Articulação Caiado surpreende como liberal democrata

Governador assume papel conciliador com deputados, desarma estigma de autoritário, circula entre populares e conquista admiradores pela sinceridade do “sim” e do “não”

Welliton Carlos
Após vencer as eleições ainda no primeiro turno, em 2018, o governador Ronaldo Caiado (DEM) indicou sua opção para a presidência da Assembleia Legislativa – o deputado Álvaro Guimarães (DEM).
Normal o chefe do Executivo ter em mente um parlamentar de seu partido que possa ajudá-lo a governar, afinal, o presidente do legislativo está na linha sucessória do governador. Depois do vice, é ele quem assume o comando do Estado.
Todavia, Caiado não forçou. No tabuleiro do jogo, e de forma transparente, mexeu apenas as fichas possíveis: pediu votos.
Poderia ter vencido com tranquilidade se exercesse a pressão da “velha política”. Ao contrário, optou em respeitar a voz das ruas contra práticas que derreteram antigos líderes. Em vez do “toma lá dá cá”, abriu o diálogo.
Ao reconhecer a independência da Assembleia Legislativa, Caiado abriu uma nova temporada política sem uso da ‘força’. As bases da relação com parlamentares foram claras: não envolveram cargos.
Nos bastidores, os deputados assumem que Caiado instalou a governabilidade técnica. Prova: a mina de cargos públicos não foi ocupada apenas por caiadistas. Mas técnicos – sejam eles direitistas, ciristas, bolsonaristas, católicos, protestantes, olavistas, iristas, marconistas, comunistas, direitistas, etc.
A mudança de governo, por exemplo, não simbolizou saída de comissionados técnicos. Para que ocorra a indicação de algum deputado, além do nome, o governador adotou algo inédito no Estado: a análise do currículo do comissionado.
Políticos, chefes de partidos e parlamentares têm o dever de convencer os gestores do governo – a maioria sem cor partidária – de que suas indicações são profissionais e podem contribuir com o serviço público.
O perfil ideológico é mantido de forma discreta: direita, mas que prega austeridade e o controle dos gastos públicos. Cada integrante do governo deve seguir esta linha, já que ela está afinado com o plano de governo.
Ernesto Roller, secretário de Governo, se reuniu na última semana com parte majoritária dos 28 deputados da base. Ele tem dito que o governador Ronaldo Caiado implantou práticas que incomodaram aqueles que se acostumaram com o “loteamento de cargos”, a entrega de “secretarias com porteiras fechadas” ou mesmo a nomeação de servidores sem utilidade.
“É um governo diferente”, diz o secretário, que tem estabelecido critérios junto aos deputados para que ocorram nomeações.
Roller tem mostrado que a orientação mudou. O secretário diz que Caiado foi eleito com grande votação para mudar práticas antigas, já que o maior inimigo do Estado é a corrupção, negociatas em licitações, politicagem e o desprezo pelo respeito ao interesse público.images (6)

LIBERAL
Considerado autoritário por conta do sobrenome que herdou, durante a campanha eleitoral a oposição tentou de todas as formas colar a imagem de Caiado ao político arbitrário, antidemocrático e violento. Um fake com Cora Coralina se referindo ao “chicote” dos Caiados foi desmentido por historiadores e especialistas na obra da poetisa. Mesmo assim adversários e intelectuais sem escrúpulos espalharam a informação.

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Imagem de inábil não colou

Outra mensagem de opositores veiculadas em fake news e tentada contra o governo neófito se referia a sua pouca habilidade em gestão. Pois bem, durante a construção da equipe de governo, o “gestor” Caiado procurou exatamente técnicos destacados. Pela primeira vez, desde a década de 1960, o critério político não foi mais o determinante.
Em Goiás, apenas Mauro Borges (1961-1964) governou com uma equipe de tantos técnicos, enfim, especialistas de cada área e não por políticos.
Assim, a imagem de inábil e autoritário que oposicionistas tentaram impor foi desarmada pela realidade. Caiado tornou-se liberal, no sentido de aberto aos projetos e debates sobre Goiás. Não abriu mão da austeridade contra a corrupção: acabou com o aluguel desnecessário, vendeu carros de luxo, reduziu gastos com comissionados.
Na Assembleia, sua imagem se consolida como liberal: busca alternativas para temas que sempre foram tratados com ortodoxia. Não orienta ninguém a entrar em confronto nem aprovar projetos que sejam ilegais ou absolutamente inconstitucionais.images (8)

SUPREMO
No passado recente, para efeito de comparação, Goiás tornou-se piada no Supremo Tribunal Federal (STF) exatamente devido a quantidade de leis que foram retiradas do ordenamento jurídico por conta das ilegalidades e arbitrariedades. Uma das aberrações foi o Simve, o serviço militar que fazia uso de civis não concursados.
Nas reuniões com deputados, Caiado conseguiu o improvável: conquistar a admiração até mesmo de adversários, como Diego Sorgato (PSDB) e o próprio presidente da Assembleia, Lissauer Vieira (PSB).

Político negocia com entidades e articula com o Governo Federal

A demonstração de que Ronaldo Caiado assumiu a figura de articulador e negociador é sua relação com as entidades. Conseguiu junto aos grandes empresários de Goiás reduzir benefícios fiscais que retornarão R$ 1,5 bilhão para os cofres públicos.
Foi também dialógico com os professores, ao aceitar os protestos e pedir paciência para ajeitar a máquina destruída que encontrou ao assumir o Governo.
Os chefes do Executivo, embevecidos pelo poder, ignoram as peculiaridades do legislativo. Não raro, a mensagem dos prefeitos, governadores e mesmo presidentes é de subordinação.
Sentou várias vezes com representantes dos professores, que ameaçaram greve. Na Cidade de Goiás, durante vaias orquestradas para cobrar “paga dezembro”, ele saiu da multidão e foi até os manifestantes e pediu paciência, explicou que a culpa não era dele, chamou o grupo para conversar.
Conhecido pelos arroubos de oratória no Senado, o atual governador de Goiás aprendeu a aceitar as dificuldades e tentar gerir crise. Em uma solenidade na Vila São Cotolengo, por exemplo, em fevereiro, pediu desculpas por não ter ainda quitado os salários atrasados do último gestor: “Me perdoem se não consegui pagar o mês de dezembro, mas estou trabalhando fortemente para poder o mais rápido possível, quando tiver a mínima condição, garantir aquilo que é sagrado: o salário”.

GOVERNO FEDERAL
Insistente, Caiado tem ouvido do Governo Federal que suas demandas serão prioritárias. As insistências do governador para que os ministros ajudem Goiás comoveram até o ministro da Economia Paulo Guedes. Para a revista “Veja”, o ministro teria dito que o primeiro socorro para os estados será dado para Goiás, “para que Caiado arrume a casa”.

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Alan Ribeiro
Alan Ribeiro

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