O arrebatamento à luz da História E das Escrituras: O Evangelho do Reino e a esperança Bíblica

BOM DOMINGO!

Josimar Salum

Ao longo da história cristã, diferentes leituras escatológicas foram sendo formuladas em resposta a contextos culturais, crises sociais e movimentos religiosos específicos. Nem todas essas leituras, porém, procedem diretamente do texto bíblico ou refletem a fé transmitida por Jesus e pelos apóstolos. Por isso, ao tratar do chamado “arrebatamento” e da ideia de pessoas sendo “deixadas para trás”, é necessário distinguir com cuidado entre o testemunho das Escrituras e construções doutrinárias posteriores.

Este panorama não tem como objetivo polemizar ou desqualificar irmãos na fé, mas oferecer clareza à luz do Evangelho do Reino, mantendo a Escritura como autoridade final e rejeitando sistemas que lhe são impostos de fora.

Séculos I–XVIII — Inexistência da doutrina

Durante os primeiros dezoito séculos da história cristã, não há qualquer registro de uma doutrina de arrebatamento secreto, de duas fases da vinda de Cristo ou da retirada da Igreja antes de um período de tribulação.

Os escritos apostólicos, os pais da Igreja, os credos históricos e as confissões da Reforma apresentam de forma coerente a esperança cristã centrada na vinda manifesta de Jesus, na ressurreição dos mortos, no juízo e na restauração final.

A linguagem de cristãos “deixados para trás” simplesmente não existe nesse período, o que indica que tal ensino não fazia parte da fé apostólica recebida e transmitida.

1820–1830 — Escócia: contexto carismático e apocalíptico

No início do século XIX, em reuniões de caráter profético na Escócia, associadas ao movimento de Edward Irving, surgem manifestações carismáticas e declarações sobre o fim dos tempos.

É nesse ambiente que aparece, pela primeira vez, a noção de uma vinda invisível de Cristo e de uma retirada prévia dos santos.

Essas ideias não nascem de uma exegese direta do texto bíblico, mas de experiências subjetivas e leituras especulativas, que posteriormente seriam organizadas em forma de doutrina.

1830–1840 — Inglaterra: sistematização doutrinária

Nesse contexto, John Nelson Darby sistematiza essas ideias dentro do dispensacionalismo. Ele divide a história em dispensações, separa rigidamente Israel e a Igreja e introduz a noção de um arrebatamento secreto pré-tribulacional, com duas fases distintas da vinda de Cristo.

A partir desse momento, o arrebatamentismo passa a existir como doutrina formal, algo inexistente na tradição cristã anterior.

1860–1900 — Difusão nos Estados Unidos

Na segunda metade do século XIX, essas ideias se espalham nos Estados Unidos por meio de conferências proféticas e seminários.

O marco decisivo ocorre com a publicação da Bíblia de Referência Scofield, em 1909.

Embora o texto bíblico não tenha sido alterado, as notas interpretativas dispensacionalistas passaram a moldar a leitura das Escrituras, levando muitos a confundir comentários teológicos com o próprio texto inspirado.

1950–1970 — Popularização em massa

No contexto da Guerra Fria, do medo nuclear e das tensões geopolíticas, o arrebatamentismo ganha ampla projeção.

A escatologia passa a ser apresentada como um escape iminente, relacionando eventos contemporâneos a profecias bíblicas.

Nesse processo, a esperança apostólica de perseverança, ressurreição e manifestação do Reino muitas vezes é substituída por um discurso alarmista e ansioso.

1990–2000 — Cultura popular cristã

No final do século XX, livros e filmes popularizam a linguagem de “ficar para trás”, associando-a a desaparecimentos repentinos, caos global e medo escatológico.

Essa narrativa se consolida no imaginário cristão popular, embora não encontre respaldo direto nas Escrituras, refletindo antes uma construção teológica moderna amplificada pela ficção.

À luz das Escrituras e do Evangelho do Reino, a Bíblia ensina que Jesus reina agora como Senhor e que Ele vem de forma manifesta, com poder e glória.

O Novo Testamento afirma que toda autoridade lhe foi dada e que o seu reinado já está em exercício, caminhando para a sua plena manifestação.

A Bíblia ensina que a vinda de Jesus inclui a ressurreição dos mortos, a transformação dos vivos e a reunião dos santos com Ele, conforme o testemunho apostólico.

Esses elementos não são apresentados como eventos separados ou independentes, mas como partes inseparáveis da consumação do propósito de Deus em Cristo.

As Escrituras não ensinam um arrebatamento secreto, separado ou anterior à vinda de Jesus, nem apresentam dois programas paralelos de Deus para dois povos distintos.

Essa divisão não procede do texto bíblico, mas de sistemas teológicos desenvolvidos posteriormente.

Biblicamente, textos como Primeira Epístola aos Tessalonicenses 4 descrevem a vinda do Senhor, a ressurreição e a reunião dos santos como um único evento, apresentado como consolo e esperança para a Igreja, e não como um esquema escatológico complexo.

A Escritura não ensina uma retirada secreta da Igreja nem a ideia de pessoas “deixadas para trás”. Essa linguagem surge de leituras históricas posteriores, não do texto inspirado.

Portanto, ao considerar tanto o testemunho bíblico quanto a análise histórica, torna-se evidente que o arrebatamentismo é uma construção recente.

A Bíblia ensina que Jesus vem, os mortos ressuscitam, os vivos são transformados e o Reino de Deus é plenamente manifestado, até que o último inimigo, a morte, seja destruído e Deus seja tudo em todos. Essa é a esperança apostólica anunciada nas Escrituras.

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Alan Ribeiro
Alan Ribeiro

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