REDES SOCIAIS: A revolução do WhatsApp

Pesquisas iniciais revelam grande força do aplicativo no país; Goiás está dentre estados que mais publicam informações e com maior número de usuários

Welliton Carlos

A sociedade da dromocracia e da desterritorialização das mídias tem sido impactada por revoluções semanais nos últimos anos. Na era dos aplicativos, Marshall McLuhan (autor da célebre frase visionária de que “o meio é a mensagem”) e Harold Innis (seu precursor) tornam-se vetores de uma mudança radical no formato das comunicações. Quem ficar para trás corre o risco de falar para uma audiência cada vez mais atomizada frente ao universo sem fronteiras que se transformou a internet.
Há 60 anos, Innis (1894-1952) já vislumbrava o novo: as tecnologias são meios por intermédio dos quais as civilizações se expandem e estabelecem contatos entre si.
E dentre as ferramentas mais utilizadas no momento, uma se destaca: o WhatsApp. É possível que um bilhão de pessoas utilizem a ferramenta multiplataforma no mundo.
Da mesma forma que é imponente, ela pode ser superada pelo fenômeno da midiamorfome, previsto por Roger Fidler. Ou seja, o WhatsApp é hoje a junção de outras ferramentas arcaicas, como o ICQ e o Messenger aliado aos sons e imagens de rádios e tevês. Mas pode ser superado na medida em que ele ou outra ferramenta possibilite a transmissão em real time. Já existem aplicativos à espera deste momento: Line, Viber, WeChat, Kakaotalk, Kik Messenger, Telegram, Chaton, BBM, Group me, Snapchat, dentre outros.
Na visão de Innis, qualquer civilização tem um meio de comunicação dominante. Portanto, a ocupação do tempo ou do espaço se dá sempre por agilidade e conteúdo. A nova era não despreza a tevê ou rádio, mas passou a ter acesso a seu conteúdo através da nova mídia.
A modernidade permite que os conteúdos veiculados em mídias tradicionais possam circular nos aplicativos – cujo melhor exemplo é o WhatsApp, que guarda ainda suas limitações. Ele, por exemplo, não permite a circulação de arquivos maiores do que 15 MB. Garante, todavia, uma possibilidade rápida de edição ainda dentro de sua interface para que mensagens ‘ad infinitum’ sejam reproduzidas.
As pesquisas de comunicação sobre o Whats App ainda são incipientes e sem aportes quanto aos seus fundamentos. O que se sabe até agora é que ele, de fato, tornou-se um ‘player’ das comunidades virtuais, criando potenciais esferas públicas. Além de entregar ao público o “telefone com vídeos”, ele tornou-se espaço de grande interação pública.
A Universidade de São Paulo (USP) publicou recente estudo sobre as interações sociais que se sucedem dentro do aplicativo. “Mídia social whatsapp: uma análise sobre as interações sociais”, de Juliana Lopes de Almeida Souza, Daniel Costa de Araújo e Diego Alves de Paula, procura analisar o aplicativo em seu contorno elementar: “A maioria (92%) dos usuários do WhatsApp utiliza com frequência a mídia social para trocar mensagens, fotos, imagens e vídeos. Diante desta frequência percebida nas análises a partir dos usuários entrevistados, é importante destacar que a maioria (59%) dos não usuários tem interesse em utilizar a mídia social WhatsApp. Contudo, os não usuários apontaram os seguintes motivos para a não utilização: não possuem celular compatível, não gostam e não conseguem usar o WhatsApp, tiveram experiências negativas, sentimento de invasão de privacidade, roubo de aparelho, ou mesmo acreditam que atrapalha nas funções diárias como trabalho e estudos”.

FONTE
Outra forma de utilização do WhatsApp tem sido debatido no universo acadêmico desde 2016: o aplicativo como fonte. “As redes sociais como fonte de informação: uso do Whatsapp como ferramenta de apuração da notícia”, de Paula Araújo Ferreira e Cristina Rego Monteiro da Luz, procura identificar como o meio de comunicação adquirido pelo Facebook criado há nove anos tem sido utilizado na produção jornalística.
O uso do aplicativo tornou-se um grande aliado da mídia tradicional. “No jornal Extra, em menos de um ano do uso do aplicativo Whatsapp pelos jornalistas, o tema já virou case de sucesso. Segundo uma matéria publicada no Extra em junho de 2015, o número de leitores cadastrados chegava 72 mil, com capilaridade inclusive em outros países como China, Espanha, Líbano. De acordo com o jornal, até a data da publicação da matéria foram mais de 4 milhões de mensagens de usuários, das quais originaram-se 3.500 reportagens tanto para o impresso quanto para o online”.
O estudo assume uma informação do jornal “Extra” como verdadeira a partir de seu levantamento de dados. “A partir da análise do case WhatsApp no Extra podemos afirmar que soluções voltadas a inovações editoriais, através da apropriação de um aplicativo de conversa via redes móveis, revelam como as plataformas digitais podem potencializar as relações tradicionais entre veículo e usuários, mas não necessariamente modificar a linguagem das relações de uso entre veículos tradicionais e público usuário, no imaginário geral”.

METADE DOS BRASILEIROS
Conforme Gustavo Resende e Jussara Almeida, dentre outros pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), “48% da população, no Brasil, usa o WhatsApp para compartilhar notícias”.
O grupo da UFMG realizou até agora o mais extenso estudo divulgado no país com grupos militantes e ativistas no país. A partir da instituição de um monitor de grupos públicos, o grupo de pesquisadores, que teve apoio de uma pesquisadora da IBM, Marisa Vasconcelos, investigou o comportamento de 6.314 usuários. “Nós acreditamos que nosso sistema possa ajudar jornalistas e pesquisadores a entender a repercussão de eventos relacionados às eleições brasileiras dentro desse espaço midiático”, dizem os pesquisadores que apresentaram seu estudo em Salvador(BA), nos dias 18 e 19 do mês passado.
A pesquisa procura demonstrar como se deve coletar os dados e caracterizá-los diante de uma metodologia que procure revelar algum aspecto da realidade.
No estudo, após os grupos de debates (68. 523 textos), observou-se que os grupos com maior quantidade de postagens são aqueles caracterizados pela neutralidade e predominância de notícias (40.416 textos). Tais grupos são predominantes exatamente por partirem ou de mídias organizadas ou por núcleos de interação destinados ao debate plural de ideias. No estudo, foi possível identificar a origem das postagens: São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Minas Gerais, Paraná, Goiás e Ceará são os estados com maior incidência de mensagens. Por sua vez, na métrica da quantidade de usuários, a lista é outra: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Goiás e Paraná.
“Atualmente, nós já estamos monitorando mais de 200 grupos públicos e compartilhamos o nosso sistema com mais de 50 jornalistas brasileiros”.

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Alan Ribeiro
Alan Ribeiro

Alan inicia seus trabalhos com o único objetivo, trazer a todos informação de qualidade, com opinião de pessoas da mais alta competência em suas áreas de atuação.

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