
A dor que mais dói!
Trancar o dedo numa porta dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem. Dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade. Saudade de um irmão que mora longe; saudade da infância; saudade do gosto da comida da mãe ou da avó; saudade de alguém que já morreu; saudade de um amigo; saudade de um lugar; saudade de alguém.
Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos.
Doem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, do toque.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Saudade é não saber.
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos; não saber como encontrar tarefas que cessem o pensamento; não saber como frear as lágrimas diante de uma música; não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber.
Não querer saber se está com outra; se está feliz; se está mais magro; se está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.