
Daniel lidera levantamentos e seus principais adversários, Marconi e Wilder, adotam estratégia diferente, ainda não evidenciada em suas aparições públicas
Nilson Gomes-Carneiro
Básico do básico em pré-campanha: animar a militância, por menor que seja. O sujeito já está ganhando exatamente nada, sabe nem se a candidatura vai se firmar, então, o mínimo que o líder pode fazer é espantar a tristeza. Pode ter sido o que o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) fez para animar quem escolheu para sucessão, seu vice Daniel Vilela (MDB). Porém, nada levantou tanto o astral da turma quanto as últimas levas de pesquisas. Têm sido favoráveis a Daniel Vilela e seus adversários não contestam nem mostras as que os favorecem.
Pesquisa é assim: todo mundo xinga, todo mundo diz que a dos outros é falsa, todo mundo fala em malandragem, mas ninguém resiste em vê-la. Os dedicados até as analisam. Aqui não serão citados institutos, porque uns mais, outros menos, são achincalhados até sem divulgar nada, quando colocam uma pesquisa na mídia é um pandemônio.
Foi o que ocorreu em novembro com os governadoriáveis Daniel, Marconi Perillo (PSDB), Wilder Morais (PL) e Adriana Accorsi (PT). Cada qual a seu modo, estão mostrando a cara e a coragem. Pesquisas, não.
POLÍTICO GOSTA DE PESQUISA
O HOJE conversa diariamente com diversos senadores, secretários, prefeitos, deputados estaduais, distritais e federais. Eventualmente, esse e aquele governadores, atuais ou ex. É incrível como, de forma coletiva e individual, as pesquisas mexem com o entusiasmo dos políticos. Os auxiliares seguem um padrão: após lerem os dados, fazem as edições e espalham nos grupos de WhatsApp e Telegram, nos perfis falsos e verdadeiros de Instagram, TikTok, Facebook e os vídeos que gravam postam também no YouTube. Wilder, Marconi e Adriana não têm aparecido com esse material. Significa que não têm outros números. Trabalha-se com o que se tem. E tome Daniel à frente.
Há evidentes exageros, com alguns institutos tentando agradar a quem julga ser o favorito ou contra alguém de quem queira se vingar por uma proposta que não prosperou, um faturamento ainda em aberto, essas vicissitudes que o dinheiro sempre faz e que só o dinheiro desfaz. No geral, é assim desde sempre. Não se está querendo dizer que seja o certo, mas… trabalha-se com o que se tem. E o que se tem no momento é a máquina da base aliado do governo passando azeite nas engrenagens.
MARCONI COMEÇOU MUITO BEM…
Até outubro, o balanço era favorável a Marconi Perillo, considerado morto e enterrado por alguns, que de repente, não mais que de repente, como no soneto de Vinicius de Moraes, levantou-se e está aí a assustar quem o destratou. A questão é que juntar gente ficou difícil para ele, agora sem cargo para distribuir, sem prefeito por perto, no máximo os ex, inclusive os representativos Itamar Leão (Sanclerlândia) e Hélio de Sousa (Goianésia).
Deu a impressão de que com o lançamento da campanha, com bela e grande festa na Assembleia Legislativa, iria deslanchar. Setembro acabou, outubro já se foi, novembro bye bye, dezembro entra na quinzena final e as mesmas reuniões minúsculas se repetem a cada agenda. Ninguém diz que é fácil ser oposição.
… E WILDER MELHOR AINDA
Ocorreu parecido com Wilder. Sua festa de aniversário (é no dia de São Pedro, 29 de junho, mas teve de visitar Jair Bolsonaro e a adiou para o início de julho) manteve a tradição de ser imensa. Tinha político de tudo quanto era partido, de tudo quanto era município, de tudo quanto era jeito. Apareceram 6 mil convidados, 8 mil, de acordo com os organizadores. Como a de Marconi, também não se repetiu.
