A vitória pode parecer o fim de uma campanha, mas, na verdade, é apenas o início de uma dívida. Cada mão apertada, cada reunião, cada noite sem dormir cria, inevitavelmente, a expectativa de reconhecimento. Um líder que ignora isso começa, sem perceber, a se afastar da própria base que o colocou no poder.
O primeiro erro de um mandato é acreditar que vencer basta — e que não se deve nada a ninguém. Isso não é autonomia, é amnésia política. Porque nenhum mandato nasce do zero: ele se ergue sobre pessoas, não sobre votos. Pessoas que acreditaram quando ainda era arriscado acreditar, que defenderam um nome antes que fosse confortável fazê-lo. Essa é a base invisível de todo poder real.
Um mandato sem reconhecimento é frágil. Ele nasce devendo atenção, escuta e lealdade àqueles que seguraram o projeto quando ele ainda era só uma promessa. E a base não se afasta por ingratidão — ela se afasta quando percebe que virou figurante na história que ajudou a construir. Esse afastamento não faz barulho: é silencioso, lento e feito de presenças que deixam de aparecer, de apoios que deixam de se manifestar.
O poder não é um prêmio. É um contrato vivo entre confiança e responsabilidade. Quem acha que venceu sozinho, governa sozinho — e cai sozinho quando o silêncio chega. Porque, na política, o silêncio é o novo protesto. O silêncio da militância é mais perigoso do que qualquer crítica da oposição: é o som da confiança sendo retirada, sem discursos, sem hashtags, sem aviso.
Todo poder é uma dívida viva. A vitória não quita, ela renova. Quanto maior o cargo, maior a obrigação de lembrar quem sustentou o caminho até ali. Lealdade não se cobra; se retribui com presença, escuta e reconhecimento. É assim que vínculos se preservam e que mandatos se fortalecem.
Quando o líder ignora isso, ele descobre a solidão. E esse vazio não é falta de aliados — é falta de vínculo. O que foi esquecido passa a cobrar presença. Porque o poder só se mantém onde há respeito, memória e gratidão.
Alan Ribeiro – seu melhor amigo!
