
Governador de Goiás organiza lançamento de pré-candidatura em Salvador e agendas pelo País para consolidar seu nome na disputa pelo Palácio do Planalto no próximo ano REDAÇÃO
Mais de 30 anos depois de estrear na corrida presidencial em 1989, Ronaldo Caiado (União Brasil), aposta que, desta vez, a experiência (ou os “cabelos brancos”, como costuma dizer) serão o seu passaporte para a vitória. O governador de Goiás chega a 2025 tratando a candidatura presidencial como um objetivo inadiável, espécie de última cartada em sua trajetória política, que acumula passagens pela Câmara dos Deputados, Senado e governo estadual.
Em meio a uma direita fragmentada e à inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL), Caiado se antecipou e decidiu colocar o bloco nas ruas já este ano, marcando o lançamento da sua pré-candidatura ao Planalto para o mês de março.
Salvador foi escolhida como palco do anúncio, em uma decisão carregada desimbolismos. Foi lá que Lula (PT) alcançou sua maior votação entre as capitais no segundo turno de 2022 contra Bolsonaro. E apesar de o Estado ser um histórico reduto petista, também é uma base importante do União Brasil, partido de Caiado.
Na última eleição municipal, o União Brasil garantiu a reeleição de Bruno Reis na capital baiana com margem de quase 80% dos votos válidos.O evento de lançamentoda pré-candidatura de Caiado deve reunir as principais lideranças locais da legenda, incluindo Bruno Reis e o ex–prefeito ACM Neto. O presidente nacional do partido, Antonio Rueda, também promete marcar presença.
PLATAFORMA DE GOVERNO
Com o anúncio feito, Caiado deve avançar para a criação de um núcleo de coordenação política que contará com Rueda, ACM Neto e outros atores políticos. Desse núcleo, que sairá do papel ainda no primeiro semestre, vão surgir os braços estratégicos da pré-campanha, responsáveis pela agenda, comunicação e elaboração do programa de governo de Caiado. Nos próximos meses, Caiado planeja selecionar nomes para formar o time de especialistas encarregado de elaborar sua plataforma de governo. Correligionários contam que, no ano passado, ele iniciou conversas com alguns profissionais, entre eles, a médica Ludhmila Hajjar, o ex-presidente do Banco Central Roberto Campos Neto e Erick Figueiredo, que presidiu o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea )no governo Bolsonaro. No entanto, dizem aliados, foram apenas sondagens iniciais, sem garantia de que esses nomes integrarão a equipe.
GIRO PELO PAÍS
Até o ano passado, a agenda de Caiado estava limitada a compromissos Governamentais e convites para eventos. Agora, a estratégia é criar uma agenda nacional. Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, Antonio Rueda
contou que o plano é iniciar as agendas nas capitais e em cidades com mais de 200 mil
habitantes onde o partido tem prefeitos. “É começar a fazer o dever a partir da nossa
casa, criando um movimento político consistente. Por isso, vamos a Salvador, estou
pedindo para ele ir a Natal, Teresina… E não tem como menosprezar os maiores colégios eleitorais, como Rio e Minas. Temos que ir para
cima nesses Estados e construir uma base com personagens da política que comprem o trabalho do Caiado”, disse o dirigente nacional.
Rueda afirmou que o partido vai contratar pesquisas para nortear a estratégia eleitoral de Caiado, com a primeira delas em nível nacional, prevista para este mês. O marqueteiro será contratado mais adiante. “O que precisamos agora é fazer pesquisas e dar densidade eleitoral para o Caiado, divulgar as ideias
dele, o que ele fez, para trazer tração para a campanha”, completou Rueda, que nega
haver contradição entre a candidatura de Caiado e o fato de o União Brasil integrar o governo Lula. “Quem vive a política sabe que a
construção dos ministérios foi uma condição particular. Estou muito tranquilo quanto a isso. Os dois ministros estão fazendo um trabalho
importante.”
Nas próximas semanas, Caiado deve inaugurar um escritório na região central de São Paulo, onde pretende receber lideranças políticas e representantes de diversos setores, incluindo empresários e formadores de opinião.
DESAFIOS DE CAIADO
Caiado tem afirmado que será candidato à Presidência independentemente da conjuntura, com ou sem o apoio de Bolsonaro. Em seu entorno, há o sentimento de que apenas a candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos) poderia mudar seus planos, mas publicamente o próprio Caiado descarta essa possibilidade. Entre seus correligionários, há quem acredite que o primeiro turno da eleição de 2026 funcionará como uma espécie de prévias da direita, com diferentes candidatos na disputa, sem um nome único de consenso, como alguns líderes partidários defendem. Além do alto desconhecimento sobre seu nome, Caiado enfrenta o desafio de derrubar estereótipos criados em torno de sua imagem, principalmente a associação agressiva ao agronegócio.
Segundo um assessor, que preferiu não se identificar, o governador precisa mostrar que não é um “jacu do mato”. Por isso, uma das frentes da comunicação será destacar sua formação médica e seu histórico como professor. Embora seja um candidato de direita, a campanha também buscará associá-lo a temas sociais, na tentativa de atrair eleitores mais ao centro.
CRÍTICAS DE BOLSONARO
Outros desafios incluem demover o cantor Gusttavo Lima, de quem é aliado, da candidatura presidencial e enfrentar a animosidade de Bolsonaro, que passou a fazer críticas públicas ao governador. Durante a última campanha eleitoral, Caiado e Bolsonaro travaram uma disputa acirrada na eleição de Goiânia, na qual o governador levou a melhor com a vitória de Sandro Mabel (União Brasil).
Segundo pessoas próximas a Caiado, ele não pretende comprar a briga com o ex-presidente, mas também não deve buscar uma reconciliação. Os dois já se desentenderam em outras ocasiões, como quando Caiado criticou a postura de Bolsonarona pandemia de covid-19.