O mundo perde mais do que um ex-presidente. Perdemos um símbolo. Perdemos um homem que ousou ser diferente, que ensinou, com seu exemplo, que política se faz com alma, com verdade, com humildade. Morreu José “Pepe” Mujica, o ex-guerrilheiro que virou presidente do Uruguai, mas nunca deixou de ser gente.
Enquanto tantos se deslumbram com os tapetes vermelhos e palácios de governo, Mujica morava numa chácara modesta, dirigia um fusca velho e doava quase todo seu salário para causas sociais. Quando perguntado, dizia: “Não sou pobre. Sou sóbrio. Tenho o suficiente.” Ele foi um líder que não se serviu do poder — serviu às pessoas.
Pepe enfrentou a prisão, a tortura, o preconceito e a solidão, mas nunca perdeu a ternura. Falava com os olhos de quem já viu demais e com a boca de quem não tem medo de dizer o que pensa. Seu discurso na ONU sobre o consumo, a ganância e a urgência de cuidarmos do planeta entrou para a história. Ele falava como um avô sábio que pedia ao mundo: “Desacelere, pense, ame.”
Não era perfeito — e nunca se disse santo. Mas foi honesto até a medula. Um homem de convicções, de coragem moral, de simplicidade desarmante. Enquanto os outros colecionavam cargos, ele colecionava girassóis e cachorros. E afagos.
Hoje o céu se curva. As Américas choram. A humanidade, um pouco menos vaidosa, um pouco mais consciente graças a ele, presta reverência a esse gigante de carne e osso. Que sua partida nos lembre do que realmente importa. Que seu legado nos inspire a buscar a política do cuidado, da escuta, da renúncia ao ego em nome do bem comum.
Descanse em paz, Pepe. Que sua luz continue iluminando as trilhas dos que ainda acreditam que a política pode ser nobre. E humana.
Alan Ribeiro
Editor do Blog do Alan Ribeiro
Em luto e gratidão
