INTEGRANTES DA COMISSÃO, DURANTE AUDIÊNCIA, CONSTATAM QUE CONCESSIONÁRIA ITALIANA ULTRAPASSA CINCO VEZES O LIMITE DE INTERRUPÇÃO PERMITIDO PELA ANEEL EM IPAMERI E REGIÃO SUDOESTE.
A 23ª audiência pública realizada pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga irregularidades dos serviços prestados pela concessionária italiana Enel, lotou o Plenário da Câmara Municipal de Ipameri, distante 207 quilômetros de Goiânia. Ao final da audiência, os parlamentares demostraram confiança no trabalho da CPI, acreditando que uma solução será encontrada.
Na reunião da comissão, realizada nesta quinta-feira, 28, pela manhã, na Assembleia Legislativa, os parlamentares votaram requerimento, por sugestão do deputado Alysson Lima, para convocar o advogado da Enel, Lúcio Flávio, para comparecer à reunião do colegiado no dia quatro de dezembro. Os parlamentares votaram também requerimento que pede o contrato da Enel com o escritório de advocacia GNPL e, por fim, outro requerimento que busca obter todos os trabalhos realizados pela Agência Goiana de Regulação, Controle e Fiscalização (AGR) na obtenção de informações sobre o trabalho da Enel no estado.
Em Ipameri, o relator da CPI, deputado Cairo Salim (Pros), dirigiu os trabalhos na mesa de autoridades, composta pelo procurador da Assembleia Legislativa (Alego), Edmarkson Ferreira de Araújo; vice-presidente do Legislativo local, Genivaldo Moreira (PR); secretário municipal de Planejamento, Humberto Gebrim; comandante 41ª CIMP, Comandante Major Tairo Ciloé de Oliveira; Alexandre Mendonça Teles, assessor do deputado federal José Mário Schreiner; e os vereadores por Ipameri Douglas Troncha (PDT), Luciano Carneiro (PSDB), Alan César (MDB), e Mara Ney (PSB).
O relator da CPI usou a tribuna para ressaltar que a falta e interrupção contínua do fornecimento de energia elétrica em Ipameri e em todo o estado de Goiás está atrapalhando a vida da população e que a comissão, instalada em março deste ano, ainda não foi concluída porque a sociedade está insatisfeita, e precisa ser ouvida antes da elaboração do relatório final. “Nossa visita é motivada pela falta de energia que tem atrapalhado a vida da população de Ipameri e muitas outras cidades. E estamos aqui para registrar o descontentamento de vocês com a Enel. O relato popular é fundamental para que possamos exigir o cumprimento dos compromissos firmados entre a empresa e o Governo”, pontuou.
O deputado destacou a falta de compromisso da Enel e relatou o sofrimento de produtores rurais, comerciantes e donas de casa. “A Enel não respeita ninguém. Temos bairros e assentamentos ficando dias sem energia. Somos a voz de nossos eleitores, e vamos usar nossa voz para ensinar a Enel a respeitar o cidadão, investir e oferecer serviço de qualidade na cidade e na zona rural. Não queremos favor, pagamos as taxas mais caras do País, seja empresário, produtor, comerciante ou dona de casa. Somos clientes de igual forma e exigimos um serviço de qualidade”, discursou Salim.
De acordo com o ranking da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a Enel é a pior distribuidora de energia do Brasil. Atualmente, a empresa italiana controla e administra a distribuição de energia nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará e Goiás, além de outros 38 países. Considerando a solidez da empresa, o relator da CPI enfatizou que a crise energética de Goiás é fruto do desinteresse e descompromisso da concessionária. “A Enel tem todas as condições financeiras de fornecer energia de qualidade e não o faz por que não quer. Mas, se quiser continuar monopolizando os serviços energéticos em Goiás, terá que resolver os problemas com rapidez, eficiência e respeito aos consumidores. Juntos, vamos construir um relatório duro e exigiremos mudança de atitude da empresa e respeito ao consumidor”, afirmou.
O parlamentar lamentou a ausência de um representante da Enel ao evento. “Infelizmente, nenhum representante compareceu para tomar nota da realidade de vocês. Mas, todas as reclamações serão informadas por relatório”, disse Salim.
O procurador da Alego, Edmarkson Ferreira de Araújo, apresentou informações relacionadas ao painel de desempenho de distribuição por municípios disponibilizados no site da Aneel. Os dados oficiais da agência, apontam 10.231 unidades consumidoras em Ipameri, com duração máxima de interrupção anual de 20 horas, porém os números revelam estrangulamento de quase cinco vezes mais que o permitido em 2019. Quanto à média de interrupção aceitável, o limite máximo para Ipameri seria de nove horas por ano, mas ultrapassa 12 horas segundo relatório da Aneel. “Os números, que são oficiais, provam que a Enel não oferece serviço de qualidade desde 2017. A empresa alega investimentos, mas os dados mostram outra realidade o que comprova e justifica as reclamações do cidadão”, destacou.
