Márcio Corrêa: O inimigo é a inflação

Quando alguém deixa de pagar a conta de luz para comprar comida, é porque a situação chegou o limite e a miséria está batendo à porta. Infelizmente, esse é o caso de 22% dos brasileiros, segundo uma pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisa IPEC para ICS (Instituto clima e sociedade). Na região centro-oeste, o cenário e ainda pior: 27% das famílias já atrasaram conta de luz para comprar alimentos.

A energia elétrica acumula nos últimos 10 anos um aumento de 82% na tarifa residencial, de acordo com Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) o custo do Megawatt-hora passou de R$ 340,90 em 2011 para R$ 622,00 em 2021. Como a perspectiva de novos aumentos vai ultrapassar o índice inflacionário.

A conta de energia ilustra bem o monstro que Vamos enfrentar em 2022, que é a inflação. Combustíveis, alimentos, gás de cozinha, enfim, itens indispensáveis para os lares que são os que mais estão pressionando o índice inflacionário. Quem viveu na década de 1980 e o início dos anos 90 certamente se lembra de como os preços mudavam do dia para noite e o quanto isso penalizava a população especialmente os mais pobres.

A atual inflação tem uma série de fatores conjunturais, boa parte deles consequências da pandemia. Não é inflação por demanda, pois a economia também encontra-se estagnada, mas por escassez de produtos. Crise hídrica, alta mundial dos preços do petróleo, menor oferta de alimentos e de matérias-primas para indústria e a alta do dólar estão entre os fatores preponderantes. Desta forma, a ferramenta de aumentar os juros para reduzir o consumo de eficácia limitada.

Tudo isso ainda é turbinado, no caso do Brasil, pelo cenário de instabilidade política, que pode piorar em ano eleitoral. Mas a inflação é um problema presente e que precisa de medidas rápidas para seu enfrentamento, até para que ela não se perca o controle dela. Existe uma corrente que defende a intervenção mais incisiva do governo para controlar o preço de alguns itens fundamentais.

Por exemplo, usar os estoques reguladores de alimentos para abastecer o mercado com maior oferta de itens básicos, como arroz feijão e milho, e assim segurar um pouco a alta dos preços. Outro ponto colocado, para o qual existe até Projeto de Lei tramitando no Senado é taxar a exportação do petróleo cru e com esses recursos criar um fundo regulador do preço dos combustíveis, para criar para segurar um impacto dos reajustes.

Uma rápida intervenção governamental é necessária neste momento para não perdermos totalmente as rédeas da inflação mas são soluções de eficácia limitada. Sem um horizonte claro a respeito da política econômica e uma estabilidade institucional para dar mais segurança para investidores, qualquer medida mais incisiva de combate à inflação vai se evaporar em questão de dias. A classe política está devendo essa resposta à população. Não podemos admitir que uma família tem que escolher entre ter luz ou comida em casa.

Márcio Correia é empresário e odontólogo. Preside o diretório do MDB em Anápolis é colaborador do Portal 9 e do Blog do Alan Ribeiro.

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