
Governador de Goiás aposta em oposição unida e diz que federação do União Brasil com o PP está ameaçada por postura do senador Ciro Nogueira
O hoje governador de Goiás, Ronaldo Caiado, já tentou uma vez chegar à Presidência da República. Em 1989, na primeira eleição após o fim da ditadura, ele obteve 0,72% dos votos válidos no primeiro turno e chegou em décimo lugar em uma corrida ao Planalto que teve nada menos do que 22 competidores. Agora, dentro do União Brasil, está decidido a tentar de novo. Lançou em abril a pré-candidatura para 2026 e, até hoje, é o único a anunciar oficialmente essa pretensão. Desde então, enfrenta problemas para se viabilizar. Nos últimos dias, escalou o tom contra o senador Ciro Nogueira, presidente do PP — sigla que aprovou uma federação com o União Brasil —, que aposta em outros nomes para representar a direita. Em entrevista a VEJA, Caiado disse que Ciro prioriza o objetivo pessoal de ser candidato a vice, um movimento que chamou de “posição de final de carreira” de quem não tem mais votos e tenta “achar uma garupa para continuar na vida política”. Caiado reafirma ainda que será candidato a presidente e que o União Brasil pode desistir da federação para seguir o seu próprio rumo em 2026.
O senhor é postulante ao Planalto pelo União Brasil, mas Ciro Nogueira, presidente do PP, defende outros nomes e se articula, inclusive, para ser vice. O que acha desse movimento?
Ciro tenta a todo momento ignorar a nossa pré-candidatura. Eu disse a ele que nunca vi um presidente de partido, como Gilberto Kassab (PSD) ou Marcos Pereira (Republicanos) falar mal de seus pré-candidatos. Quando você constrói uma federação, o objetivo é colocar esse agrupamento para disputar eleições. Não é construir uma federação baseada no interesse específico dele de ser vice na candidatura que ele elege como primeira opção, a do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas ( Republicanos ), ou segunda, como a do governador do Paraná, Ratinho Jr. ( PSD ). Não cabe a ele deliberar sobre isso. Como o candidato a vice vai definir o presidente? É algo que não existe na política. E o que o levou a isso foi a ansiedade, o desespero de não ter base para se reeleger senador no Piauí. É uma posição de final de carreira, de querer achar uma garupa para continuar na vida política.
Há algum risco de essa federação não ir adiante?
Ela ainda não existe, não está aprovada no Tribunal Superior Eleitoral. Por enquanto, tanto o Progressistas quanto o União Brasil podem lançar seus candidatos. Nós, no União, não recebemos e não receberemos nenhuma ordem de Ciro Nogueira. Nosso presidente é o Antonio Rueda. Não tem por que se entregar para ser comandado pelo Ciro, que não tem expressão política.
“Como o candidato a vice vai definir o presidente? O que levou o Ciro Nogueira a isso foi a ansiedade, o desespero de não ter base para se reeleger senador. É posição de final de carreira”
Como essa tensão poderia ser solucionada?
É preciso haver respeito pelas lideranças de cada um dos partidos. O que as pessoas precisam entender é que apenas quem tem voto pode sentar-se à mesa para decidir nos momentos de definições políticas. Eu fui eleito duas vezes no meu estado, em primeiro turno, e tenho 88% de aprovação. Continuo pré-candidato pelo União Brasil, mas, com as declarações do presidente do PP, acho muito difícil o meu partido se submeter às regras dele. Acredito que o União Brasil seguirá o seu rumo, tomando decisões como as que tomou agora, saindo definitivamente do governo federal.
Se a federação for confirmada e sua candidatura a presidente não evoluir, o senhor pode ir para o Solidariedade ou o Podemos, como tem sido cogitado?
Reafirmo que sou pré-candidato pelo União Brasil. Conversar com partidos é algo que você precisa fazer em qualquer eleição majoritária. Não vou deixar de conversar com o Solidariedade, que fez o gesto de se colocar aberto para nos acolher. Tenho também conversado com os deputados federais do Podemos, não conversei ainda com a presidente (Renata Abreu). Afinal de contas, nós somos a centro-direita. Essa base eu vou procurar ampliar o máximo possível.
Falando de centro-direita, o campo tem hoje outros presidenciáveis, como Tarcísio, Ratinho, já citados, e Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais. Todas essas candidaturas irão se viabilizar para 2026?
Qual é a única chance de o Lula ganhar a eleição, segundo as pesquisas? É a oposição ter um candidato só no primeiro turno. A quase doze meses da votação, você vai lançar um candidato só? Nenhum de nós tem nome nacional. E se tivermos um candidato único, ele vai ser submetido à ação da máquina do governo de perseguir, de retaliar. Há hoje uma pulverização na direita que querem colocar como sinal de fragilidade, mas, com quatro, cinco pré-candidatos compondo a nossa área, dá segundo turno em todas as simulações de pesquisas. E o Lula não ganha uma eleição no segundo turno.
Existe uma estratégia do governo e do PT de tentar apostar no racha das siglas da centro-direita para que elas acabem não apoiando formalmente um candidato em 2026.
O senhor acha que poderá dar certo?
Essa tentativa já está clara. Essa característica de tentar cooptar partidos sempre foi do PT. Mas não temos esse problema, porque adotamos uma posição que nunca foi de tentar ter pé em duas canoas, de tentar agradar ao governo e ser oposição. A popularidade pode oscilar, mas a coerência é algo que não pode ser atingido. E é por aí que vamos construir a nossa vitória em cima de Lula na eleição de 2026.
