Confinamento causado pelo coronavirus é desafio para famílias

Especialista em Saúde Mental recomenda ressignação do momento de atenção especial aos idosos.

Considerado o principal artifício para o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus, o isolamento social trouxe uma nova realidade da quase toda a sociedade. Os impactos são sentidos não só na execução dos compromissos diários, como teletrabalho ou nas aulas à distância, por exemplo, mas também nas relações familiares e afetivas. Para profissionais de Psicologia, os reflexos são visíveis em pessoas de todas as idades e se manifestam de diferentes formas. Enquanto muitos se sentem mais solitários do que jamais estiveram, sem a disponibilidade do convívio com seus círculos sociais, outros tem como desafio a convivência intensificada com aqueles que sempre estiveram sob o mesmo teto.

Para o psicólogo Wadson Arantes Gama, mestre em psicologia e Presidente do Conselho Regional de Psicologia da 9ª Região, algumas dessas alterações, principalmente no convívio coletivo, vêm do fim da terceirização das tarefas e sentimentos. Com isso, explica, não é possível “jogar para debaixo do tapete” a responsabilidade que antes poderia ser transferida para o outro, como em uma suposta criação dos filhos pela escola, exemplifica ele. Com isso, conflitos antes abafados pela rotina fora de casa, que reduzia consideravelmente as horas de contato entre as pessoas, têm emergido nesse período.

“Agora, é preciso assumir uma relação de área com seu cônjuge ou com a pessoa que está em casa com você. Às vezes, a pessoa estava totalmente distante e vivia uma relação que já não era baseada na questão afetiva” diz ele. Alguns conflitos diferenças que o tempo e a distância amenizavam agora aparecem de forma evidente. Havia uma rotina e agora tudo mudou. É preciso enfrentar isso”, completa.

Jovens

Entre adolescentes, segundo Gama, existe uma dificuldade de lidar com passar do tempo, que é percebido de forma distinta nessa fase da vida. “Eles precisam se reinventar entre as quatro paredes”, diz. Já entre os idosos e até mesmo entre pessoas que estão em maior isolamento devido a outro tipo de vulnerabilidade a COVID-19, o risco é a intensificação de um sentimento de estar à margem do convívio, que poderia já estar presente mesmo antes da pandemia.

“Muitos deles já se sentem deixados de lado e se veem como um peso para os familiares. Sentiam que não podia fazer nada. Antes, podiam procurar grupos de convivência. Porém, eles não têm a mesma facilidade que as pessoas mais jovens para se adaptar as condições estão se sentindo solitários.  É importante que vizinhos ou parentes que sabem que essas pessoas estão sozinhas busquem alternativas para que elas se sintam inseridas na sociedade”, explica.

Todos esses quadros têm em comum a interrupção abrupta de todas as rotinas antes existentes, conforme analisa a psicóloga Raquel de Carvalho, Doutora em psicologia e professora pela Universidade Federal de Jataí UFJ. Esta quebra exigiu uma reestruturação mental de toda a situação. Com isso, muitas pessoas podem não saber como lidar com o “novo normal”, como classifica a estudiosa. Mas, para evitar isso, é preciso tentar ressignificar o momento. “Alguns conflitos podem surgir pela convivência forçada,  mas está também é uma oportunidade de olhar para as pessoas que estão próximas de nós e que não olhávamos com tanto cuidado pela rotina e por estarmos muito mais voltados para fora”, avalia.

Ressignificar situação em uma necessidade diz psicóloga

Dar novo significado a situação pode ser a chave para que o isolamento social não se torne o sacrifício ainda maior, segundo os profissionais da área de saúde mental. A psicóloga Raquel de Carvalho diz que é importante considerar o contexto em que o distanciamento social foi proposto à sociedade, a fim de entender que ele é necessário e tem como objetivo a proteção de si e do próximo. Ainda assim, pode ser difícil encarar a novidade, justamente por se tratar de algo desconhecido. “Este é o procedimento que está sendo adotado no mundo inteiro. Como é algo inédito, novo, causa ansiedade”, explica ela.

Comportamento

Diante disso, é preciso procurar adotar cuidados voltados para a mente e para o corpo. Assumir uma postura voltada para a produtividade, a fim de aproveitar todo o tempo ganho na nova rotina de ler muitos livros ou ver muitos fimes pode não ser saudável, segundo a profissional. Da mesma forma, ter hábitos baseados em acessos, como comer ou dormir demais, também é desaconselhado.

“É importante manter a mesma rotina que existia anteriormente e tentar de uma forma saudável para aproveitar o tempo ganho, evitando comer mal, consumir muita bebida alcoólica ou sedentarismo. É preciso encontrar o meio termo”, aconselha a profissional em Saúde Mental.

Profissionais de Saúde preocupam

Para profissionais que atuam na área de saúde estão na linha de frente ao combate a pandemia do novo coronavírus,  o esgotamento emocional pode ser mais um desafio em meio às sombras que ainda existem para enfrentamento da doença, surgida  há tão pouco tempo. Um projeto desenvolvido pela Universidade Federal de Jataí busca dar acolhimento psicológico emergencial é esse público, oferecendo cuidados com a saúde mental em meio à crise. “A psicologia tem um papel importantíssimo no acolhimento de angústias e sentimentos dos profissionais que estão nas unidades de saúde, pois, da maioria das vezes, eles se sentem sozinhos, desamparados ou impotentes diante dos desafios diários”, diz a psicóloga Raquel de Carvalho coordenadora do projeto de extensão.
De acordo com a professora, os profissionais, que se tornam pacientes, enfrentam sobrecarga emocional no trabalho e possui vários medos. “Eles temem se contaminar, enfrentam dificuldades pela falta de equipamentos de proteção individual, o medo de contaminar a família quando chegarem em casa e a carência pelo próprio isolamento. Também se sentem desamparados. Nosso propósito é oferecer essa escuta emergencial”, explica ela. Tentamos auxiliar na administração desse estresse emocional, que acaba levando a um esgotamento psicológico e ao adormecimento  físico e mental”.

Fonte: O Popular

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Alan Ribeiro
Alan Ribeiro

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