
Único político a assumir publicamente
candidatura à Presidência, governador de
Goiás comemora bons números nas
pesquisas e tenta atrair a família Bolsonaro
para o seu projeto
HUGO MARQUES – Revista VEJA
RONALDO CAIADO é, até o momento, o único político
que assumiu publicamente o status de postulante à Presidência da República nas eleições do ano que vem. Filiado ao União Brasil, partido da base do governo Lula, o governador de Goiás cumpre há três meses uma agenda típica de candidato. Ele já visitou oito estados, concedeu dezenas de entrevistas e divulga pelas redes sociais suas principais propostas
— e, claro, também as promessas. Em sintonia com o que mostram as pesquisas de opinião, a segurança pública é anunciada como prioridade. De olho em uma parcela importante do eleitorado, afirma que, se vencer, concederá uma anistia ampla, geral e irrestrita aos condenados pelos ataques do dia 8 de janeiro aos prédios do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal — a todos, sem exceção. A proposta ecoa na faixa da população que se
identifica como de direita. Já a promessa tem grande apelo entre os grupos alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Caiado largou na frente na esperança de que essa dianteira lhe confira alguma vantagem no momento de decisão. Há quinze meses das eleições presidenciais, é consenso entre observadores e analistas políticos que a disputa em 2026 será
acirrada, com ligeira e momentânea vantagem para os candidatos do espectro político mais à direita. Na pesquisa da Quaest publicada em junho, Lula, que deve disputar a reeleição, em cenários de segundo turno, aparece tecnicamente empatado com Jair Bolsonaro (PL), Tarcísio de Freitas (Reblicanos), Michelle Bolsonaro (PL) e Ratinho Junior (PSD).
á se o adversário fosse Caiado, o petista venceria por uma diferença de 10 pontos percentuais — 43% a 33%. Ou seja, Caiado tem o pior desempenho se comparado aos demais pré-candidatos. A boa notícia para o governador é que seus números são ascendentes. Em dezembro de 2024, apenas
20% dos entrevistados afirmavam que votariam nele. Em cinco meses, esse número deu um salto considerável de 13 pontos. Além disso, Caiado ainda é um desconhecido para 62% dos brasileiros. “À medida que ele vai ficando mais conhecido, a tendência é que também fique mais competitivo”,
diz Felipe Nunes, analista da Quaest. Essa é uma das apostas do candidato do União Brasil para viabilizar sua candidatura, mas não é a principal.
O governador e seu staff sabem que o apoio de Jair Bolsonaro será decisivo para consolidar o favoritismo de qualque candidatura. Inelegível, o ex-presidente tem sido pressionado a anunciar logo o apoio a algum dos postulantes, ao que ele resiste. Caiado trabalha para ser o escolhido. Durante a pan-
demia, o governador criticou duramente o negacionismo do então presidente. Em 2024, os dois voltaram a se desentender durante as eleições municipais, mas Caiado garante que as divergências não deixaram sequelas. Ele já compareceu às duas
manifestações realizadas em São Paulo em defesa do ex-presidente. Mais recentemente, anunciou que, além da anistia aos envolvidos no 8 de Janeiro, concederia também um indulto a Bolsonaro caso ele venha a ser condenado pelo STF. “O Brasil precisa andar para frente, com justiça, paz e união. Conte conosco, presidente @jairmessiasbolsonaro”, escreveu em sua rede social. Para alimentar o flerte, aliados espalharam a versão de que o governador estaria “negociando” a formação de uma chapa que teria o deputado Eduardo Bolsonaro como vice. O próprio governador descarta essa possibilidade. “O que eu quero é apenas sentar para conversar com ele”, disse a VEJA. Caiado garante que vai levar adiante seu projeto político com ou sem o apoio formal do ex-presidente. “A única hipótese de eu desistir é se ele (Bolsonaro) disputar.” O candidato do
União Brasil acredita que a segurança pública será o tema principal da campanha de 2026 e pretende adaptar para o pano nacional um dos motes usados na disputa estadual:
“Em Goiás, ou o bandido muda de profissão, ou muda de estado”. De acordo com as estatísticas, o número de homicídios caiu pela metade. A oposição diz que o resultado foi alcançado sacrificando direitos humanos. A letalidade policial em Goiás é duas vezes maior que a média nacional, menor apenas do que no Rio e na Bahia.
Além da repressão ao crime, Caiado quer mostrar que
também é um tocador de obras. Caso sua candidatura seja confirmada pelo União Brasil, o que ainda é considerado pelos dirigentes do partido como uma “hipótese” a ser avaliada, ele precisará deixar o governo até abril do ano que vem.
Até lá, quer apresentar um cardápio de realizações como vitrine. O governador criou um fundo que terá 2,5 bilhões de reais para ser aplicado em obras e contratou uma entidade sm fins lucrativos para tocar o projeto — um modelo de gstão que supera entraves burocráticos, reduz custos e que também ele promete replicar em nível nacional. O Ministério Público, porém, classifica a novidade como um programa de privatização disfarçado que dispensa o processo de
licitação, permite direcionamentos e pode facilitar fraudes.
Caiado diz que as suspeitas têm motivação política e confia que será capaz de vencer esses e outros obstáculos à sua frente até 2026.
Da Revista Veja