Enquanto o Governo do Distrito Federal fala em retomar o transporte de passageiros no trecho da estrada de ferro entre Brasília e Valparaíso (GO), por meio de um Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), o Governo de Goiás está trabalhando para a volta das viagens na antiga Estrada de Ferro Goiás, com o trem turístico.
Diferentemente da ideia brasiliense, o projeto goiano conta com estações prontas, material rodante e autorização para tráfego já concedida pela ANTT.
Depois do auge das ferrovias no Brasil, os governos acabaram por optar em não investir tanto no transporte ferroviário. Isso com fins de concentrar seus esforços e recursos nas rodovias. Um grande erro, já que o transporte sobre trilhos é claramente mais vantajoso, transporta mais por menos, é menos poluente, muito mais seguro e barato.
Porém, essa realidade vem mudando novamente. De uns anos para cá o país passou a aproveitar melhor suas ferrovias e, alguns estados passaram a investir neste setor, como o caso de Goiás, que está prestes a inaugurar um trem turístico que irá passar por 14 municípios goianos.
O programa, feito em parceria com o Ministério do Turismo, Governo Estadual, IPHAN e SEBRAE, tem como objetivo revitalizar a Região da Estrada de Ferro. Já que os trens de passageiros foram desativados na década de 90, quando o Expresso Bandeirante ligando Brasília, São Paulo e Rio de janeiro por meio da linha Brasília – Campinas deixou de operar. Das 14 estações que integrarão o projeto, quase todas foram revitalizadas, recebendo feiras de artesanato e culinária local. Apenas algumas poucas ainda seguem em processo de renovação. Alinha férrea está em ótimas condições, pois segue operacional para cargas e é utilizada pela Concessionária VL! (Vale Logística Integrada). Uma empresa privada que surgiu da aquisição da FCA (Ferrovia Centro Atlântica) que arrendou o trecho com a privatização da Rede Ferroviária Federal nos anos 90.
Este trem passará por Bonfinópolis, Leopoldo de Bulhões, Senador Canedo, Vianópolis, Orizona, Urutaí, Silvânia, Pires do Rio, Ipameri, Goiandira, Catalão e Anápolis. Algumas cidades já vem se preparando a algum tempo para receber os visitantes. Como por exemplo Silvânia, a 84 km da capital goiana, que já restaurou a antiga estação ferroviária, hotéis fazenda e inaugurou um Centro de Atendimento ao Turista.
Estação Ferroviária de Silvânia – a 84Km de Goiânia
Esse projeto, de todos os já citados, é do que está mais adiantado. Estações foram restauradas, a linha está passando por readequação e a ANTT já deu autorização para tráfego. O que falta para o trem entrar em operação é a definição do material rodante a ser utilizado, a formação da equipe operacional e definição do seu itinerário. Este trem já era para estar começando sua fase operacional no fim de 2019, mas foi adiado para 2020 que, devido a pandemia de COVID-19, foi adiado mais uma vez. A ideia é que tudo se normalize em 2021.
Este é um importante instrumento cultural e histórico que irá alavancar ainda mais o turismo no centro-oeste, principalmente em Goiás. Aproveitando-se da centenária ferrovia já existente, que trouxe o desenvolvimento para essa região no passado. Este trem irá fomentar ainda mais a economia nessa região.
Mas para os brasilienses, não há muito com o que se preocupar em ter que ir tão longe para realizar esse passeio. Este trem passará relativamente perto do Distrito Federal. A cidade de Vianópolis, em Goiás, é atendida pela ferrovia e será um dos pontos de embarque e desembarque do trem. A distância do centro da Capital do País até a Estação Ferroviária do município goiano é de 167Km. E na volta desse passeio o turista ainda pode fazer uma parada na quase tri-centenária cidade goiana de Luziânia.
Estação Ferroviária de Vianópolis – localizada a 167Km de Brasília
Um pouco de História
Em 1873, Antero Cícero de Assis, então presidente da província de Goiás, foi autorizado a construir uma ferrovia que ligasse a capital do império à margem do Rio Vermelho, partindo da Estrada de Ferro Mogiana, mas ele não obteve sucesso em seu intento.
Em 1886, houve uma nova tentativa de dotar a província de um sistema de transportes para escoamento da produção, através de uma concessão à Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, que poderia ampliar suas linhas do Rio Paranaíba ao Rio Araguaia. Dez anos depois, após a publicação do decreto 862, de 16 de outubro de 1890, o Triângulo Mineiro recebeu os trilhos da Mogiana.
