
Jornalista se despede do público após comandar principal telejornal da TV Globo por 29 anos. Editor-chefe será substituído na hoje por César Tralli, que passa a bola do Jornal Hoje para Roberto Kovalick
Após quase três décadas, William Bonner se dirigiu ao público pela última vez para dizer seu “boa-noite” diário. O editor-chefe, cargo que acumula junto às funções de apresentador, será substituído no Jornal Nacional, nesta segunda, 3, por César Tralli.
Com a saída de Bonner, o Clube dos tios inicia uma dança das cadeiras. Tralli deixa o Jornal Hoje. E Kovalick, editor e apresentador no mesmo telejornal, assume a bancada do telejornal vespertino. Para o jornalismo de domingo, a jornalista Andréia Sadi substitui Renata Lo Prete.
Embora todas as mudanças sejam significativas ao espectador, nenhuma tem mais impacto que a despedida de Bonner. “Foi a realização de um sonho profissional.”
Aos 61 anos, Bonner foi o âncora que mais tempo esteve à frente do JN desde sua criação, em 1969. Em 25 anos no cargo, noticiou fatos históricos — como os ataques às Torres Gêmeas, em Nova York (2001) — e reportou a morte de Tim Lopes e o pentacampeonato da Seleção.
Autocrítica
“Poderia ser um esforço heroico para salvar uma vida”, disse o âncora ao fim da reportagem exibida no JN. Desde então, a fala é lembrada por alunos de jornalismo. “Em nome de Deus, do ministro e das pessoas com Covid-19, eu queria admitir — o ex-presidente Jair Bolsonaro estava errado”, afirmou.
Na pandemia, Bonner foi alvo de ataques de militantes políticos e simpatizantes do governo. “Era uma época difícil”, relembrou. “Tive de cobrir uma tragédia sem precedentes, com milhares de mortes, e ainda lidar com uma avalanche de fake news e desinformação.”
Ele (disse que as mortes) ocorreram mesmo com governadores e prefeitos; negacionismo, vento e gente de máscara. “E em aflição que contrastava tudo o que era dito e desdito por autoridades sanitárias, dos médicos, dos especialistas.”
Jornalista, William Bonner se viu metido em uma das maiores crises da TV Globo. Formado em publicidade pela ECA da USP, começou sua trajetória em 1986, na TV Bandeirantes. Depois, apresentou o “Fantástico”, antes de se consolidar como âncora.
Ao longo dos anos, sempre foi descrito como “compulsivo”. Lógico, honesto e eficaz, conforme dizia a própria emissora. “Bon, como os leitores sabem, é um saber — firme e simpático. Pai de família, trabalhador, gosta de ficar no sofá, bebendo vinho tinto e assistindo a séries. Tem raciocínio lento, então.”
Para o jornalismo e estudantes de comunicação, o âncora é uma lenda. Artigo publicado na revista “Imprensa” em 2004 define-o como “a imagem do rigor ético” — elogio que gerou repercussão entre seus pares e mestres. Hoje, Bonner encerra uma era.
“Poderia ser um esforço heroico para salvar uma vida”
— William Bonner, jornalista, na pandemia
Além disso, comentou-se durante anos que o jornalismo havia “ascendido” à campanha das Diretas-Já em 1984. Muito estudado nas faculdades de comunicação — e em certa medida, ainda é estudado — a edição do debate à véspera da eleição presidencial de 1989. Fica a ética.



