O velho PT contra Zanin

Demóstenes Torres

A fração radical de certa esquerda errada supõe que vitória para chefiar Executivo implica domínio sobre o Legislativo e o Judiciário. Olha o caso do PSol. Está com 13 deputados federais, 2 deles suplentes assumidos, e arvora poder de mando nos demais 500, incluídos os 68 do PT, seu partido-mãe. Ocupa 1 ministério, o dos Povos Indígenas. E se considera apta a dar pitacos, veja só!, no Supremo Tribunal Federal. A que ponto chegamos!, o de inflexão, pois ceder a essa minoria extremista seria o início da curva para o despenhadeiro.
Uma parte dos petistas tem noção do que é administrar um país com as dimensões territoriais e demográficas do Brasil, tanto que nas 9 eleições presidenciais diretas venceu 5 e ficou em 2º em 4. Outra, anacrônica, já sai da campanha bufando rumo às vinganças. Nesta estão o velho PT e seus aliados neoextremistas. A vítima da vez é o ministro do STF Cristiano Zanin, grande pensador e pesquisador do Direito.
Zanin prestou serviço ao Brasil ao enfrentar com inteligência, estratégia e denodo as atrocidades cometidas pela Operação Lava-Jato, que quebrou a economia brasileira e redundou na crise pós-2014. A tese de Zanin teve como resultado final o retorno de Lula ao Palácio do Planalto. Se dependesse da inteligência dos esquerdistas, ele estaria até hoje preso no Paraná, Janja de vigília na praça em frente à Polícia Federal, Moro & Dallagnol reinando na república – e esse era o menor dos paradoxos.
O juiz de 1ª instância dominava o Ministério Público Federal, passava por cima da jurisprudência dos tribunais superiores, interpretava a seu modo a Constituição e redigia decretos-leis nas entrelinhas dos códigos. Só parou quando a sabedoria de Zanin lhe impôs freios. Alguém destemido igual a ele, que peitou os tresloucados da Lava-Jato armado unicamente da razão, não vai mexer um cílio de preocupação com a gangue das absurdetes.
A anatomia dessas personagens ficou louca, pois em lugar do cérebro encheu-lhes de vento a caixa craniana. Reclamam porque Zanin votou contra os traficantes, contra equiparar LGBTQIA+ a raça, contra ladrões de pequena monta e contra indígenas. Nada disso ocorreu, pois não houve contra ou a favor e, sim, aulas de bom senso, conhecimento jurídico e consentaneidade temática.
Seus votos são tecnicamente irretocáveis, como também o foram as peças em defesa de Lula. Discorde de suas opiniões, mas conheça os argumentos antes de os combater. A chance de os caluniadores terem lido os textos de Zanin é a mesma de ganhar sozinho a Tele Sena de Independência sem comprar o bilhete da loteria de Silvio Santos.
Caso se dessem a alegria de saborear os escritos de Zanin, os detratores fariam reverência, em vez de memes e mimimis. Nem finjam surpresa. Bem antes de o Senado o aprovar, deu o spoiler: é católico, contrário a judicializar atribuições do Congresso como liberar droga e criminalizar aborto. Ou seja, até agora enganou exatamente ninguém. Os rótulos que o esgoto virtual lhe atribui não colam. Os que discordam de Zanin têm de ir atrás de seus representantes no Congresso Nacional – pautas polêmicas estão no STF porque parlamentares correm para longe de desgaste. Em vez de quererem sujigar o Supremo, deveriam cobrar daqueles cujos números digitaram nas urnas. Ministro de tribunal é refém somente de princípios e convicções, não de pessoas. Nem ministro da eucaristia decide sob pressão – levado às cordas, escapa com as hóstias e o achacador sai sem cear. Respeito é o mínimo que Zanin merece por rejeitar amarra ideológica.
Entre uma tragada e outras, muitas outras, a esquadrilha da fumaça queima os dedos nas guimbas digitando vorazmente nas redes sociais que Zanin não é progressista. Sabe-se lá de onde tiraram esse novo sinônimo do positivista lema da Bandeira, porém apologia da dependência química é atraso. Publiquei aqui no Poder 360 (8.ago.2023) um apanhado das consequências de legalizar drogas. Houve protesto, todavia ninguém desmentiu as informações do fracasso no Uruguai (73% dos usuários adquirem maconha de traficantes, não do governo), nos Estados Unidos (exército de zumbis comprando petrechos em caixas eletrônicos nas ruas de Nova York). Que Deus nos proteja para não piorar o já péssimo efeito das cracolândias no Brasil. Só nos resta Ele. E Zanin. E poucos mais.
Esquerdistas rancorosos fazem de cada perfil escritório do crime contra a honra dos corajosos que afrontam suas frases feitas. No caso que equiparou homofobia e transfobia a injúria racial, Zanin foi uma exceção. Detesta homossexuais? Não. Simplesmente, técnico: informou que a comparação entre discriminar alguém pela cor da pele ou pela orientação sexual não havia sido pedida.
Debitaram derrota a Zanin pelo voto vencido na absolvição de dois acusados de furto de quinquilharias. Todavia, se manifestou pela coerência das decisões da Corte, que observa a reincidência ao lembrar o princípio da insignificância. Quem votou diferente almeja o contrário? De forma alguma. Manter ou mudar o entendimento do STF é característica de sua independência. Os radicais de esquerda e de direita têm imensa dificuldade de entender a convivência democrática de um colegiado tão plural em sua singularidade.
A perseguição do dia foi prévia. Sem saber uma vírgula das páginas, a trupe de toupeiras criticou Zanin por acompanhar Gilmar Mendes num magistralmente fundamentado relatório sobre violência policial denunciada por indígenas do Mato Grosso do Sul. Como se sessão do STF fosse o tempo inteiro Fla x Flu ou Corinthians x Palmeiras, gente que desconhece a argumentação e os fatos postou que quatro ministros haviam sido contra duas tribos do Mato Grosso do Sul. Fake news total. Porém, seria exigir demais que quem se dedica a enxovalhar a honra de autoridades analise documentos antes de publicar as ofensas. O tiroteio se intensifica para tentar influir noutra causa de líderes indígenas, a do Marco Temporal, que está de volta à discussão. Muito ruído por nada. Se barulho definisse súmula, baile funk passaria ao vivo na TV Justiça. Os ministros vão ouvir apenas a própria consciência.
A gritaria contra Zanin cumpre um propósito da esquerda, colocar cotista no Supremo. Nada impede que ali haja 11 mulheres ou 11 homens, 11 negros ou 11 brancos, 11 índios ou 11 madeireiros, 11 LGBTQIA+ ou 11 héteros, 11 ateus ou 11 terrivelmente religiosos. Afinal, para integrar o STF basta ter mais de 35 e menos de 70 anos, notável saber jurídico e reputação ilibada.

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Alan Ribeiro
Alan Ribeiro

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