista, esteve a meio mastro nos governos Lula/Dilma e foi tirada de vez ao eclodir o petrolão, maior esquema de corrupção do país em todos os tempos. Os antigos Roma, Egito, Sodoma e Gomorra são tudo éden diante do oceano de dinheiro retirado dos cofres da estatal por uma miríade de empreiteiras, banqueiros, doleiros, tesoureiros partidários. No comando da encrenca inteira, segundo o Ministério Público Federal, ele.
Bolsonaro cometeu infâmias, desatinos, machismo, racismo, apologia a drogas inúteis contra Covid como cloroquina, caricatura de pacientes etc. Um absurdo a cada abrir da boca. Movia as mandíbulas e tome perdigoto verbal capaz de dar torcicolo em ema. Aí, a Justiça inova, libera Lula e a verborragia do atual presidente se torna poema de amor ao ser comparada à figura que emerge do pântano estrelado.
Em vez de esconder Lula, o PT o coloca no centro do palco ao lado de tipos tão queridos quanto: Fernando Haddad, Paulo Mourão, Marconi Perillo, Aloisio Mercadante, Marcio França, Olívio Dutra… O troco veio nas urnas de 2 de outubro: com essas caras não são feitos santinhos, mas capetinhas.
O eleitor viu que, na engrenagem vermelha, o problema era de junta, juntou tudo e jogou fora. A ferida aberta não é a sigla, porque Bolsonaro trocou de partido trocentas vezes e se manteve vitorioso — a chaga é o integrante, individualmente. Em vez de trocá-los, um a um, o PT os reuniu, inscreveu como candidatos, catou outros sujos noutras agremiações e tentou empurrar o esgoto garganta abaixo. Em vez de voto, ganhou vômito.
A derrota de Lula no último domingo deste outubro dará ao PT o destino que a sucessão de escândalos não conseguiu, o buraco sem fundo da inutilidade, a estação à qual o PSDB acaba de se fundir. Sobrevive nas duas regiões mais carentes do País porque o Auxílio Brasil foi adiado, falha terrível do Ministério da Economia, mas com o desemprego sendo reduzido, os negócios substituindo as negociatas, meus conterrâneos do Norte-Nordeste terão quatro anos de matula cheia, panela cheirando no fogão, água correndo no Velho Chico e a reflexão que antecede o arrependimento: meu Deus, onde diabos eu tava com a cabeça que elegi Wellington Dias, Dino Sauro, Jaques Wagner, Fátima Bezerra…
Portanto, o que vai manter Bolsonaro no cargo não é seu palavreado, desafiar os demais poderes, xingar a imprensa. Descobriu uma Damares Alves, sim, mas com ela ao Senado vai Marcos Pontes, que também compôs a equipe, assim como Sergio Moro – 2 a 1 pro boquirroto. Lula é o argumento para Bolsonaro se reeleger.
NILSON GOMES É ADVOGADO E JORNALISTA. COLABORA COM O BLOG DO ALAN RIBEIRO – JORNALISMO DE VERDADE