
Há 36 anos, Ronaldo Caiado apavorava o PT com primeira denúncia de escândalo e se destacava em sua primeira campanha presidencial. Em meio a políticos conservadores e de esquerda, goiano foi único a defender pautas de direita. Governador lembra ao DM como foi campanha
Welliton Carlos*
Um dos principais nomes apresentados como pré-candidatos a presidente para 2026, o médico cirurgião ortopedista e governador de Goiás Ronaldo Caiado foi o principal candidato da direita na primeira eleição pós-ditadura.
Na época, em 1989, a cena política brasileira foi construída sob os escombros da gestão de José Sarney, presidente que assumiu o cargo após a desoladora morte de um pacificador, o mineiro Tancredo Neves.

Caiado tinha 40 anos e um histórico de defesa da propriedade privada, dos pequenos agricultores e agronegócio. Líder fundador da União Democrática Ruralista (UDR), fazia questão de pregar a defesa do segmento dentro de um ambiente democrático, onde o governo muitas vezes interferia nas tarifas e fazia vistas grossas para invasões e ocupações de terras.
Com a economia tomada pela hiperinflação, herdada pela contenção da má gestão dos militares na reta final da ditadura, surgiram várias candidaturas dispostas a socorrerem o Brasil.
Dentre os mais experientes, Ulisses Guimarães (PMDB), Leonel Brizola (PDT), Paulo Maluf (PDS), Aureliano Chaves (PFL) e Mário Covas (PSDB) tentavam se destacar em meio aos novos nomes – Fernando Collor (PRN), Lula (PT), Ronaldo Caiado (PSD) e Enéas (Prona).
Dos nomes realmente da direita, Caiado era o político de maior presença nos debates e na imprensa, uma vez que tornou-se o principal antagonista do PT – força política crescente naquela década. Sob o tema “União Cidade e Campo”, Caiado travou os melhores debates com Lula e também Brizola.
No resultado final, Fernando Collor bateu Lula no segundo turno, com um discurso liberal de abertura do mercado brasileiro e modernização da economia. Brizola perdeu por menos de 1% para Lula, não foi para o segundo turno e acabou em terceiro lugar. Enterrou o trabalhismo getulista em seu último grande momento.
O grupo conservador tradicional, por sua vez, teve Maluf em quinto lugar, seguido por Afif Domingos e Aureliano Chaves. Único nome assumido como de “direita”, Caiado obteve 488.893 mil votos.

Um dos jingles do goiano falava de defesa da terra no Planalto: “Leva, leva essa bandeira/ Leva ela pro Planalto/ Pra essa gente brasileira novamente olhar pro alto/Carregar essa bandeira, a bandeira dessa terra/ Para por fim aos velhos tempos/Dar à luz a nova era/ Acordar esse gigante/ A tanto tempo adormecido/ A bandeira da igualdade, carregar com braço forte/ Uma pátria verdadeira/Seja o Sul ou seja o Norte/ Pra juntar o que partiu/ tanto sonho já quebrado/ E vencer os desafios/ Amanhã será Caiado!”.
Naquele ano, um dos mais disputados da história, o ex-presidente Janio Quadros e o apresentador Silvio Santos tentaram entrar na eleição, mas tiveram as candidaturas indeferidas.
Caiado percorreu o país ao lado do vice Camilo Calazans (1928-2012), economista e administrador bastante requisitado para debater a relação do agronegócio e financiamentos, com atuação junto à Food and Agriculture Organization (FAO).
PT
Em uma campanha permeada pela busca da polarização e interferências da TV Globo, a mídia focou em dous nomes: Fernando Collor e Lula. Mas Caiado conseguiu furar o bloqueio: durante a disputa, surgiu a primeira denúncia contra o PT. Em debate, o político goiano revelou o caso Lubeca. Em 2005, Paulo Moreira Leite, no jornal “Estadão”, lembrou de como Caiado trouxe à tona o escândalo. “Quando se escrever a história do mensalão, será preciso admitir que Ronaldo Caiado tinha razão – desde 1989. No calor da primeira eleição direta para presidente depois do regime militar, o candidato Ronaldo Caiado, do PSD goiano, denunciou um milionário esquema de verbas clandestinas envolvendo a construtora Lubeca e a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva”.
Segundo o relato dado ao “Estadão”, “em muitos aspectos os dois escândalos se parecem: em 1989, como em 2005, havia doleiros, fortunas na boca do caixa e até garotas de programa”.

Debates
Em um debate na TV Bandeirantes, Caiado recebeu uma provocação de Lula, que insinuou Caiado como um candidato montado em um cavalo branco.
Caiado tinha se preparado com documentação do episódio: o governador de Goiás tirou uma cópia de cheque do bolso e mostrou para Lula, denunciando que ele usava supostamente dinheiro de construtora para viajar de jatinho. O caso acabou desqualificado para a Justiça Eleitoral e depois caiu no ostracismo.
Caiado acredita que teria ocorrido um acordo para varrer a poeira, como tantos outros no Brasil republicano – vide a “Lava Jato”.
Na época era impensável que o PT tivesse qualquer mancha de corrupção.
A investigação de Caiado seria, então, relembrada em 2005, quando estourou o “Mensalão”, considerado por muitos como o maior escândalo da República.