Com a palavra franqueada aos convidados, o vice-presidente do Sindicato Rural de Ipameri, Eduardo Machado, relatou o sofrimento da população local, especialmente, do produtor rural que tem perdido a produção diária por falta de energia. “Na zona rural a falta de energia é muito pior que na cidade, o produtor está perdendo toda sua produção por falta de energia. É um caso de polícia o que estamos vivendo aqui. Acaba a energia, e a gente liga na Enel para registrar, eles demoram até quatro dias para atender. Isso porque o atendimento é de emergência, segundo eles. É lamentável! Façam valer nossa voz. Estamos à mercê da falta de respeito dessa empresa que nos deixa em situação humilhante constantemente”, relatou Eduardo.
Representatividade
O vereador Alan César reforçou o empenho do Poder Legislativo local e estadual na luta por um atendimento digno e justo por parte da Enel. “O intuito é dar voz ao cidadão, e somos incumbidos de ecoar essa voz apontando as reclamações do povo. A CPI é a oportunidade de apresentar nossas demandas. E lutar juntos por dignidade e justiça”, salientou o vereador.
Já o vereador Douglas Troncha, aproveitou a audiência para denunciar o desdém da diretoria da Enel para com o colegiado, que há tempos busca uma resposta da empresa. “Temos buscado soluções para o fornecimento de energia há muito tempo. Todos os 11 vereadores assinaram requerimentos e moção de repúdio, solicitando à Enel um plano de ação para recuperação do sistema elétrico de Ipameri. Já que não nos atendem, a esperança é que a CPI os conduzam ao cumprimento integral do contrato firmado com o Governo e que nossa gente não pague essa conta injusta sozinha”, concluiu.
Da platéia, ecoou-se a voz firme e entusiasmada de José Antônio, um pequeno comerciante que comemorou a união de forças para cobrar uma postura séria e justa da Enel. “Estou me sentindo animado, porque estamos falando a mesma língua. Nosso clamor é o mesmo”, enfatizou. O comerciante denunciou o descompromisso social e público da Enel para com a sociedade. “Eles não se importam com a vida. Outro dia, um fio de alta tensão se rompeu na rua da minha casa. Tinha faísca e fogo nos cabos rompidos, mas a equipe só chegou no dia seguinte. Substituíram a fiação, mas não religaram a rede elétrica. A luz só chegou na minha casa depois de três dias. Estamos literalmente no escuro”, relatou.
Outro entusiasta na plateia foi o senhor João Dias, ao revelar o sentimento confiança e esperança nas investigações da CPI. “Essa CPI não vai acabar em pizza. Até o Governador perdeu a paciência com a Enel. Obrigado por lutar ao nosso lado. Juntos, vamos ecoar nossa voz em busca dos nossos direitos”, disse em alto e bom tom.
As declarações, reclamações, opiniões e sugestões dos participantes foram unanimes em relação à necessidade de tomar atitudes mais enérgicas e sólidas contra a Enel, na tentativa de provocar o cumprimento do contrato ou, se necessário, a encampação da companhia. “O alto comando da Enel precisa respeitar o cidadão. A região do Fundão já ficou 8 dias sem energia. Isso é inadmissível”, completou o vereador Luciano Carneiro.
Como se não bastasse a interrupção contínua de energia elétrica, a população de Ipameri convive diariamente com a instabilidade da potência voltaíca que chega às unidades consumidoras. A reclamação foi registrada pelo comerciante Juscelino Dias. “Ouvi atentamente todas as declarações, mas é preciso registrar que a tensão voltaíca dispensada pela Enel em Ipameri, não chega aos 220 volts. Isso causa danos irreparáveis a equipamentos eletroeletrônicos e maquinário de processamento”, denunciou Juscelino.
Depois de quase duas horas de depoimentos e denúncias o relator da CPI, o deputado Cairo Salim encerrou a audiência pública em Ipameri sob protesto. “O povo quer mudança. Sorte a nossa que estamos aqui, isso mostra que todos nós somos líderes, e estamos pensando e lutando pelo bem da coletividade. Somos responsáveis pela mudança e por melhor qualidade de vida do povo goiano. Tenham certeza de que a participação de vocês fará diferença na elaboração do relatório final da nossa CPI”, finalizou.
Fonte: Agência de Notícias