
Governador do Distrito Federal se reaproxima de Ronaldo Caiado, afastando ilusões de que seria cabo eleitoral oposicionista na região. Entorno do DF reúne maior bolsão de votos depois da região central do Estado.
Os elogios do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), durante inauguração de obras em Valparaíso de Goiás, na terça-feira, 6, revelam uma tendência acentuada daqui para frente: o Entorno do Distrito Federal, que abriga quase um milhão de votos, a maior região do Estado depois do conurbado de Goiânia, pode seguir em peso com Ronaldo Caiado (União Brasil) na disputa de outubro.
Ibaneis disse que Ronaldo Caiado é o melhor governador da história recente de Goiás. Mas também teceu críticas aos gestores passados, que deixaram de fazer obras estruturantes, como a que ele e Caiado inauguraram – o Sistema de Abastecimento Corumbá IV. “Lembrando que ela havia sido inaugurada cinco vezes por outros governadores, mas sem água”, disse Ibaneis, em referência as gestões do PSDB, em Goiás, criticada pela grande quantidade de obras inacabadas e que em muitos casos demandaram décadas para finalização.
Ao longo das últimas dez eleições, nenhum gestor de Goiás foi eleito sem ter a maioria na região. Ainda que desenhada de forma acentuada no final dos anos 90, a área que circunda o DF sempre rendeu bolsões de votos significativos para as disputas, formando contrapeso aos quatro outros nichos de votos – a região metropolitana de Goiânia, Anápolis, Sudoeste goiano e Norte.
Em 2018, foi uma das regiões em que Ronaldo Caiado melhor se classificou, distante 30% dos votos garantidos ao segundo e terceiro colocados. A diferença: Caiado venceu o candidato governista, José Eliton (PSDB), justamente por ele, Eliton, representar um grupo político que abandonou a região. Junto de Caiado, Ibaneis foi a renovação de contrato com a população daquelas cidades. No momento são líderes isolados da disputa.
A aproximação de Ibaneis e Caiado é um balde de água fria na oposição, que acreditava ser ali a única possibilidade de virada nas eleições. Apostavam, por exemplo, nos atritos entre Caiado e o governador do DF, que ocorreram durante a pandemia, devido a disputa de vacinas. As rusgas ficaram para trás. Inicialmente, o indicativo é de que Ibaneis não servirá de cabo eleitoral dos opositores. E mais para frente, talvez com influência de Daniel Vilela e Baleia Rossi, presidente do MDB, virar apoio oficial.
Complexidade
Região complexa, com pessoas originárias de estados diferentes e em franca ascensão econômica, o Entorno guarda dois goiases: o Goiás profundo e tradicional, caso das famílias históricas de Luziânia, Corumbá de Goiás e Pirenópolis. E o Goiás contemporâneo, com grande influência de Brasília, caso de Águas Lindas, Novo Gama e Valparaíso de Goiás.
As chances de uma candidatura de Womir Amado (PT), Gustavo Mendanha (Patriotas) ou Major Vitor Hugo (PL) vencer a disputa ao Palácio das Esmeraldas sem excelente desempenho no Entorno é próxima de zero.
A aproximação de Ibaneis e Caiado fecha de vez o acesso de candidatos que sequer tem onde ir e o que fazer no Entorno. Do mesmo partido do governador do DF, Daniel Vilela terá protagonismo nesta aproximação, uma vez que realiza permanente diálogo com prefeitos da região – caso do emedebista Pábio Mossoró, prefeito de Valparaíso.
O apoio de Ibaneis repercute no MDB e União Brasil goianos, já que Caiado pode apoiá-lo à reeleição.
Estes apoios funcionam da seguinte maneira: os moradores do Entorno muitas vezes votam em Brasília. Não existe uma lógica, mas a proximidade das duas regiões faz com que ocorra um intercâmbio frenético de apoios e candidaturas das unidades diferentes.
Além dos apoios estratégicos, tanto Ibaneis quanto Caiado fizeram o dever de casa na região, com foco na proteção social. Caiado faz pessoalmente gestão em defesa da distribuição de políticas sociais para moradores vizinhos de Brasília. O Entorno tem recebido moradias e cartões sociais, que representam significativa mudança na qualidade de vida da população. Foi no Entorno uma das primeiras ações na área de educação: Caiado declarou, em 2019, inaceitável o quarto turno de aula nas escolas públicas, fato que provocava indignação e bullying dentre os jovens. O mal-estar era geral. Os estudantes se espremiam em horário de almoço para ter aulas, já que não encontravam disponibilidade nas turmas matutinas, vespertinas e noturnas. Ao acabar com a prática, a Secretaria de Educação de Goiás ganhou pontos e confiança com moradores.
Welliton Carlos da Silva – Diário da Manhã