
Welliton Carlos*
Tem se falado muito nesta semana sobre a reflexão de Gustavo Mendanha (Patriota), candidato ao governo de Goiás, sobre a Enel. O que se diz é que ele resolveria os problemas da Enel dando dinheiro para a empresa, que não é brasileira, nem pública. Sua manifestação tornou-se viral nos últimos dias, já que soou surreal.
O candidato disse que daria dinheiro para uma empresa que já se comprometeu contratualmente a resolver os problemas energéticos de Goiás no passado. Sim, devolveríamos o valor pago pela Enel aos goianos (cerca de R$ 2 bilhões) para ela resolver o problema que se comprometeu a resolver. Mais ou menos isso a matemática: ganhamos R$ 2 bi (o que já foi péssimo negócio) e depois devolveríamos, como foi aventado, outros R$ 2 bi para a empresa.
Mas não vem ao caso este debate aqui. Gostaria de lembrar, sob o ponto de vista técnico, formal e administrativo, o erro mais grave da campanha: o candidato não estudar os temas mais pertinentes para debater o Estado. É fundamental estudar.
Falo com a parcimônia do professor e ao mesmo tempo do aluno, já que vivencio estas duas posições ao longo da vida por décadas.
Como professor, sou sempre cético quanto ao conhecimento totalizante, que fecha um assunto e determina a amplitude deste em categorias previsíveis. Por exemplo, jamais diria que sei Direito Constitucional ou Sociologia do Direito só por ter lecionado tal disciplina ou já ter pendurado na parede um título de doutor. Na verdade, quase admito: sei mais agora que conheço muito menos do que imaginava saber.
Normal. Como alunos, somos sempre comedidos, com medo de ser humilhado em sala de aula. Temos medo de falar besteiras.
Pois bem, é aqui que entra o pretendente a maior líder do Estado, Gustavo Mendanha. Não é possível que um candidato a tamanho cargo, qual seja, de cuidar da vida de 7 milhões de goianos, venha a público falar de Goiás sem conhecer a estrutura do objeto em análise ou mesmo as nomenclaturas mais comuns.
Trato de um caso específico que pode ter ficado no passado recente, há quatro semanas, mas que ainda está ardendo para muitos: o fato do ex-prefeito de Aparecida de Goiânia não saber sequer qual a projeção orçamentária de Goiás. No Enem seria o erro da questão mais fácil que anula até as mais difíceis.
Veja bem: uma vez que ele vai gerir o que arrecadamos, seria de bom alvitre dar uma aula aos moldes do Ciro Gomes ou de outros técnicos de Estado de como aplicará tais recursos. Mas não: em uma entrevista para a Jovem Pam News nacional ele tratou de não informar o básico. Reconheceu desconhecer a caixa de dinheiro que garantirá suas políticas públicas.
“O senhor fala de investimentos e em enxugar a máquina. Aí eu te perguntei quanto nós tínhamos para receber em Goiás. Então como você vai administrar ou vai falar em fazer tudo isso se você não sabe nem quanto o estado arrecada?”, devolveu o apresentador para Mendanha.
Como diz a sabedoria do Eclesiastes, aos olhos de Salomão: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; Tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; Tempo de matar, e tempo de curar; Tempo de derrubar, e tempo de edificar; Tempo de chorar, e tempo de rir”.
O tempo agora é de ser sério com os temas públicos. Tempo de bons debates. Tempo de respeitar o eleitor. É hora de estudarmos as leis orçamentárias, o direito financeiro, administrativo, tributário, constitucional… Tempo, candidato, de conhecer os poderes a que terá direito de exercer. Como cidadão, continuo a defender a meritocracia nos cargos públicos: a aplicação de uma simples prova básica seria suficiente para separar os candidatos que precisam estudar dos que estão verdadeiramente preparados para tentar nos guiar.
Welliton Carlos é Advogado, jornalista, mestre em Direito e doutor em Sociologia pela UFG