Você se muda para uma bela casa num condomínio horizontal, com um gramado bonito, uma árvore ou jardim ornamentando sua fachada. Mas com um ano você resolve optar pela praticidade, derruba a árvore, acaba com o jardim, tira a grama e cimenta tudo. Essa mudança pode até ser prática no começo, mas não tem nada de sustentável e a longo prazo irá trazer muito mais dor de cabeça e trabalho para você e sua cidade.
Estamos falando da falta de permeabilidade do solo, um problema que cada vez mais afeta os grandes centros urbanos que reduzem drasticamente a cobertura vegetal e impermeabiliza o solo com asfalto e concreto, o que contribui para a ocorrência de enchentes e enxurradas nos períodos de chuva; e para a escassez de água e aumento excessivo de temperatura nos tempos de seca.
Mas o que o meu quintal cimentado tem a ver com as enchentes no período de chuvas e as ilhas de calor durante o tempo de seca? Quem explica é o arquiteto e urbanista Paulo Renato Alves. “A área permeável no terreno é responsável pelo processo de drenagem das águas das chuvas e o abastecimento dos lençóis freáticos. Quando essa água da chuva cai e não encontra um solo permeável para absorvê-la, ela não tem para onde ir, e acaba indo para o asfalto e virando enxurradas ou alagamentos”, esclarece.
Ele também explica que ter uma cobertura vegetal maior e mais árvores também ajuda no controle da velocidade com que essa água chega ao solo, já que as folhas irão aparar as gotas da chuva e essa corrente pluvial terá menos velocidade, evitando a ocorrência de enxurradas fortes que sobrecarregam e danificam as redes pluviais.
Também na época de seca, a falta de áreas permeáveis e com cobertura vegetal é um problema, pois agrava os efeitos típicos desse período, como calor, baixa umidade e escassez de água. “A maior parte da água que usamos vem dos lençóis freáticos, principalmente durante as épocas de estiagem, quando mais precisamos de água. Esses aquíferos subterrâneos alimentam as nascentes de rios e os poços artesianos que usamos”, salienta o urbanista.