Brasil envelhece sem aproveitar força de jovens para enriquecer, diz estudo

Quando a população envelhece, isso se inverte: há menos produção e mais consumo dessa poupança (Foto: reprodução/ Blog Saibalá)

 

Por quase 20 anos, o Brasil teve mais de 50 milhões de jovens entre 15 e 29 anos. Isso tinha de ter sido aproveitado para ajudar a enriquecer o país, com produtividade e inovação. Além disso, uma população mais jovem produz riqueza e não utiliza a previdência oficial. Quando a população envelhece, isso se inverte: há menos produção e mais consumo dessa poupança.

Agora a proporção de jovens já começou a cair, e o envelhecimento deve se acelerar. Segundo especialistas, o país não aproveitou esse “bônus demográfico” de jovens para impulsionar seu crescimento. Se governo e sociedade não agirem rapidamente, o risco é ter uma “geração perdida”. Os dados constam do Atlas das Juventudes, uma pesquisa coordenada pela rede Em Movimento e pelo Pacto das Juventudes pelos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável).

O que é o bônus demográfico

O Brasil viveu, nas últimas décadas, o fenômeno chamado de bônus demográfico: uma conjuntura de pirâmide etária “gorda”, em que o número de pessoas economicamente ativas (a parte central da figura) é superior ao de idosos (ponta) e crianças (base).

Essa fase já foi vivida por vários países, e é fruto da diminuição na taxa de fecundidade. É algo passageiro: com a redução do número de crianças e o aumento da expectativa de vida, a tendência é de que o topo da pirâmide vá ficando mais largo, com um número maior de idosos.

O aproveitamento do bônus demográfico pode trazer, além dos benefícios sociais, vantagens econômicas, como:

  • Geração de riqueza
  • Produtividade
  • Inovação

Cenário favorável ao crescimento vai mudar

Responsável por uma das etapas do Atlas, Marcelo Neri, pesquisador da FGV Social, explica que, hoje, o país tem cerca de 25% de jovens. Esse cenário vai mudar rapidamente: em 2060, o percentual deve cair para 15%. Segundo ele, este é um fenômeno global, mas que deve ocorrer de forma mais acelerada no Brasil do que no restante do mundo.

“O Brasil viveu uma onda jovem de longa duração, entre 2002 e 2021. Neste ano, o número de jovens deve ficar abaixo de 50 milhões pela primeira vez. Vai ser uma queda acelerada [no número de jovens], e esse bônus vai virar um ônus. O vento que soprava a favor do crescimento vai começar a soprar contra”, destaca Marcelo.

No Atlas das Juventudes, o diagnóstico é de que a oportunidade para o país aproveitar essa conjuntura acaba em 2025.

País ainda não aproveitou bônus

Mariana Resegue, secretária executiva do Em Movimento e coordenadora do Atlas das Juventudes, afirma que o país ainda não colheu frutos do bônus demográfico porque não incluiu os jovens. Segundo ela, garantir direitos a essas pessoas é uma forma de gerar riqueza e inovação para o país todo.

“Há uma potência em um processo como esse, uma alavanca de desenvolvimento. É muito mais gente produzindo do que recebendo o bônus do trabalho [a aposentadoria]. Se a gente tiver uma estrutura econômica capaz de receber essas pessoas, com trabalho digno e sustentável, há reflexos positivos não só na renda destes jovens como no PIB [Produto Interno Bruto]”. pontua Mariana.

Dá para reverter?

Carolina Utimura, CEO da Eureca (empresa que trabalha com programas de estágio e trainees), afirma que a oportunidade não está perdida – ainda. Segundo ela, o país tem poucos anos para “trabalhar de forma consistente”, implementando novas políticas focadas nas juventudes e dando continuidade às que já existem, como o programa jovem aprendiz.

“Essa porta estava muito escancarada, e está cada vez mais virando uma fresta. Países que foram muito bem [nessa transição], como Singapura e Japão, investiram muito em educação profissionalizante, incentivando aulas dentro das empresas e vagas que eram portas de entrada [para o mercado de trabalho]’, reforça Carolina.

Marcus Barão, coordenador-geral do Atlas e presidente do Conselho Nacional da Juventude, lista quatro aspectos que precisam ser centro dos esforços “com urgência”:

  • Investimento em massa em educação;
  • Aumento da inclusão produtiva, com geração de empregos;
  • Atenção à saúde mental dos jovens;
  • Garantia de políticas públicas voltadas às juventudes, a exemplo do Estatuto da Juventude, que estabelece direitos para a população dessa faixa etária

Segundo Daniela Saraiva Santos, líder do programa Goyn SP (Global Opportunity Youth Network São Paulo), não adianta pensar que todos os jovens brasileiros são iguais.

“As políticas públicas precisam ter esse olhar mais específico. O jovem da zona rural não é o mesmo da cidade, por exemplo. É necessário trazer os jovens para a construção dessas políticas e entender as necessidades deles”, disse Daniela.

Pandemia agrava problemas

A Covid-19 tornou o cenário ainda mais complicado e urgente. Rosalina Soares, assessora de pesquisa e avaliação da Fundação Roberto Marinho, diz que, antes da pandemia, um estudo feito pela Fundação com o Insper já apontava que 560 mil jovens que tinham 16 anos em 2018 não teriam o Ensino Médio concluído aos 25 anos. A pesquisa estimou que a evasão custaria R$ 220 bilhões por ano ao país.

“O jovem que não conclui o ensino médio perde tempo de vida e renda. A educação básica é um direito e, quando esse direito não é garantido, há consequências para o jovem e para o país. A pandemia pode aumentar ainda mais esse problema. Mais do que nunca é importante pensar em estratégias para apoiar esses jovens a continuarem os estudos”, finaliza Rosalina.

Fonte: Folhapress

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Alan Ribeiro
Alan Ribeiro

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