
Nota agressiva contra o governador Ronaldo Caiado, após investigação da Polícia Federal, expõe Marconi Perillo a situação política delicada: PSDB caminha para extinção e sigla será engolida ou pelo MDB ou pelo PSD – legendas que apoiam o líder do União Brasil.
WELLITON CARLOS
Mais uma vez Marconi Perillo (PSDB) teria perdido um confronto com o governador
Ronaldo Caiado (União Brasil), dizem analistas políticos que acompanharam o embate
das duas últimas semanas. E o motivo seria o conteúdo da nota emitida após operação da
Polícia Federal que procurou o ex-governador na casa dele, na quinta-feira, 6.
A nota fala pouco da investigação, mas muito do interesse em Marconi enfrentar Caiado, apesar dos dois estarem em níveis políticos que não se cruzam: um caminha para ser candidato a presidente. O outro tenta governo, mas pode satisfazer-se caso consiga um partido para ser candidato a deputado federal.
Por isso, a nota muito nervosa e pouco elucidativa traz o limite da tensão. O ex-governador envolve o líder do União Brasil em uma investigação federal e ameaça: “A hora da-
queles que me perseguem vai chegar”.
Segundo políticos consultados pela reportagem, o motivo das derrotas discursivas para Caiado é a falta de traquejo do ex-governador tucano com as palavras e o evidente desconforto que é o passivo político dele.
Não debato com ex-presidiário
Ao criticar Caiado, Marconi recebeu como resposta: “Não debato com ex-presidiário“. Pouco depois, apareceu novamente em uma investigação da Polícia Federal que apura supostos crimes praticados entre2012 e 2014.
Existe no imaginário coletivo a ideia de que o ex-governador tem, sim, envolvimento em episódios variados suspeitos e que não sejam “culpa” de Caiado.
Apesar da ausência de condenações, perdura no imaginário as polêmicas e operações policiais.
“Não fosse isso, suas duas derrotas políticas ao Senado nos últimos oito anos teriam se convertido em vitórias”, diz ao autor um político que acompanha o governador e seu adversário desde quando foram base aliada na década de 2000.
“Parece lógico que Marconi tem um histórico de investigações que prejudica sua imagem pública”, completa uma fonte.
Ao enfrentar de peito aberto o vice-governador Daniel Vilela (MDB) e Caiado analistas políticos – pode ocorrer desgaste de Marconi antes mesmo da pré-campanha para 2026 – e assim ele acabar por perder o posto de opositor ‘predileto’ no pleito. Geralmente, a oposição atua em grupo,em contrapontos ensaiados.
Críticas individuais e sem ritmo tendem a isolar Marconi, apostam. Afinal, é a reação às ações da Polícia Federal e Justiça, uma vez que a investigação segue quando a Justiça permite ações via mandados judiciais.
PT
O ex-governador é um dos opositores a Ronaldo e Daniel. Mas quem melhor se saiu nas urnas foi o PT goiano, com mais votos do que o PSDB na Capital e cidades estratégicas como Anápolis. E neste sentido, o PL, de Wilder Morais, teria ainda mais gabarito e fôlego, já que não queimou a largada.
Neste sentido, Marconi caminha para perder terreno antes mesmo do começo e abrir espaço ou para uma arrancada do PL nos próximos meses ou para uma perigosa tentativa de união com o PT de Lula, partido que, em Goiás, tem um severo cinturão opositor no agro.
O problema do ex-governador – dizem analistas desta crise envolvendo ele e as principais lideranças do Estadoe – só estaria começando. Tudo indica que Marconi – que é presidente nacional do PSDB – perderá o comando da legenda nos próximos meses por um simples motivo: a sigla caminha para a extinção. O PSDB tende a se unir e desaparecer ou dentro do MDB – em um processo de retorno ao útero social-democrata de onde saiu – ou ser engolido pelo PSD, sigla de Gilberto Kassab.
Esta será a grande turbulência do futuro ex-líder tucano: em qual legenda se abrigar para disputar ou um cargo majoritário (Governo ou Senado)ou disputar um cargo de deputado federal. As apostas de opositores são pessimistas: se perder o comando de um partido – já que sequer tem mandato – restará partir para uma disputa em legendas onde não tem domínio para formar chapas competitivas que possibilitem uma eleição de deputado federal – hoje uma campanha de 300 mil votos de legenda.
O ex-governador, como se vê, terá que modular o tom para conseguir dialogar – até mesmo para, em caso excepcional, ter que integrar a base por aglutinação. Pois tanto PSD quanto MDB hoje são base de RonaldoCaiado.