A estimativa é de que o projeto já tenha recebido entre US$ 890 bilhões (R$ 4,46 trilhões) e US$ 1 trilhão (R$ 5 trilhões) em investimentos desde 2013.
O Brasil ainda resiste em aderir ao projeto “Cinturão e Rota”, conhecido também como “Nova Rota da Seda”. O programa vem de um investimento trilionário da China iniciado em 2013 e prevê obras e investimentos para ampliar mercados para a China e aumentar a presença e influência comercial do país no mundo.
Chineses vem dialogando com o governo brasileiro para aderir o projeto. Isso se intensificou ainda mais com a visita de Xi Jinping ao Brasil durante a Cúpula do G20, em novembro. A ausência de um acordo formal entre os dois países causou estranheza.
A China vem fazendo acenos ao Brasil sobre a adesão há anos, chegando a aceitar que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) assumisse a presidência do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido como Banco dos Brics, visitas de delegações governamentais chinesas ao Brasil e de brasileiros à China, além de bilhões de dólares em investimentos em diversas áreas.
Sendo informações de bastidores do governo federal, o Brasil hesita em aderir o programa por uma mistura de fatores que vão desde a tradição diplomática brasileira, o cenário internacional conturbado e a percepção entre os tomadores de decisão brasileiros de que o país teria pouco a ganhar com uma eventual adesão ao projeto.
A estimativa é de que o projeto já tenha recebido entre US$ 890 bilhões (R$ 4,46 trilhões) e US$ 1 trilhão (R$ 5 trilhões) em investimentos desde 2013. A construção de infraestrutura, incluindo rodovias, ferrovias, portos e obras no setor energético, como oleodutos e gasodutos que conectam a Ásia à Europa foram a prioridade.
O projeto era focado, originalmente, na região conhecida como Eurásia, o projeto expandiu-se para regiões como África, Oceania e América Latina.
Na contramão do Brasil está Goiás. Mesmo sem acordo formal direto com o governo chinês, a Secretaria de Estado de Indústria, Comércio e Serviços de Goiás (SIC) faz viagens constantes para a China a fim de fechar acordos com empresas, negócios e grandes indústrias locais, e vice-versa.
Em maio deste ano, por exemplo, uma comitiva com representantes da Fufeng Group, líder global em biofermentação, se reuniram com o governador em exercício, Daniel Vilela, para apresentação de um projeto de expansão da empresa. No encontro, investidores informaram o aporte para a construção de uma nova fábrica no Estado. O investimento pode superar U$ 400 milhões, o equivalente a mais de R$ 2 bilhões. A empresa fez levantamentos em diversos países da América Latina, mas Goiás saiu na frente.
O secretário de Indústria, Comércio e Serviços de Goiás, Joel Sant’Anna, afirmou que uma parceria com o país asiático é imprescindível para o Estado. “A China compra cerca de 56% do que o Estado produz e essa parceria é fundamental. Hoje temos diversas fábricas chinesas de grandes empresas que geram muitos empregos e renda no Estado. Esses empregos são bem remunerados que movimentam muito a economia e impulsionam o crescimento de Goiás”, afirma.
“Fazemos caravanas para a China para buscar esses investimentos e mostrar que Goiás é um Estado que vale a pena investir. Neste ano [2024] fizemos três missões e recebemos quatro missões chinesas. Temos esse sistema de ‘portas abertas’ com o governo chinês e isso fez com que Goiás tenha uma das melhores relações com a China no Brasil”, continua.
O secretário citou o exemplo de Catalão, onde uma fábrica chinesa gerou cerca de 6 mil empregos em pouco tempo. “Temos várias mineradoras chinesas no Estado com destaque para a de Catalão, que tem 6 mil funcionários. Agora, o governo chinês abriu toda a estrutura de drones para podermos construir mais uma fábrica aqui [em Goiás] mas de tecnologia”, diz.
Essa troca de tecnologia pode ajudar Goiás a resolver problemas, como o controle de incêndios feito por drones, que ajuda a controlar o fogo com mais agilidade e qualidade, a eletrificação da Avenida Anhanguera, que ela possa passar a ter ônibus elétricos, então essa troca de tecnologia é essencial para Goiás”, explica.
Investimentos futuros
Goiás saiu na frente, mas ainda há um grande caminho a seguir. Mesmo com a abertura de novas indústrias, com a vinda de investimentos, o Estado ainda é visto como dependente do agronegócio que, segundo especialistas consultados pela reportagem não geram tantos empregos. Por conta disso, a expectativa da SIC é buscar cada vez mais investimentos para uma industrialização maior do Estado e, com isso, a geração de empregos e renda.
