
Ronaldo Caiado, Candidato a reeleição no debate da TV Anhanguera / Rede Globo
Welliton Carlos da Silva
Políticos de Goiás se enfrentaram na noite de terça-feira, mas saraivada de críticas eclipsou maioria das propostas. Ao defender governo, Ronaldo Caiado foi o mais exigido. Líder do União Brasil se sobressaiu com dados e protagonizou maior parte das tensões com segurança. Cintia Dias (Psol) surpreendeu os demais candidatos, com mais firmeza e desenvoltura
Em um dos últimos eventos importantes do calendário eleitoral, antes das eleições de domingo, 2, o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) enfrentou um revezamento de candidatos críticos à sua gestão durante o debate realizado pela TV Anhanguera na noite desta terça-feira, 27, e se sobressaiu com números e dados que já estão sob domínio da população, os quais está acostumado a lidar e citar na gestão pública.
Apesar do debate não trazer novidades, o encontro foi quente, tendo apenas Edgar Diniz (Novo) mais suave em seus posicionamentos e focado totalmente em propostas. Os demais partiram para o conflito – ou para o ataque ( todos os demais) ou para defesa (Ronaldo Caiado, Major Vitor Hugo e Gustavo Mendanha).
O ponto alto do encontro foi o embate direto de Caiado com os mais incisivos, caso de Cintia Dias (Psol), que saiu da coadjuvância na campanha para ser uma das melhores debatedoras no encontro. Foi criativa nas respostas e revelou desenvoltura em diversos temas, como meio ambiente e transporte.
Cintia Dias, do Psol: protagonismo no debate da TV Anhanguera e críticas aos adversários da “direita”
Líder das pesquisas de opinião, distante mais de 30% do segundo colocado, Caiado estaria eleito no primeiro turno se as eleições fossem hoje. Devido ao quadro confortável, já sabia que seria alvo de todos e optou em buscar um debate programático e gradual. Iniciou na defensiva ao trazer à tona o sucesso do Regime de Recuperação Fiscal (RRF), elogiado por outros candidatos, como o postulante do Novo, mas usou também suas perguntas para colocar em dúvida as experiências de gestão dos adversários.
Por vezes, o candidato à reeleição precisou revidar aos questionamentos formulados reiteradamente pelos adversários, caso de Gustavo Mendanha (Patriota) e Major Vitor Hugo (PL), que perderam o protagonismo para Cintia Dias, na medida que avançou o encontro midiático.
Gustavo Mendanha (Patriota) reafirmou apoio a Jair Bolsonaro, apesar de Vitor Hugo ser o apoiador “oficial”
Major Vitor Hugo também foi questionado. Primeiro por posições radicais e bolsonaristas, depois pelo conteúdo das propostas. Foi abatido por Cintia quando escalado para tratar do desencontro das políticas públicas de meio ambiente, produção agrícola e excesso de ideologização da gestão Bolsonaro.
E Gustavo Mendanha sofreu réplicas fortes e contundentes ao provocar Caiado. O ex-prefeito de Aparecida fez um jogo arriscado ao concentrar energias no governador e esquecer-se que disputa diretamente votos bolsonaristas de Vitor Hugo.
Dados
Diante da metralhadora giratória, o governador citou dados da Fazenda Nacional, orçamento público, balanços de sua gestão de três anos e oito meses, enquanto o grupo de candidatos tentou encaixar golpes genéricos sobre temas que não estão na agenda da campanha – abafamento de CPI da Saúde, violência policial, transporte, etc.
Os temas de saúde, agronegócio e infraestrutura foram dominantes. Caiado foi melhor ao responder, principalmente, sobre saúde e segurança.
A maioria errou a expressão “Entorno do Distrito Federal”, nomenclatura de lei e histórica de desenvolvimento econômico, e a substituiram incorretamente por “Entorno de Brasília”, cujo “entorno” tem cidades-satélites como Sobradinho e Taguatinga e não municípios goianos.
