Consumo de carne é o mais baixo desde 1996, diz Ministério da Agricultura

Apesar do auxílio emergencial, cerca de 40% da população deixou de consumir algum tipo de produto durante a pandemia, inclusive itens essenciais, como alimentos.

Cerca de 40% da população brasileira deu adeus a algum tipo de gasto ou despesa durante a pandemia da covid-19, a despeito das medidas adotadas pelo governo para atenuar a crise, como o auxílio emergencial. A informação é do estudo “Os Brasileiros, a Pandemia e o Consumo”, realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em parceria com o Instituto FSB Pesquisa. O trabalho também revelou que, a cada 10 pessoas ouvidas, sete alteraram a dinâmica dos gastos em casa.

É o que aconteceu na rotina da dona de casa Rosa Pereira da Silva, 31 anos. “O valor do auxílio atual não é suficiente para suprir as necessidades da minha família”, diz ela. “Os alimentos estão muito caros. Frutas, carnes e coisas específicas que meus filhos gostam, hoje, consideramos luxo. Preciso gastar com arroz, feijão, óleo. O arroz (pacote) está R$ 25 e eu já comprei por R$ 12. O óleo que era R$ 3, hoje eu pago R$ 9”, queixa-se.

Além da alta de preços, o consumo das famílias foi afetado fortemente pela queda na renda provocada pelo desemprego. De acordo com o Ministério da Agricultura, na pandemia, o consumo de carne caiu ao menor nível em 25 anos. Nos primeiros quatro meses de 2021, o consumo per capita caiu mais de 4% em relação a 2020, segundo os dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Em comparação com 2019, ano anterior à pandemia, a retração foi de 14%. A estimativa de consumo para carne bovina de cada brasileiro é de 26,4 kg por ano.

Agravante

A pandemia da covid-19 veio para exacerbar os efeitos da crise econômica que já fazia parte da rotina dos brasileiros, principalmente daqueles que são desassistidos pelo governo, como explica o economista William Baghdassarian, professor de economia do Ibmec Brasília. “A pandemia foi um agravante da crise de desequilíbrio fiscal que estávamos vivendo. O país gasta mais do que arrecada e, além disso, gasta mal”, afirmou.

O economista compara a situação do país diante da pandemia à de uma família em que os membros já estão endividados quando uma pessoa adoece. “A partir disso, não existe mais limite, todos vão fazer de tudo pra ajudar a pessoa, se endividar ainda mais, entrar em cheque especial para poder resolver aquela situação”, disse. “É o que aconteceu com os países, mas, no caso brasileiro, o buraco já estava aberto.”

“O auxílio foi um gasto para reaquecer a economia, criado em um contexto de evitar uma degeneração das condições de vida das pessoas. O valor inicial era de R$ 600, pouco para garantir condições dignas de vida, mas muito para a União”, explicou Baghdassarian.

Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), destaca os principais fatores que levaram à alta dos preços dos produtos do mercado. “Deve-se considerar a desvalorização do real e o movimento inicial na primeira fase da pandemia, caracterizado pela corrida da população aos os supermercados. Houve um aumento na demanda, naquela época, por conta da expectativa de que faltariam produtos. Com isso, os índices inflacionários subiram”, citou.

Sem dinheiro suficiente, em busca de reverter a situação, a população optou por cortar gastos e retirar alguns produtos do carrinho, até mesmo os itens básicos na lista de compras. “Está muito difícil. Com esse valor do auxílio emergencial, tenho que fazer bicos para dar conta”, reclama o autônomo Alexandre Lima, 36 anos, residente em São Luís (MA). Ele reside com o filho de quatro anos e a esposa, de 32. Desempregado, ele usa o auxílio emergencial há sete meses. Antes, morava em Brasília, mas teve que se mudar em busca de novas oportunidades.

Correio Brasiliense

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Alan Ribeiro
Alan Ribeiro

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