Para que isso ocorra, Joel explica que busca manter goiás na rota da China e que a realidade que já acontece mostra o sucesso da parceria. “A realidade vem mostrando o quão importante é a instalação dessas empresas. Neste mês [dezembro] iremos receber o dono da maior empresa de carregadores do mundo, que fabrica 40% dos carregadores globalmente. A intenção é instalar uma dessas fábricas aqui no Estado. Temos muitas prospecções em Águas Lindas de Goiás, onde recentemente abriu uma indústria de triciclos. Então nossas parcerias com a China estão a todo vapor”, relatou.
“Além disso, temos tratativas com uma fábrica de todos os tipos de luvas para que tenha esse investimento aqui em Goiás também. Outra empresa, que quer fabricar o açúcar IC 45, que é um açúcar super refinado, pode fazer investimentos em Goiás. A BYD também tem tratativas para se ter uma planta no Estado. Então são várias frentes de negociações para se trazer esses investimentos para Goiás e melhorar a qualidade de vida da população. Essas prospecções mostram que Goiás saiu na frente”, conta.
Um dos atrativos principais para essas empresas são os incentivos fiscais feitos via PróGoiás, que é um programa de desenvolvimento regional que visa desburocratizar a concessão de benefícios fiscais para o setor industrial. O programa vale até 2032 e substitui o Fomentar/Produzir. O ProGoiás oferece redução do percentual para o pagamento do Fundo de Proteção Social do Estado (Protege). A alíquota inicial será de 10%, decrescendo gradativamente até 6%, a partir do 25º mês de enquadramento no ProGoiás.
Empregabilidade
A industrialização é uma forma de geração de empregos com capacitação profissional, fazendo com que funcionários tenham salários melhores e, consequentemente, exista o crescimento da economia por conta do consumo. Segundo o economista Eduardo Brandão, Goiás ainda é dependente de dois setores da economia: serviços e agropecuária.
“O setor de serviços gera muitos empregos mas muitos dos salários não são suficientes para se ter qualidade de vida. O agro, por sua vez, vem crescendo também as ofertas de emprego, mas para o tamanho do mercado no Estado é insuficiente. A melhor forma de gerar postos de trabalho é através da industrialização, pois são empregos que precisam de capacitação e, com isso, tem salários maiores”, explica.
Para o economista, empregos com melhores remunerações são melhores para a economia pois movimentam o consumo. “Uma pessoa que recebe um salário mínimo e passa a ganhar mais ela movimenta mais o mercado através do consumo. Ela sai mais para bares, cinemas e compram mais coisas. Isso esquenta o mercado e faz a economia crescer”, diz.
Segundo dados do Instituto Mauro Borges (IMB), a agropecuária ainda puxa o Produto Interno Bruto (PIB) de Goiás. Em setembro, o PIB do Estado cresceu 8% puxado pelo setor da agropecuária (15,1%), serviços (6.6%) e indústria (3,4%).
Porém, neste ano, a agropecuária ocupa a terceira posição na geração de empregos no Estado. Entre janeiro e agosto, Goiás criou 77.335 novos postos de trabalho. Foram 692.040 admissões e 614.705 desligamentos.
Em 2024, o principal destaque é o setor de serviços, que empregou 29.955 pessoas, correspondendo a 38,8% de todos os novos postos de trabalho. Em seguida, a indústria (15.698 vagas); o ramo de construção (13.705), agropecuária (9.761) e comércio (8.218). Juntos, os setores de indústria, serviços e comércio representam 69,7% de todas as vagas criadas ao longo do ano – 53.871 postos de trabalho em números absolutos.
Os dados divulgados pelo governo de Goiás explicitam o quão fundamental a indústria se tornou para a geração de empregos no Estado. No brasil, houve um crescimento de 82,5% no número de empregos na indústria entre janeiro e agosto deste ano.
Nos primeiros meses, a indústria criou 343.924 novos postos de trabalho no período, um salto em relação aos 188.427 registrados em 2023. Desse total, 71% das vagas foram ocupadas por jovens entre 18 e 29 anos, demonstrando a importância do setor para a geração de oportunidades para os mais jovens.
Apenas em agosto, foram criados 51.634 empregos industriais, sendo que 50.915 vieram da indústria de transformação (98%). Os destaques foram para: Alimentação (18.455), Automotivo (3.846), Borracha e Plástico (2.898), Couro e Calçados (2.808), Derivados e Petróleo (2.762) e Móveis (2.706).