No domingo (27/2), Putin pediu a seus militares que coloquem as forças nucleares do país em “regime especial de alerta”.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin (foto em destaque), subiu o tom das ameaças na guerra com a Ucrânia ao ordenar, nesse domingo (27/2), que seus militares coloquem as forças nucleares do país em “regime especial de alerta“.
Na prática, o anúncio sinaliza a cólera do mandatário russo pelas sanções anunciadas por Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia, em um claro recado à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), e “convida” – com uma arma apontada para a cabeça – a Ucrânia a sentar-se à mesa para negociações. A avaliação é da pesquisadora Larlecianne Piccolli, doutora em estudos estratégicos internacionais pela UFRGS e diretora do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (Isape), em conversa com o Metrópoles.
Em reunião com seus ministros da Defesa, Serguei Choigu, e do Estado Maior, Dmitry Yuryevich Grigorenko, no Kremlin, Putin destacou que as nações ocidentais tomaram “ações hostis” contra a Rússia e impuseram “sanções ilegítimas” após a invasão da Ucrânia.
“O que significa colocar esse modo especial de prontidão? Em tempos de paz, o sistema não pode transmitir ordem de lançamento de ataques nucleares. É como se os ‘circuitos elétricos’ estivessem desconectados. Com o regime especial em alerta, o sistema é colocado em funcionamento, para que se possa haver uma resposta rápida em caso de ataques, por exemplo”, explica a pesquisadora.
Piccolli estuda a Rússia e outras potências nucleares há mais de 15 anos. Ela interpreta que a ordem de Putin para colocar a força nuclear russa em alerta máximo tem o intuito de passar dois recados: um a nível estratégico, direcionado à Otan; e outro a nível tático, para a Ucrânia.
“O primeiro-ministro é um recado a membros da Otan por esse apoio a forças ucranianas. O uso de forças nucleares representaria o fim da civilização. Isso porque entraríamos em uma lógica de um ataque nuclear ser respondido com outro ataque nuclear”, diz. “O Putin é um estrategista, e ele tem noção, ou ao menos a gente espera, que o uso de um armamento nuclear estratégico vai trazer consequências para todo o mundo”, explica a pesquisadora.
Hoje, a Rússia tem cerca de 6 mil armas nucleares e os Estados Unidos, 5,5 mil, segundo Hans Kristensen, diretor do Projeto de Informação Nuclear da Federação de Cientistas Americanos.
Após a ordem do presidente russo, a comunidade internacional rapidamente iniciou uma reação. Órgãos de segurança dos Estados Unidos dizem monitorar a situação. A Casa Branca afirmou que a medida “obedece a um padrão de fabricação de ameaças que não existem” e ponderou que a Rússia nunca esteve sob ameaça da Otan.
Já a Organização das Nações Unidas (ONU) condenou qualquer uso de armas nucleares nos confrontos com a Ucrânia. O porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, assinalou que “a mera ideia de um conflito nuclear é simplesmente inconcebível”.
“Além disso, toda essa lógica tem o fim político de forçar a Ucrânia para uma negociação. A solicitação de colocar as forças nucleares em alerta máximo vem logo depois que alguns países europeus, especialmente a Alemanha, decidiram enviar armamentos à Ucrânia“, complementa Piccolli. Ela ressalta que a Rússia tem usado sistemas de armas de uso dual no conflito, podendo disparar armas com carga convencional ou nuclear.
Por sua vez, o analista de risco político Ian Bremmer, presidente da consultoria Eurasia, afirmou no Twitter que a determinação de Vladimir Putin de deixar as armas nucleares de prontidão é uma “insanidade”. Ele ponderou, contudo, que a ameaça deve ser levada “terrivelmente a sério”.
“A economia de Putin está prestes a implodir. Sua posição geoestratégica é pior que em qualquer ponto de sua presidência. É culpa de Putin, mas uma admissão de fracasso é inconcebível, e um recuo improvável. Essa semana será incrivelmente perigosa, e não só para a Ucrânia”, analisou o especialista.
Fonte Portal Metrópoles parceiro do Blog do Alan Ribeiro