
Márcio Correa*
Em 2004, um grupo de empresários avaliou, por meio de pesquisas, que a auto-estima do brasileiro andava meio capenga e resolveu criar um movimento para melhorar esse cenário. Foi lançado naquele ano, pela Associação Brasileira de Anunciantes (ABA), a campanha “Eu sou brasileiro e não desisto nunca”, que envolveu até o governo federal e buscava reacender não só o espírito de nação, mas também a economia.
O otimismo é um forte componente para o crescimento econômico, desde que o cenário ofereça condições concretas para este sentimento crescer. Hoje estamos numa situação mais complicada. Vivemos uma crise econômica que se arrasta há quase uma década e uma pandemia que ainda não sabemos quando vai de fato acabar. O resultado disto é que muitos cidadãos desistiram de batalhar no seu país e resolveram ir embora daqui. Nunca tantos brasileiros moraram fora do Brasil.
Em 2012, tinhamos 1.898.762 expatriados. Esse número saltou 122% em oito anos e tinhamos até o final do ano passado 4.215.800 brasileiros morando fora. Isso equivale a 2% da população do país. O levantamento foi feito pelo Ministério das Relações Exteriores e uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas reforça esses números: 47% dos brasileiros entre 15 e 29 anos gostaria de deixar o país, se possível. Entre 2005 e 2010, este era o desejo de 26,7% dos jovens; de 2011 a 2014, o anseio de 20,1% dessa fatia da população.
O cenário político deflagrado, com uma polarização extrema; inflação em alta, que redunda em menor poder de consumo; e desemprego nas alturas são apontados como principais fatores para esse desejo de tentar a vida fora daqui. E é uma tendência que atinge todas as classes sociais, não só os menos afortunados. A procura por visto para trabalhar em outros países têm sido muito grande também na parcela mais qualificada da população, que tem mais do que título de graduação e está no topo do mercado de trabalho.
A classe política tem uma responsabilidade muito grande de dar uma resposta isto nas próximas eleições, se comprometendo com a estabilidade econômica, com atenção social e, principalmente, com o apaziguamento político do Brasil. Este movimento migratório tem uma consequência nefasta para o país, que perde parte importante de sua mão de obra e dificulta as perspectivas de retomada do crescimento.
Mas os novos mandatários terão também que se comprometer com a fundação de um projeto de futuro que tenha a capacidade de recuperar a auto-estima e o sentimento de pertencimento coletivo de cada cidadão desse país. Algo que vai muito, mais muito além do já mencionado a campanha publicitária de que o brasileiro não desiste nunca. Isso só vai acontecer se as pessoas tiverem dignidade, condições de trabalhar e vislumbrar em uma perspectiva concreta de crescimento pessoal diante de seus olhos. Talvez será necessário mostrar, dessa vez, que é o Brasil que não vai desistir do brasileiro.
*Márcio Correia é empresário e odontólogo, preside o diretório municipal do MDB em Anápolis.
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