Mesma coisa com o PT. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo sem palanque, teve 41,29% dos votos de Goiás no 2º turno de 2022. Veio algumas vezes, agitou a esquerda, mas quando ele sobe no avião a companheirada dificilmente mantém o ritmo.
Foi aí que Daniel fez a diferença. Não adianta apenas ter máquina, porque a federal, novamente sob comando do PT, é ainda maior e nunca trouxe efeitos em termos de agregar filiados ou multidões nos eventos. O vice-governador passou a acompanhar a primeira-dama Gracinha Caiado e ela faz sucesso por onde anda. Quando Daniel viaja com Caiado, o brilho do governador de certa forma o ofusca, não por desejo do governador, mas porque a galera é atraída por quem está no poder. Junto com Gracinha, a dupla tem conseguido contagiar as plateias.
Antes, o discurso de Daniel era praticamente sobre o nada. Agora, o conteúdo está mais político, o que na gíria do marketing é tido como encorpado. As lideranças entrevistadas se sentem mais tranquilas com Daniel e Gracinha juntos, apesar de ficarem bem à vontade com Ronaldo Caiado. Em resumo: o governador encontrou o método correto, ele cuida de um lado e os demais vão para outras regiões, de modo turbo, unindo o Estado. Se seus adversários adotaram outro jeito de fazer política, ninguém sabe, ninguém viu.
Debandada de prefeitos da base não chegou e… não virá
Havia, ao menos no sonho dos marconistas, a expectativa de deserção da base aliada do governo. Tinha até data: logo após Ronaldo Caiado renunciar para a posse de Daniel Vilela, finalzinho de março, começo de abril. Esqueçam. Até a chusma de ex-prefeito que cortava estrada atrás de Marconi nos primeiros meses já apresenta sinais de cansaço. Pode ser falta de dinheiro? Pode, mas geralmente é mesmo falta de perspectiva de poder. Se Marconi Perillo tivesse disparado nas pesquisas de novembro e no começo de dezembro, o camarada pegava dinheiro emprestado e abasteceria a camionete velha para segui-lo por aí. Como a chance de ele voltar ao poder não se reflete nos levantamentos, volta o assombroso silêncio da planície.
O silêncio é uma forma de fazer campanha? Não. Se for, é muito burra. Ninguém sabe o que o calado quer. Caiado reina nos palanques porque, entre outras virtudes, a voz é ótima. A de Marconi não chega a esse nível, porém, é aceitável. De Daniel e Wilder Morais não se pode dizer o mesmo. Para isso existe a fonoaudiologia. Não pode existir um orador pior que Jair Bolsonaro, foi presidente da República e, com o mundo caindo e ele na cadeia, ainda precisa ser mantido em cana para não voltar ao cargo.
Se o problema não é discurso nem dinheiro, onde está o segredo? Em não deixar que a máquina engrene. E permitiram que passassem graxa nas engrenagens, pusessem óleo no motor. A base de Caiado é assustadora: 209 prefeitos, mais de 2 mil entre vereadores e secretários municipais, as duas entidades de municípios (AGM e FGM), sem rusgas com Legislativo nem Judiciário, tranquilo com o Tribunal de Contas do Estado.
Resta a Marconi, Wilder e ao PT passarem sebo nas canelas. Melhorarem os vídeos. Encontrarem um mote para os discursos. E não adianta falarem mal do Caiado e não adianta por diversos motivos, primeiro que ele não é candidato a governador, segundo que sua popularidade está na casa dos 90% (portanto, quem o critica está falando para 10% dos goianos), terceiro que seus atributos estão entre os que o eleitorado exige dos políticos. Tem de concentrar em Daniel. E comecem logo, porque se 2026 chegar antes da reação dos concorrentes, pode ser que o novo ano os receba com uma frase do agro: fechô o repôio.
Nilson Gomes-Carneiro escreveu esse artigo originalmente para o jornal O Hoje


