Por Rodrigo Silva – Arqueólogo
O Gólgota, também conhecido como o Calvário, é o local onde Jesus Cristo foi crucificado e morreu. Mas, como era esse lugar? E onde ele está localizado? Neste texto, abordarei algumas informações a respeito do lugar da crucificação de Jesus, tão importante no episódio da morte de Jesus.
Gólgota
Depois de ser humilhado e assediado carregando sua cruz pelas ruas lotadas de espectadores furiosos, levando ao local da execução, Jesus de Nazaré foi crucificado em “um lugar chamado Gólgota, isto é, o lugar da caveira” (Mateus 27:33).
Gólgota está localizada em Jerusalém, na atual Israel. O nome “Gólgota” vem do hebraico “Gulgoleth”, que significa “caveira”, (em aramaico é Gûlgaltâ e o equivalente grego é kranion). Na descrição da Bíblia, Jesus foi levado para a colina do Calvário, também conhecida como apenas Calvário, para ser morto e torturado publicamente.
O lugar onde Jesus foi crucificado era um local público de execuções fora dos muros da cidade de Jerusalém. É possível que tenha sido uma colina natural, mas alguns estudiosos sugerem que ela foi construída pelos romanos para ser usada como um local de execução. Embora não existam evidências físicas do local exato da crucificação de Jesus, a tradição aponta esse lugar como lugar onde ele foi crucificado.
Na época de Adriano, em 135 d.C., ocorreram mudanças significativas na geografia do lugar, incluindo a construção de templos para divindades romanas como Afrodite e Júpiter, em Jerusalém, que passou a ser chamada de “Aelia Capitolina” pelos romanos.
De acordo com Jerome Murphy-O’Connor, apesar das alegações de Jerônimo e de textos bizantinos tardios, o local mais provável do templo é, na verdade, o Santo Sepulcro. Essa é uma afirmação interessante, uma vez que em 326 d.C., o filho de Helena, Constantino, iniciou a construção da Igreja do Santo Sepulcro, que abrange a Gólgota – o local da crucificação – e o túmulo de José de Arimatéia, onde Jesus foi sepultado e ressuscitou.
Em seu Guia Arqueológico de Oxford, Murphy-O’Connor resume a história e a arqueologia da Igreja do Santo Sepulcro e considera as possibilidades de alternativas. Ele conclui que “muito provavelmente” este é o lugar onde Cristo morreu e foi sepultado.
A Basílica do Santo Sepulcro
Hoje, o espaço considerado o lugar da crucificação de Jesus se tornou a Basílica do Santo Sepulcro. Essa história tem início quando o imperador Constantino enviou sua mãe, Helena, a Israel no século IV d.C., visando encontrar a Vera Cruz de Jesus. Em sua busca, ela encontrou alguns artefatos que indicavam que ali teria sido localizado o Monte Calvário (Gólgota), onde Jesus foi crucificado.
O imperador então destruiu o templo romano sob a colina (um templo feito em honra à deusa Afrodite), para cavar e encontrar possíveis novos artefatos, e teve como resultado o achado de túmulos judaicos escavados na pedra. Um templo ali foi construído e ampliado com o passar dos anos, destruído e restaurado algumas vezes, até se tornar a Basílica do Santo Sepulcro.
Hoje em dia, seis comunidades cristãs diferentes como gregos, armênios, etíopes, sírios, coptas e franciscanos preservam e visitam o lugar. Embora a interação entre eles seja quase inexistente, a mistura de culturas, rituais e cânticos de cada grupo torna o Santo Sepulcro um lugar muito rico e plural para a experiência dos visitantes, independente de qual for a sua crença.
Gólgota na Bíblia
As referências ao lugar da crucificação podem ser encontradas nos Evangelhos, nas seguintes passagens:
“E, quando chegaram ao lugar chamado a Caveira, ali o crucificaram e aos malfeitores, um, à direita, e outro, à esquerda.” (Lucas 23:33)
“Chegaram a um lugar conhecido como Gólgota, que significa Lugar da Caveira.” (Mateus 27:33).
“Levaram Jesus ao lugar chamado Gólgota, que quer dizer Lugar da Caveira.” (Marcos 15:22)
A crucificação como método de tortura
A crucificação foi uma das formas mais cruéis e desumanas de punição utilizadas na Antiguidade. No mundo romano, essa técnica de tortura era destinada a criminosos considerados perigosos, como rebeldes e todo tipo de gente que desafiava a autoridade romana. A prática consistia em prender a vítima em uma cruz de madeira, onde ela era deixada exposta sob o sol e o tempo, sem qualquer tipo de conforto ou assistência médica.
O processo de crucificação causava à vítima uma morte lenta e agonizante. A falta de alimentação e água, a exposição ao sol e o sangramento provocado pelas perfurações dos pregos em suas mãos e pés, levavam a uma morte por exaustão e asfixia. A cruz onde a vítima era presa era posta em um local público propositalmente, para que outras pessoas pudessem assistir e entender as consequências de seus atos.
Apesar da crueldade inerente à crucificação, ela era vista pelos romanos como uma forma eficaz de dissuadir outras pessoas de cometerem crimes semelhantes. A mensagem era clara: quem desafiasse o poder romano seria punido de forma cruel e sem piedade.
Com o tempo, a crucificação foi abolida como pena de morte, principalmente após a conversão do Império Romano ao cristianismo, no seculo IV depois de Cristo.