
A execução brutal do ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, não é apenas um crime hediondo que choca pela covardia e ousadia dos criminosos. É, sobretudo, um símbolo da fragilidade estrutural da segurança pública paulista, que insiste em operar de forma reativa e pouco preventiva, expondo tanto cidadãos comuns quanto autoridades e agentes que dedicaram a vida ao combate ao crime organizado.
Ruy Ferraz, que acumulava mais de 40 anos de serviço e havia chefiado a Polícia Civil até 2022, já era alvo de ameaças antigas. Ainda assim, foi morto em plena Praia Grande, após ser perseguido, capotar o carro e ser alvejado por criminosos armados que agiram com frieza e planejamento. Se alguém com este histórico e conhecimento profundo da máquina policial pode ser eliminado com tamanha facilidade, o que resta para o cidadão comum?
Esse episódio lança luz sobre problemas que o governo de São Paulo, sob a gestão de Tarcísio de Freitas, insiste em não enfrentar com a profundidade necessária. O atual modelo de segurança privilegia ações espetaculares e operações midiáticas, mas falha em garantir proteção real, inteligência preventiva e credibilidade junto à população.
Nos últimos anos, assistimos ao aumento da letalidade policial, operações de grande visibilidade e discursos de endurecimento contra o crime. No entanto, o resultado prático é questionável: facções criminosas seguem fortes, comunidades vivem sob tensão constante e a sensação de insegurança cresce. O assassinato de um ex-delegado geral mostra que, apesar da retórica oficial, o Estado continua vulnerável diante do crime organizado.
O governador precisa compreender que segurança pública não se resume a enfrentamento armado e números em relatórios. É preciso:
criar protocolos sólidos de proteção a agentes sob ameaça, ativos ou aposentados;
investir em inteligência e monitoramento de risco, antecipando ataques;
reduzir a letalidade policial, que fragiliza a legitimidade da corporação e afasta a população;
fortalecer o policiamento comunitário, aproximando a polícia do cidadão;
e, sobretudo, mostrar transparência e prestação de contas, em vez de discursos vagos após cada tragédia.
O dever de casa está claro: São Paulo precisa de uma política de segurança pública séria, preventiva, planejada e integrada, que vá além de ações pontuais e do marketing político. Antes de pensar em projeções nacionais ou em candidaturas futuras, Tarcísio de Freitas deve dar respostas concretas e efetivas a quem mais precisa — o povo paulista, que hoje se vê cada vez mais exposto.
A execução de Ruy Ferraz é um alerta duro. Se não houver mudanças imediatas, novos episódios de violência seguirão revelando que o Estado mais rico do país não conseguiu garantir sequer o básico: a vida de quem lutou para proteger a sociedade.
Alan Ribeiro
Jornalista e blogueiro