Quando você é o comandante de um navio, as vidas de cada membro da tripulação e dos passageiros são sua responsabilidade. O motorista do carro, ônibus ou qualquer veículo terrestre também é responsável por todos que entram em seu automóvel. Em um avião, o piloto tem em suas mãos as vidas de todos que embarcam. Não é pequena a responsabilidade de quem se propõe a estar no volante. Por isso, no Brasil a tolerância de álcool para motoristas é de 0,34 decigramas por litro no sangue. Os Estados Unidos são um dos países mais tolerantes e permitem 0,80 decigramas por litro no sangue.
Em “O Voo”, filme de 2012 do lendário cineasta Robert Zemeckis (de “De Volta para o Futuro”, “Forrest Gump: O Contador de Histórias” e “Contato”), a queda de um avião que transportava passageiros de Orlando a Atlanta torna o piloto, Whit Withaker (Denzel Washington), alvo de investigações pelo NTSB, uma agência que investiga todos os acidentes aéreos em território estadunidense. Apesar das dificuldades climáticas no dia e de falhas técnicas no avião, testes toxicológicos mostram que os níveis de álcool do piloto estavam acima do tolerável e que ele havia usado cocaína horas antes de decolar no fatídico voo que deixou quatro vítimas.
Conforme as investigações avançam, os olhos das autoridades estão cada vez mais atentos aos movimentos de Whit, que não acredita ter problemas de dependência química, mas precisa se manter longe de álcool e drogas. No entanto, a cada hora que passa, ele percebe que provar sua sobriedade é mais difícil do que ele imaginava. Em sua atuação, Denzel transmite, como sempre magistralmente, sua ansiedade em relação à possibilidade de culpa, com seus olhos que piscam desenfreadamente, a pele do rosto sempre molhada de suor e o tom de sua voz que demonstra nitidamente o nervosismo de quem não tem certeza se foi culpado ou herói.
Neste drama dividido em três atos: a queda do avião, a investigação e o julgamento, acompanhamos com uma tensão quase hitchcockiana de quem parece temer os resultados, incertos de quem é a culpa e querendo que as evidências demonstrem que a tragédia foi falha mecânica e não humana. Até mesmo, porque apesar da evidente dependência química de Whit, talvez o acidente estava fadado a acontecer. Se fosse outro piloto, o voo teria sobreviventes?
Destaque para a cena da queda do avião, uma reprodução aterrorizante e realista, que nos deixa completamente apreensivos e segurando nos braços do sofá. Definitivamente uma cena que demonstra o poder de Hollywood em produzir sonhos e pesadelos e transportar os espectadores diretamente para dentro deles. Zemeckis é um dos diretores que mais fazem jus à arte de trazer a ilusão e a fantasia para dentro da casa do público e este filme é um de seus melhores exemplos.
Filme: O Voo
Direção: Robert Zemeckis
Ano: 2012
Gênero: Drama
Nota: 8/10