Welliton Carlos*
O governador Ronaldo Caiado realizou discurso histórico no último domingo. No advento da posse para segundo mandato, executou um apanhado das cassandras que encarou e dos atentados que Goiás sofreu até conquistar resultados positivos: Caiado herdou dívidas de R$ 6 bilhões ou mais e tinha em conta R$ 11 milhões.
Goiás estava um lixo no momento em que assume seu primeiro governo: impedido de fazer empréstimos, conforme o Tesouro Nacional; dívidas milionárias com prefeituras, hospitais, universidades e fornecedores. São dados públicos, históricos, notórios e irrefutáveis. Qual deles não é verdade?
Em seu discurso, o gestor trouxe também um hipoícone: “Goiás era a Disneylândia da corrupção”.
Aos que gostam do Caiado parlamentar, o discurso de domingo nos transportou ao passado de orador alegórico, aguerrido e munido de documentos para atestar o que fala. Esse é o Ronaldo que praticamente expulsou Anthony Garotinho e caterva da política.
E detalhe: fez o discurso sem buscar ganho político. Afinal, já estava reeleito! Não precisava disso. Mas o fez para registrar na história o que se passou em Goiás e que deve ser motivo de debates, pesquisas de mestrado e doutorado nas faculdades. Logo, sua verve tinha pleno interesse público.
A preleção pode ter feito muitos se agacharem de dor. Protagonistas do vandalismo, por exemplo, devem ter reclamado. Paciência. Escrito com a alma, o discurso é melhor para ler, entender e ouvir do que o descompromisso com a verdade.
A função do discurso na política, desde sempre, foi esclarecer fatos e alertar a história. Se o discurso apenas tece loas, então não é discurso, mas panegírico.
É este o espírito do discurso de Cícero ao falar para Catilina: apontar falhas e mirar o futuro. O tribuno romano finaliza o primeiro parágrafo colocando pingos nos is: “Quem, de entre nós, pensas tu que ignora o que fizeste na noite passada e na precedente, em que local estiveste, a quem convocaste, que deliberações foram as tuas?”.
Marco Túlio Cícero entrou para a história a partir da firmeza das acusações morais que fez contra conspiradores, como Catilina, um personagem fugaz da história. Foi justamente o discurso de Cícero que atravessou os tempos e enquadrou o medonho Catilina, o jogando para o rodapé dos tempos.
Longe de Roma, mas nem tanto, o discurso em Goiás trouxe momentos engraçados (como quando relembra de passagem do político mineiro Zé Maria Alckmin) e programáticos, quando fala o que pretende fazer daqui para frente. “ (…) cidadania é autonomia, cidadania é independência, cidadania jamais será herdar um cartão de transferência de renda”.
O gestor está ciente de que não basta cheques e créditos para a população. É preciso organizar a economia de tal forma que exista grande oferta de vagas de emprego, tendo como missão a prosperidade do empresário (que gera empregos) e do trabalhador (que efetua a produção).
Como gestor, Caiado fez alerta para a sociedade civil: “ [ele pretende] Pactuar com as famílias que a educação seja a prioridade total delas. Pactuar com as cidades metas educacionais para que o futuro seja muito melhor”.
Polissêmico, o discurso serve a muitos ouvidos. Mas é claro para todos: Goiás sofreu degradação moral nas últimas décadas. E hoje estancou, ao menos momentaneamente, os horrores que ocorriam com recursos públicos e nossa imagem de povo probo.
A mensagem na maior parte do discurso é do que foi feito. E do que será daqui para frente. O discurso histórico foi publicado no DM, na última segunda-feira, 2, e em outros portais. É de bom alvitre guardar este documento para a história.
Advogado, jornalista, mestre em Direito e doutor em Sociologia pela Universidade Federal de Goiás (UFG)
Welliton Carlos é colaborador do Blog do Alan Ribeiro – Jornalismo de Verdade