Mensagem do Alan: Quando as Lágrimas Não Caem

Há dias em que até as lágrimas se recusam a descer. O peito aperta, o coração pesa, mas os olhos secos denunciam um cansaço que vai além da exaustão física — é a alma que está exaurida.

Viveu-se com propósito. Tentou-se, com toda a honestidade, viver uma vida equilibrada, justa, solidária. Não foi uma existência qualquer: foi uma caminhada marcada por escolhas conscientes, por renúncias silenciosas, por amor doado mesmo quando não havia retribuição. Procurou-se o bem, mesmo quando o mal sorria fácil nas esquinas do caminho.

Foi-se firme quando tudo gritava por desistência. Ajudou-se quando o mundo parecia indiferente. Silenciaram-se mágoas para que a paz falasse mais alto. E por tanto tempo, acreditou-se que isso bastaria — que a vida, em sua sabedoria, traria de volta, em forma de alívio ou reconhecimento, aquilo que foi dado de coração.

Mas há um momento em que até a esperança começa a se esvair. Não por fraqueza, mas por exaustão. Quando o peso da solidão moral se torna insustentável. Quando o gesto bondoso é confundido com obrigação, e o amor se transforma em invisibilidade. Quando, mesmo tendo feito o certo, o justo e o necessário, tudo ao redor parece vazio.

É ali, no silêncio do que não se sente mais, que se percebe: as lágrimas não vêm. Não por falta de dor, mas porque até elas se renderam. E nessa ausência úmida, há um grito surdo de desamparo. Um choro preso no corpo de quem já chorou demais por dentro. A estrada da face, outrora regada por emoções verdadeiras, agora é seca como o coração cansado de esperar sentido.

Esse é o lamento dos que viveram pelo outro, mas esqueceram de se acolher. Dos que plantaram amor, mas colheram descaso. Dos que lutaram por justiça e acabaram injustamente esquecidos.

Mas talvez, apenas talvez, no silêncio dessa secura, um sussurro brote. Um aviso tênue de que até o deserto floresce. E que mesmo que hoje a esperança escorra sem forma, amanhã ela pode voltar em forma de flor — mesmo que tímida — no meio do chão rachado pela dor.

Enquanto isso, segue-se. Não por obrigação. Mas porque quem viveu com o coração inteiro não sabe ser metade, mesmo quando tudo parece em ruínas.

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Alan Ribeiro
Alan Ribeiro

Alan inicia seus trabalhos com o único objetivo, trazer a todos informação de qualidade, com opinião de pessoas da mais alta competência em suas áreas de atuação.

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