Após algumas divergências políticas, ficou estabelecido através do decreto 5.394, de 18 de outubro de 1904, que o ponto inicial da estrada de ferro seria na cidade de Araguari (MG), e o final, na cidade de Goiás, então Capital da Província. A atual capital do estado só surgiria na década de 30 do século XX, na era da presidência de Getúlio Vargas. Goiânia, uma cidade planejada, foi fundada em 27 de outubro de 1933 e hoje tem 87 anos.
A estrada de ferro surgiu em 3 de março de 1906, como uma solução para os produtores, comerciantes e políticos goianos, que precisavam atender às necessidades da economia da região. Mas só veio a entrar em plena operação após o ano de 1911.
Denominada inicialmente Estrada de Ferro Alto Tocantins, de capital privado, foi autorizada a explorar o trecho de Catalão a Palmas, região que então pertencia a província goiana e que só veio a ser autônoma em 1989 com a criação do Estado do Tocantins. O objetivo era ligar a cidade de Goiás, então capital do Estado, a Cuiabá, capital do estado de Mato Grosso. Algo que nunca se concretizou. Em 28 de março de 1906, através do decreto 5.949 do então presidente Rodrigues Alves, a ferrovia passou a chamar-se Estrada de Ferro Goyaz.
Em 27 de maio de 1911, dois anos após o início dos trabalhos no marco zero da ferrovia, os trilhos começaram a ser instalados no Estado.
Em janeiro de 1920, o governo federal assumiu a administração da estrada de ferro, que através do decreto nº 13.936, foi autorizada a explorar o transporte ferroviário na região do Triângulo Mineiro e em Goiás. A linha Araguari-Roncador, com 234 quilômetros de extensão, foi incorporada à nova ferrovia. Nos primeiros anos da década de cinquenta do século XX, a Estrada de Ferro Goiás já percorria 480 quilômetros de extensão. Por ai parou.
Assim a EFG seguiu levando o progresso e o desenvolvimento para a região central do País. Uma ferrovia que transportou vidas e histórias no passado mas, hoje segue ativa transportando poucas cargas. Agora, com esse novo projeto, a Ferrovia voltará a transportar vidas carregada de histórias e magia.
Museu Ferroviário de Pires do Rio (GO)
Museu Ferroviário de Pires do Rio-GO
Para quem não sabe Goiás tem um museu ferroviário. Localizado na cidade de Pires do Rio, o museu foi criado em 1989 no espaço onde funcionava a antiga oficina de locomotivas da ferrovia. A oficina foi construída em 1940, ao lado da Estação Ferroviária da cidade e serviu de apoio e manutenção das locomotivas que faziam o percurso no estado.
O acervo é constituído de duas locomotivas a vapor, sendo uma de 1897 e outra de 1930. É composto também de balanças, máquinas, picotadores de passagens dos séculos XIX e XX, além de peças e objetos que pertenceram aos ferroviários. Objetos que estão expostos nos galpões reformados e adaptados. O Museu preserva ainda a Coleção Jacy Siqueira constituída de livros, fotografias, vídeos e documentos doados pela família de Siqueira, escritor, pesquisador e fundador do Museu Ferroviário.
O projeto museológico que foi implantado transformou o museu em centro de preservação da memória da ferrovia no Estado de Goiás. Para isso, foram realizadas ações de pesquisa e documentação do patrimônio material e imaterial. Através da coleta de documentos, fotografias e objetos, gravação de depoimentos e produção de documentário, exposição e catálogo sobre os pioneiros da ferrovia em Goiás.
O espaço abriga auditório, biblioteca e sala de pesquisa onde são realizadas exposições, mostras de vídeos, festivais, encontros de arte, artesanato e eventos literários.
Conheça mais sobre o museu:
Facebok: https://www.facebook.com/museuferroviario.piresdorio
Endereço: Av. Coronel Lino Teixeira de Sampaio, S/N, Centro
Pires do Rio – GO
Telefone: (64) 3461-5504.
Horário de funcionamento: De terça a sexta-feira, das 8h às 11h e das 13 às 17h
Sábado, domingo e feriado somente com visitas agendadas.
Fonte BSB Times