
Líder da dissidência do MDB que apoiou Caiado, Adib agora se prepara para o seu voo solo
Leal ao governador Ronaldo Caiado e líder da dissidência do MDB, prefeito de Catalão cresce como liderança política e amplia os horizontes para se colocar como alternativa para a eleição governamental de 2022, mas antes precisa passar pelo pleito municipal do ano que vem
Helton Lenine
Um dos articuladores e apoiadores da campanha de Ronaldo Caiado ao governo do Estado, o prefeito de Catalão Adib Elias aparentemente recolheu-se aos limites do município que administra, mas, na verdade, não só continua influenciando a política estadual, como está aumentando progressivamente o seu cacife para se viabilizar como alternativa para a sucessão governamental de 2022.
Adib, como se sabe, é do MDB. Ele comandou o grupo de prefeitos que levou o partido a um racha histórico na última eleição, quando grande parte dos emedebistas apoiou o candidato do DEM, Caiado, e junto com ele chegou à vitória. “Estou cansado de perder”, justificou ele, na época, ao descartar a candidatura de Daniel Vilela e, juntamente com os prefeitos de Rio Verde, Paulo do Vale; de Formosa, Ernesto Roller, de Goianésia, Renato de Castro; e de Turvânia, Fausto Mariano, arrastar parcelas expressivas das bases municipais para a candidatura caiadista e experimentar o gosto da vitória depois de 20 anos sucessivos de derrotas. Contou com o apoio também dos ex-presidentes do MDB estadual, Nailton de Oliveira e Samuel Belchior.
Sem indicações
Em relação ao governo Caiado, Adib Elias fez opção por reivindicar uma contrapartida em termos de obras para Catalão. Caiado foi duas vezes ao terreiro de Adib. Uma para anunciar uma parceria com a prefeitura para a construção do sonhado anel viário, projeto que Catalão espera há anos e que vai desafogar o trânsito urbano, ao retirar o tráfego de caminhões pesados que corta a cidade. O custo é de R$ 11 milhões, metade dos quais será bancada pelo governo do Estado – compromisso que Caiado assumiu publicamente na sua primeira visita. Na segunda, participou da aula inaugural do curso de Medicina local, pela UFG.
Esse curso, aliás, é um dos trunfos de Adib para superar o desafio que enfrenta no ano que vem, o da reeleição, etapa necessária para a construção da sua candidatura ao Palácio das Esmeraldas – aproveitando o vácuo aberto pelo anúncio de Caiado de que não disputará um novo mandato e que provavelmente irá tentar a presidência da República. Não se trata de um voo superior às forças do líder catalano: ele já tem uma tentativa no currículo, em 2006, quando afunilou como um dos dois nomes do então PMDB e acabou perdendo a convenção para Maguito Vilela.
Volta ao MDB
A candidatura de Adib a governador pode ser colocada pelo MDB ou por qualquer outro partido, inclusive o DEM, para o qual ele pode se transferir caso os chamados dissidentes caiadistas emedebistas não consigam reverter a expulsão aprovada recentemente pelo diretório estadual. No momento, há um recurso apresentado pelo senador Luiz Carlos do Carmo ao diretório nacional, propondo a revogação do ato, com grande probabilidade de ser acatado.
Caso isso aconteça, o grupo de Adib volta ao partido com força e pode desalojar a família Vilela, hoje no comando, em eleições previstas para o segundo semestre. Seria uma reviravolta e tanto. Funcionaria, inclusive, como gás para os projetos políticos do prefeito de Catalão – desde, claro, que consiga a reeleição em 2020, prioridade absoluta nos planos de Adib desde já. O município é um dos cinco maiores do Estado e começa aos poucos a emergir do caos administrativo e financeiro que o emedebista garante ter sido deixado pela administração do tucano Jardel Sebba – cujo maior símbolo negativo, diz ele, é um hospital hoje interditado porque a construção, de tão mal feita, ameaça ruir.
Há obras, atualmente, por toda parte em Catalão. O asfalto da cidade foi todo recuperado e novos bairros estão sendo pavimentados. Um projeto de proporções monumentais, que seria a extensão da avenida Raulinda Naves, de custo superior a R$ 20 milhões, teve que ser adiado depois que uma tromba d’água provocou a destruição das margens do ribeirão Pirapitinga, levando junto todo o investimento inicial. Foi azar, de certa forma, porque a canalização desse curso de água proporcionaria uma revolução urbana na cidade e confirmaria a imagem de Adib como o gestor que mais transformações trouxe para Catalão.
Balanço favorável
A política em Catalão, como se sabe, é uma das mais agressivas do Estado, quiçá do país. São comuns episódios em que rivais tradicionais como Adib e Jardel chegaram a descer a níveis baixíssimos, com uma diferença: o balanço eleitoral é francamente favorável a Adib, que até hoje só perdeu uma das eleições municipais que disputou, enquanto Jardel tem três derrotas no currículo.
Essa vantagem acabou se refletindo em um amadurecimento político e- por que não? – até mesmo pessoal de Adib, que tanto amigos quanto adversários notam hoje no seu linguajar, no comportamento e até mesmo no seu semblante. Trata-se de um homem tranquilo e de um líder que parece caminhar com segurança e sobretudo sem ansiedades, estabelecendo empatias por onde passa e revelando como qualidade principal um formidável carisma.
É fato, portanto, que o emedebista tem capital político acumulado, reforçado pelo papel decisivo que teve na última campanha estadual: a determinação com que os dissidentes do MDB, sob a sua liderança, apoiaram a candidatura de Caiado, primeiro foi fundamental para criar uma expectativa de vitória e seguida teve efeito nas próprias urnas, com vantagens expressivas nos resultados das regiões onde se situavam Adib e os prefeitos afinados com ele.
Jogo jogado: por tudo isso, Adib está pronto para, digamos assim, a aventura da sua vida, qual seja disputar o governo de Goiás e quem sabe se sentar à mesa mais prestigiosa do poder estadual.
O balanço eleitoral em Catalão é francamente favorável a Adib Elias, que até hoje só perdeu uma das eleições municipais que disputou, enquanto Jardel tem três derrotas no currículo”