Wolmir estava fora do tom: misturou gestão pública e privada. Chegou a inserir a busca de investimentos para o Estado no debate sobre origem do secretariado. “Eu conheço mais de 50 países no mundo…”, disse. Por vezes, o ex-reitor da Pontifícia Católica de Goiás (PUC) estava completamente perdido. O comentário dos países, por exemplo, soou presunçoso e corroborou a crítica de que seria desinformado sobre a realidade do Estado. E Caiado não perdoou, de fato, ao falar que o político petista não conhece Goiás.
Ao partir para o ataque, Wolmir Amado (PT) se uniu ao candidato bolsonarista e concordaram com a tese de que Goiás precisa de um “governo técnico”. A dobradinha serviu para atacar Caiado, que tem quadros de outros estados em seu governo, mas claramente técnicos, como cogitados pelos dois oposicionistas.
Após Ronaldo Caiado sair do foco, sobrou espaço para Cintia avançar nas críticas, que chegaram a Vitor Hugo e Mendanha.”Estamos falando de um governo que incentiva a morte de mulheres, morte do movimento negro, do planeta”, disse, ao responder o candidato do PL sobre a gestão Bolsonaro.
Sua desenvoltura foi surpreendente, incomparável, por exemplo, com Wolmir, que soube pouco articular as pautas progressistas.
Enquanto Diniz seguiu um ritmo programático e focado no liberalismo, Vitor Hugo insistiu em temas como corrupção, CPI de saúde, ideologia de gênero.
Embate direto tem mais perdas do que ganhos para Mendanha
Sem avançar nas pesquisas, Gustavo Mendanha tentou usar o debate para soar indignado e crítico ao governador Ronaldo Caiado. Reclamou da política de saúde, se apresentou como gestor influenciado por Israel e defendeu política salarial justa para servidores.
Se colocou também como herdeiro político de Maguito Vilela e citou a ex-secretária de Educação Raquel Teixeira (PSDB), que teve uma passagem polêmica na Secretaria de Educação de Goiás – com movimento de tomada das escolas por secundaristas e fracasso na tentativa de discutir o emprego de OS’s na educação pública.
Mas as críticas soavam inofensivas, ao passo que as críticas de Caiado eram diretas e mais ferinas, muitas delas de background, como quando tenta mostrar que o político seria teleguiado. “Prefeito que herdou tudo realizado por Maguito Vilela, nunca governou sua cidade. Sem obras. Totalmente omisso”, disse o governador, ao ser abordado por Gustavo Mendanha (Patriota), que criticou sua gestão em saúde.
Após provocado uma segunda vez, Caiado atualizou números de Aparecida e disse que Mendanha diminuiu 30 creches da cidade em relação ao governo anterior de Maguito Vilela. Lembrou da falta de infraestrutura e ausência de políticas sociais. “Tem 30% da cidade sem asfalto, o parque tecnológico lá virou capoeira. Sujeito não tem uma obra!”, disse Caiado, que seguiu com respostas contundentes, como quando falou que Mendanha terceirizava sua gestão: “Meu governo é governado por mim. Não é pelo Tatá e André não”.
A crítica diz respeito aos antigos secretários do governo de Mendanha, em Aparecida de Goiânia, que, segundo Caiado, decidiam pelo político aparecidense.
O governador foi para cima do ex-prefeito ao tratar da distribuição orçamentária: disse que Mendanha tinha dinheiro em caixa para políticas sociais, mas não teria ajudado os vulneráveis do município durante a pandemia. “Não teve coragem de dar uma cesta básica para o cidadão. Sequer olhou pela pobreza”, disse Caiado.
Militância distribui memes pós-debate
Após o debate da TV Anhanguera, os militantes começaram a distribuição dos memes por meio de aplicativos. Em um deles, a candidata do Psol, Cintia Dias, é vestida de mulher maravilha.
Imagem que circulou como meme após debate quente
Nos grupos caiadistas, uma imagem de dentro e de frente do debate mostra Caiado em pé e altivo e Gustavo Mendanha ao lado, sentado, em movimento que lembra um enxaguar de choro, com movimento da mão no canto do olho. Em alguns memes, a imagem segue acompanhada com uma frase – “Era melhor quando ele não vinha”.
Em muitos grupos a foto, não creditada, circulou como “resumo” do enfrentamento, na ótica dos seguidores do líder do União Brasil.