De que maneira o senhor avalia que se daria essa vitória?
A última Quaest tem dados claros: 56% da população diz que Lula não merece a reeleição, e 63% afirmam que a vida não está boa. Tudo o que ele prometeu não aconteceu. Não tem cerveja com picanha. Os juros estão altos, e está cada vez mais difícil comprar a cesta básica. Portanto, Lula será derrotado, desde que tenhamos a habilidade de ter vários candidatos defendendo a centro-direita. O nosso único limitador é que as pesquisas mostram que ainda somos desconhecidos. Então esse é um ponto que será reforçado.
As pesquisas mostram, no entanto, uma recuperação da popularidade do presidente, ao mesmo tempo que medidas como a isenção do imposto de renda ganham tração. Essa maré de boa sorte permanecerá até 2026?
A isenção do IR foi uma promessa de campanha, portanto, se ele teve a aprovação da população, mais do que nunca está sendo coerente. O que precisamos entender é que nenhum candidato a presidente tem condições de se eleger quando as pessoas mais o rejeitam do que o aprovam. O Brasil está no caminho errado. Veja a MP 1.303, que foi derrotada no Congresso. Era mais aumento da carga tributária. “Vamos taxar as bets”, disseram. Até o relator, que é deputado do PT, tirou as bets da medida. Por quê? Ele simplesmente fica só na narrativa.
Qual sua avaliação do governo?
Lula está dando um calote na população oferecendo o que não pode garantir, como inflação e taxa de juros menores. O PAC é um café requentado, não aconteceu nada em lugar algum. E tem a tese do “nós contra eles”. Nunca vi governar dividindo o país, criando confronto entre classes sociais. Isso é algo que mostra a fragilidade, a falta de credibilidade dele.
Como chegar ao eleitor que não é nem lulista, nem bolsonarista? É simplesmente perguntar: você vai continuar apostando em um presidente que não tem credibilidade moral para governar o país? Aqueles que votaram nele viram que foram vítimas de um engodo, uma mentira, uma armadilha. Agora estão roubando os aposentados. O problema com Lula é um só: ele não tem estatura moral para sentar naquela cadeira. E o Brasil tem perdido espaço no cenário internacional exatamente pela ausência de um governante que tenha a condição de não ficar administrando pelo discurso.
“Na eleição é preciso perguntar: você vai continuar apostando em um presidente que não tem credibilidade para governar o país?
O ministro do Turismo, Celso Sabino, no entanto, continua no governo, apesar de haver um processo de expulsão do União Brasil. Como se dará o desfecho dessa história?
Nós temos de seguir o regimento. A infidelidade dele, partidária, está mais do que caracterizada. Agora o partido tem que cumprir os estatutos. Foi para o Conselho de Ética, que fará lá as audiências, vai ouvir testemunhas, e depois volta para a Executiva. Tem que ser dado o prazo de sessenta dias para que todo o processo possa caminhar.
O ex-presidente Jair Bolsonaro tem saído de cena, muito em parte devido a sua prisão domiciliar. O bolsonarismo tem perdido força no país? Outras legendas serão capazes de conquistar esse espólio eleitoral?
Ninguém deixa de reconhecer a capacidade do ex-presidente, mesmo inelegível. Não conheço ninguém que tenha, depois de ter saído do poder, essa capacidade de mobilização. Não podendo ser ele o candidato, pode lançar alguém da família. Essa é uma prerrogativa dele. Não cabe a nós discutir o que ele deve fazer.
O senhor consideraria algum membro da família Bolsonaro na sua chapa?
O que cabe a mim nesta hora é reconhecer que todo apoio que possa vir do ex-presidente é bem-vindo. Agora, não posso de maneira nenhuma ter a pretensão de querer dizer o que ele deve fazer, até porque, diferentemente do Ciro Nogueira, eu, o Zema, o Tarcísio e o Ratinho apoiamos o ex-presidente desde a sua primeira eleição, em 2018. Então não tem por que forçar isso, nem por que ficar constrangendo-o a decidir. Isso é uma coisa pessoal dele, o momento dele, tudo bem. E cabe a nós continuar a trabalhar.
Pode existir uma direita independente de Bolsonaro?
Não gosto de fulanizar as minhas análises políticas. Posso garantir o que disse em relação à influência dele, à capacidade de mobilização. Mas vai haver o debate da campanha presidencial do ano que vem. Cada candidato vai se colocar, apresentar as suas metas de governo. Acredito que é muito prematura a discussão por um nome. O debate mais relevante, hoje, deveria ser o que temos que trazer para a pauta.
Que pontos são esses que o União Brasil, por meio da sua candidatura, pretende apresentar?
É preciso resgatar a condição de endividamento do país, equacionar a taxa de juros e pôr fim à irresponsabilidade fiscal. O que eles prometeram e o que já gastaram rompeu totalmente o arcabouço fiscal. É um país desacreditado lá fora. Por quê? Porque não enxerga nenhuma medida séria que mostre competência do governo para tirar o país da situação de inflação e, ao mesmo tempo, de taxa de juros estratosférica. Em 2023, o governo recebeu uma dívida-PIB de 72%, e vai fechar o ano podendo ultrapassar os 90%. O país está asfixiado por um governo que não sabe governar e só sabe enfiar a mão no bolso do brasileiro.