Inflação oficial fecha 2020 em 4,52%; maior índice em quatro anos

Inflação oficial fecha 2020 em 4,52%; maior índice em quatro anos

CNN Brasil Business

Pressionado, principalmente, pelos preços dos alimentos, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que calcula a inflação oficial do Brasil, encerrou 2020 em 4,52%. Além de estar acima do centro da meta para o ano, que era de 4%, o índice é o maior desde 2016, quando a inflação do Brasil foi de 6,3%.

Os números foram divulgados nesta terça-feira (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda que acima do centro da meta, a inflação ficou dentro do limite pelo quarto ano seguido. Com margem de 1,5 ponto percentual, a margem da meta do ano passado, estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), variava entre 2,75% e 5,75%.

O resultado também veio acima do que era esperado pelo mercado, que, de acordo com a última edição do Boletim Focus, previa inflação de 4,37% para 2020.

Na avaliação da consultora econômica Zeina Latif, a pressão inflacionária observada em 2020 traz uma lição sobre a atenção dos agentes econômicos com o IPCA. “Aquela visão de que inflação no Brasil morreu, de que não existe e que pode colocar a Selic em 0…. mostrou que não é assim. O Brasil é um país com problemas estruturais e, com qualquer estímulo que você faz à demanda, a inflação volta. Então, a primeira lição é que inflação não elevada não quer dizer que a gente possa fechar os olhos”, observou.

Latif destaca que a ida ao supermercado com cada vez um pacote de compras menor é um fator que perturba a classe média do país. “É um fator de inquietação. Para as classes populares nem se diga. Quando a gente fala em inflação, geralmente os alimentos têm um peso elevado. Então, tem uma questão social, que em momentos com desemprego elevado, uma inflação elevada machuca muito uma parcela importante da nossa sociedade”, explicou.

Somente em dezembro, o IPCA avançou 1,35%, após ter registrado altas de 0,86% e 0,89%, respectivamente, em outubro e novembro. O resultado também é o maior para meses de dezembro desde 2002, quando o índice cresceu 2,10%.

Embora não veja riscos de uma hiperinflação, Latif acredita que a inflação precisa ser entendida como um alerta de desequilíbrio econômico. “Quando a inflação sobe, em função do próprio desconforto social, isso é um alerta para a gente avaliar se estamos fazendo algo errado na política econômica. É como a febre do paciente que sobe e o médico fala que não é nada. A inflação tem esse papel. Nós, como sociedade, não aceitamos mais inflação alta. Então, é muito importante os governantes estarem atentos a isso”.

Nesse sentido, a economista reforça que uma má gestão dos recursos públicos traz a inflação de volta. “É também um lembrete de que não podemos descuidar da política fiscal. O descuidado fiscal significa poder gerar alguma rigidez inflacionária no país, mesmo que não seja uma situação de descontrole, mas ainda com efeitos preocupantes. Temos um problema fiscal que alimenta a inflação”, completou.

Na mesma linha, o coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), André Braz, também defende que a política fiscal sirva de auxílio para a monetária, diminuindo a incerteza e a volatilidade do câmbio, ambos fatores que dificultam o controle de preços.

“O desequilíbrio fiscal cria uma sobrecarga na política monetária porque se a gente não encaminha bem soluções para diminuir o déficit público, a gente aumenta a incerteza na nossa economia, o que também promove a volatilidade no câmbio, que cria a inflação. Essa desvalorização cambial acumulada no ano passado, em média em 25%, trouxe desequilíbrio para a inflação porque ora favoreceu a balança comercial, desabastecendo o mercado brasileiro e fazendo preço de produtos subirem aqui, e ora encareceu os custos de produção de vários produtos contaminados pelo câmbio”, esclareceu ao lembrar que a questão da vacinação contra Covid-19 também é uma incerteza a ser melhor encaminhada para o controle da inflação em 2021.

Para Braz, o bom encaminhamento dessas questões (fiscal e vacinação) significa “entrar com o pé direito em 2021”, favorecendo uma inflação abaixo da meta.

Controle da inflação

Ao longo de 2020, como consequência da recessão econômica e dos demais impactos da pandemia de Covid-19 na economia, a projeção do mercado financeiro para a inflação despencou. Segundo o Boletim Focus, em seu menor patamar, atingido em junho do ano passado, a expectativa chegou a ser de 1,52%, número bem abaixo do piso da meta.

Com o início da retomada econômica e, assim, do consumo, estimulado especialmente pelo pagamento do auxílio emergencial, houve uma alta nos preços de alguns produtos, o que elevou as previsões para o IPCA. Apesar disso, o nível mais elevado da inflação ainda não preocupa os agentes econômicos de maneira significativa.

Embora seja o maior em quatro anos, o resultado do IPCA no ano passado ainda não é suficiente para que o Banco Central precise iniciar um movimento de alta na taxa básica de juros, que é o principal mecanismo da política monetária de controle da inflação. Uma inflação mais baixa permite a redução dos juros, já uma inflação mais elevada exige cautela e alta da Selic.

“A gente ainda não consegue separar aquilo que é absolutamente transitório de movimentos que podem ser mais duradouros, os quais exigiriam maior atenção do BC”, ressalta Latif. Ela lembrou ainda que o BC precisará avaliar o impacto do desmonte das medidas emergenciais na economia e no consumo antes de mexer na política monetária.

Veja a inflação em 2020 para cada um dos 9 grupos:

  • Alimentação e bebidas: 14,09%
  • Habitação: 5,25%
  • Artigos de residência: 6%
  • Vestuário: -1,13%
  • Transportes: 1,03%
  • Saúde e cuidados pessoais: 1,5%
  • Despesas pessoais: 1,03%
  • Educação: 1,13%
  • Comunicação: 3,42%

Só vestuário registra deflação no ano

O único grupo a apresentar queda de preços em 2020 foi vestuário (-1,13%).

“Por conta do isolamento social, as pessoas ficaram mais em casa, o que pode ter diminuído a demanda por roupas. Tivemos quedas em roupas femininas (-4,09%) e masculinas (-0,25%) e infantis (-0,13%), calçados e acessórios (-2,14%). A única exceção foram joias e bijuterias (15,48%), por causa da alta do ouro”, destacou o pesquisador.

Gasolina fecha 2020 com queda de 0,19%

Os combustíveis veiculares encerraram o ano com queda acumulada de 0,06%, pressionados pela deflação tanto da gasolina (-0,19%) quanto do óleo diesel (-3,30%). Já o etanol acumulou alta de 1,81% no ano.

“A gente teve dois meses de queda muito forte em todos os combustíveis, em março e abril, e depois tiveram uma recuperação ao longo do ano. A gasolina, por exemplo, teve sete altas seguidas, mas ainda assim insuficientes para compensar aquela perda. Além do impacto da demanda naqueles dois meses, quando as pessoas deixaram de sair de casa, houve uma queda muito forte do preço do barril de petróleo no mercado internacional”, explicou Pedro Kislanov.

Já o preço do etanol, ponderou o pesquisador, foi afetado por fatores alheios à produção petrolífera. “Ele guarda, inclusive, relação com a indústria de alimentos, já que a maior parte do etanol é produzido a partir da cana de açúcar. Se aumenta o preço do açúcar, tende a aumentar também o do etanol”, acrescentou.

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Alan Ribeiro
Alan Ribeiro

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