Júlio Pascoal: O Dilema Cotidiano

A inexistência de uma política central de combate a COVID – 19, abriu uma janela, para a judicialização da questão.

O Supremo Tribunal Federal, a partir dessa constatação outorgou aos Estados e Municípios, a missão de conter o avanço desse vírus letal e tratar as pessoas.
Um fato novo veio a incorporar esse cenário fatídico, as eleições municipais, marcada inicialmente para o dia 03 de outubro, mas que devido ao avanço da pandemia, deverá ser realizada em dezembro.
A crise sanitária, impõe novos contornos às eleições, uma vez que aglomerações estão proibidas em todas suas formas.
O desconhecimento de como chegar aos prováveis eleitores, consomem ainda mais as energias dos pré candidatos. Como se isso não bastasse, o período para desincompatibilização, passou a ser dúvida pois ao invés de abril, passa para a primeira quinzena de julho. Os que saíram ficam em desvantagem com os que sabiamente ficaram.
O momento político retira em parte o foco do combate a doença, no entanto o aumento do número de contaminados e mortos, assustam a todos, políticos e não políticos.
As mortes em determinados Estados e Municípios, intrigam ainda mais os médicos, pois estão fora dos grupos inicialmente considerados de alto risco.
O vírus se mostra cada vez mais democrático uma vez que não escolhe classe social e idade para atacar e matar.
Os incrédulos de plantão, buscam a toda hora justificativas para esse momento de terror vivenciado no mundo. O inimigo é invisível, a tecnologia, por mais avançada que seja ainda não conseguiu a vacina para matá-lo, pelo contrário, ele tem levado a morte milhares de pessoas no Brasil e no mundo.
Uma dúvida paira no ar, governadores e prefeitos, tomaram as medidas certas? Fecharam tudo quando tinham que fechar? Se precipitaram? Foram ousados? Há muitas perguntas, sem respostas. Mas uma afirmativa vale para todos, principalmente aqueles que não detém a caneta e o poder. Não investiram no período que estiveram à frente de seus mandatos, na saúde como deveriam ter investido. Nos Estados, cuja a doença vive seu pico, há pessoas nas filas, de hospitais públicos e privados, aguardando respiradores artificiais e não tem. Isso dão aos médicos e agentes de saúde, o triste e melancólico o direito de escolha de quem deve ou não viver. Uma vergonha para um país cuja carga tributária chega a 35% do PIB, e as taxas de investimentos em todos os setores ficam abaixo de 17%. Na saúde os 12,5% ao longo dos anos, foram mal aplicados, na maioria das vezes, foram transformados em ambulâncias, para se dirigirem as capitais dos Estados, uma vez que a grande parte dos gestores, não viam na saúde, uma questão estratégica e de sobrevivência. Os que aí estão pagam a conta da omissão e da irresponsabilidade, daqueles que apenas assistem o caos, ou que foram vítimas dele.
Não obstante a falta de investimentos, há também os desvios, superfaturamentos, alimentando os ralos da corrupção, marca registrada dos governos brasileiros. Pelo menos nesses últimos dezoito meses, o governo federal não se vê envolvido nessa lama da roubalheira.
O Presidente pode ser tudo, mas até que prove em contrário, não é corrupto, como tantos que por lá e pelos Estados, passaram colocando o cidadão, entre a vida e a morte, para garantir a luxúria, com recursos extraídos dos impostos, pago ao longo dos anos pelos contribuintes.
A negligência do passado e a irresponsabilidade de alguns que entraram, em meio a necessidade de compra de respiradores e outros equipamentos de proteção individual, acabam por expor novas vísceras, da famigerada corrupção. As notas fiscais, que vieram a público pelo portal de transparência dos Estados e Municípios, dão conta de que há irregularidades que cabem a polícia investigar e a justiça, punir se confirmadas as denúncias.
É incrível nesse país a falta de responsabilidade de alguns agentes públicos, que teimam apesar do controle por parte principalmente da imprensa, em ganhar encima de tudo, inclusive em um momento de crise sanitária. Até quando teremos que conviver com situações como estas?
Pelo visto não se trata de partidos políticos e sim, pela falta de caráter e de compromisso de parte de seus membros, para com a população, que a cada quatro anos, os colocam lá, na esperança de dias melhores.
Como se não bastasse tudo que está acontecendo, o Ministério da Saúde, ao invés de colocarem prática políticas públicas proativas, para estancar o vírus e dar a todos nós brasileiros, condições seguras, de começarmos a voltar à normalidade, entrou com uma nova ação. A de revisar o número de mortes, sob o argumento de que as secretarias de saúde dos Estados, maquiaram os números para receber mais recursos do Governo Federal.
Segundo técnicos da Fiocruz, quando se faz a revisão a tendência é que aumentem os números e quando caem, geram desconfiança por manipulação dos dados. Diante do fato reacenderam os conflitos entre o Executivo e os Poderes constituídos, tudo que não deveria ocorrer nesse momento.
O resultado dessa instabilidade político administrativa, irá recair sobre as taxas de câmbio e investimentos. O dólar que desde o mês de março, não ficava abaixo de R$5,00 tende a voltar a subir, com isso inibe a trajetória de ganhos da Bolsa de Valores, que já supera a casa de 48,0% no ano.
Os reflexos disso vem com a descapitalização das empresas, e o aumento de seus custos financeiros, por recorrer aos financiamentos nos bancos comerciais, que são repassados aos preços dos produtos, mesmo com o consumo em queda.
As montadoras por exemplo acumulam quedas nas vendas de 37,0% em outros seguimentos, as perdas já chegam a 50,0%.
O país vive um dilema cotidiano, o de casar os interesses: políticos, de combate a COVID – 19, com a retomada gradual da atividade econômica, essa é fundamental para manter tudo funcionando e ainda assegurar o crescimento do PIB, a manutenção e a geração de renda e empregos. Os economistas de agências de riscos e de outros segmentos, apontam que uma queda 6,0% do produto agregado, pode levar com que 3 mil empresas venham a requerer falência no país. Isto se verificando o quanto de receita e empregos viriam abaixo? O momento é crucial para um país, que carece de tudo, principalmente de equilíbrio entre os poderes, o cuidado com a saúde e a economia.

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Alan Ribeiro
Alan Ribeiro

Alan inicia seus trabalhos com o único objetivo, trazer a todos informação de qualidade, com opinião de pessoas da mais alta competência em suas áreas de atuação.

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