Caroline Santana: Espalhe amor

Era domingo e o almoço na casa da sogra tinha sido combinado há algum tempo. Poderia sentir o cheiro da comida na panela chegando tarde e vindo da cozinha porque também era um dia merecido de descanso. Tudo foi marcado anteriormente à pandemia que viveríamos em 2020 e nem teríamos noção do quanto nos distanciaríamos: um ano totalmente fora do nosso controle. Mas eu poderia ressignificar tudo isso lembrando da época em que sentava-me na grama de casa, curtia uma brisa junto aos passarinhos e gostava de ouvir um samba que me transportava para outras dimensões. Era uma sensação única que somente aquele momento permitia que eu vivesse.

As notícias lá fora continuavam em ritmo de caos e muitos professores haviam perdido seus empregos como muitos brasileiros nessa crise. Porém, o frescor do amor sintonizava junto àquela melodia no ar o anúncio vindo do quarto o qual dizia que era importante ficar #emcasacomolucasborges e a live seria transmitida do Quintal do Boy, às 16h, pelo seu canal no Youtube. Era uma mensagem para espalhar amor aos quatro ventos. Certeza! A animação percorria o corpo novamente, o coração salteava por mais aquele momento e as lembranças chegavam como recortes de tudo que já vivemos.

E esses pedaços de fotos reveladas faziam a composição do encontro em família onde todos podiam se aglomerar ao redor da mesa, cantarolar uma canção, sorrir entre amigos e comentar cada detalhe daquela ocasião. Todos juntos novamente. Parecia-me um sonho compartilhar o alimento como gesto de comunhão a quem amava e desejava que estivesse sempre bem. O cantor e compositor, Lucas Borges daria o ar da graça em um show com a duração de 2h30 tocando e cantando 30 músicas que estavam no roteiro dedilhado com leveza e sincronia entre samba e pagode.
Aquele cantor que eu já seguia nas redes sociais, mergulhado de coração e alma no cenário musical, que tinha nas lutas diárias um encontro com sua identidade tinha na música algo que o aproximava às pessoas. Era o carisma, o encanto, a percepção de que tudo ficaria bem e de que espalhar o amor é bastante simples e que cura muitas dores. E todos sabem que para começar a se animar bastaria ouvir a união de um pandeiro, violão, cavaco e o surdo. Já tinha uma motivação para continuar a vivendo e transportaria-me mais uma vez para àquele tempo. Ouviria o que gosto e ainda ajudaria quem mais precisa neste momento. A ordem era criar uma rede do bem, envolvida em mãos que consagravam-se em humanidade ferida. A proposta era de incentivar as pessoas a fazerem doações. Naquele ambiente pairava o valor da música brasileira e de como ela atravessa as fronteiras de suas regiões de origem levando toda sua magia e mistura.
Levantei-me para programar o lembrete, não antes de me inscrever no canal e o acompanhar pelas músicas de fácil acesso nas plataformas digitais. O cantor que aprecia um bom café publica diariamente suas canções, toca, canta e exerce seu papel como cidadão. A cultura passa por muitas transformações neste momento e nada melhor para o final de tarde que balançar o corpo todo em ritmo de festa e samba.

Dava para esquecer um pouco o que acontecia após o portão quando fomos solicitados a viver em isolamento. Toda energia negativa pelo período era transmutada para positiva. Era como vibrar em outra frequência, meditar no ritmo certo para que bons momentos pudessem ser colhidos novamente como as flores expostas no jardim de casa. Ele dizia que o ritmo era a representação da formação de um povo. Eu só desejava que essa live inspirasse a acreditar em dias com mais amor, gentileza e que ela faça-nos escrever uma lição, seja na vida ou diante das explicações de um professor no quadro cujas histórias de solidariedade precisam ser contadas e sentidas como a canção.

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Alan Ribeiro
Alan Ribeiro

Alan inicia seus trabalhos com o único objetivo, trazer a todos informação de qualidade, com opinião de pessoas da mais alta competência em suas áreas de atuação.

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