
INSTITUTO PARA FORTALECIMENTO DA AGROPECUÁRIA DE GOIÁS
Lucia Monteiro
Às vésperas do início da colheita da safra de grãos 2019/2020, os agricultores estão preocupados com a situação de muitas rodovias goianas. O grande volume de chuvas que tem caído no Estado está piorando as condições de trafegabilidade de muitas estradas, o que dificulta e encarece o escoamento da produção.
Um estudo feito pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) no ano passado concluiu que 70,6% da malha rodoviária do Estado de Goiás apresentavam algum problema, situação que deve ter se agravado com as chuvas.
Foram avaliadas todas as rodovias federais e as principais estaduais, com maior fluxo de veículos. A Pesquisa CNT de Rodovias 2019 identificou 26 pontos críticos, como erosões, ponte caída e buracos grandes, maiores que um pneu, situação considerada grave. Além disso, quase 82% das rodovias avaliadas são de pista simples e 55,4% não possuem acostamento. “A maioria das rodovias é da década de 70 e não são preparadas para o fluxo atual”, lembra o coordenador de Estatística e Pesquisa da CNT, Jefferson Cristiano.
Segundo ele, um dos piores trechos é o da GO-184, entre os municípios de Jataí e Aporé, no Sudoeste do Estado, onde há uma grande movimentação da safra.
“Os problemas se agravam nas regiões de
escoamento da safra, que recebem um grande fluxo de veículos pesados”, destaca Jefferson. A baixa qualidade da infraestrutura eleva o risco de acidentes e o custo do transporte. O estudo concluiu que as condições da pavimentação elevam em 35,2% o custo operacional médio. “Em algum momento, isso é repassado ao consumidor”, alerta.
Agora, começa a colheita da soja. Logo depois, vem a safrinha de milho. O analista técnico do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), Leonardo Machado, adverte que a situação ruim de muitas estradas, em especial as vicinais, deve afetar o escoamento da produção. Isso preocupa os agricultores, principalmente em relação ao custo do frete. “Quando o caminhoneiro precisa fazer mais reparos no caminhão, o custo sobe para o produtor.” Das 12 milhões de toneladas de soja que devem ser colhidas no Estado, 40% serão exportadas, principalmente pelos portos de Santos e Paranaguá, ao custo de R$ 110 por tonelada. Como o preço da soja é formado no porto, o aumento do frete reduz o lucro do produtor por saca. Mas também há o transporte dos grãos até os armazéns e indústrias.
Prejuízo
O produtor de soja Mozart Carvalho de Assis já contabilizou o prejuízo que terá com a situação ruim de um trecho de 35 quilômetros da GO-206, entre os municípios de Itarumã e Serranópolis, na região Sudoeste, onde fica sua propriedade, que está praticamente intransitável. Segundo ele, o custo com o transporte de soja sobe R$ 3 por saca para os produtores que utilizam a estrada para escoar a produção, uma perda de 5%. “É um ônus muito grande para um trecho tão pequeno”, lamenta. Desde que a estrada foi construída, a manutenção só é feita com patrolas. “Com o grande fluxo de caminhões, o leito dela foi afundando e, quando chove, a água empossa e a estrada vira um rio. A situação só piora”, diz o agricultor. Segundo ele, o governador visitou a região no ano passado, mas alegou falta de recursos para recuperar a rodovia. Para tentar amenizar o problema, os próprios produtores tentam tirar a água da estrada e colocar cascalho, além de disponibilizarem tratores para desatolar caminhões e carros. Já acostumadas com os problemas nas estradas, as empresas que trabalham com transportes de mercadorias preveem mais dificuldade no escoamento da safra este ano. “As estradas estão se deteriorando mais. Onde não tem asfalto, a situação tende a se agravar”, lembra o presidente da Federação Interestadual das Empresas de Transporte de Cargas (Fenatac), Paulo Afonso Lustosa. Esta é a época do ano com maior movimentação de caminhões na rodovias goianas, quando há uma migração de caminhões de todo País para as regiões de colheita da safra. Segundo ele, com as chuvas, as viagens e até o descarregamento dos produtos ficam mais demorados, o que pode aumentar o custo do transporte de grãos. “A infraestrutura sempre foi um gargalo. O governo atual tem tentado atacar este problema, mas, a longo prazo, é preciso trabalhar nossa matriz de transportes, pois o modal rodoviário é competitivo apenas nas médias distâncias”, avalia. O presidente da Fenatac acredita que as ferrovias ajudariam a encurtar as viagens, sem acabar com o transporte de cargas. Para ele, o fato de 60% das riquezas do País ainda serem transportadas pelo modal rodoviário é uma grande distorção.
Recuperação exige R$ 4,2 bi, diz CNT
Para recuperar as rodovias goianas, a Confederação Nacional dos Transportes (CNT) estima que seriam necessários R$ 4,2 bilhões. Mas os investimentos feitos em 2019 estão muito aquém disso: foram R$ 300 milhões do governo federal e outros R$ 300 milhões do Estado. Em nota, a Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra) informa que fez renegociação e validação de contratos com empreiteiras para garantir a manutenção nas 27 regionais que cuidam das rodovias. Também diz ter iniciado pavimentação, implantação e restauração de sete delas e que 21 mil quilômetros estão em manutenção. A agência diz que os serviços são prejudicados pelo período chuvoso, mas que mantém equipes de plantão em todas as regiões para garantir o tráfego e a segurança. Segundo a Goinfra, até que a GO-206 seja pavimentada, ela receberá serviços de manutenção e, para isso, já notificou a empresa encarregada. A agência alega que a pesquisa da CNT foi feita em meados do ano, quando ainda estava descoberta por contratos de manutenção. “Com as contratações, houve melhoria considerável nas estradas, especialmente nos pontos críticos. Nos últimos três meses, mais de 60 erosões foram recompostas, 20 pontes de madeiras foram recuperadas e oito pontes de madeira foram substituídas por pré-moldados de concreto, além da melhoria do greide em 11 rodovias não pavimentadas.
Fonte O Popular