
O governador eleito Ronaldo Caiado concedeu entrevista exclusiva ao jornal Diário da Manhã, que este blog reproduz graças a parceria com o jornalista Welliton Carlos:
ENTREVISTA: Caiado: “Vamos arrumar o governo”
Em entrevista ao Diário da Manhã, governador eleito traça cenário do Governo de Goiás que herdará, relata as dívidas que já tem conhecimento e anuncia com otimismo que vai lutar até último minuto do mandato para colocar ordem na casa
Caiado anuncia que em breve anunciará reforma administrativa; senador eleito governador de Goiás pretende tirar Goiás da condição de imobilização orçamentária para poder investir em obras e melhorias no serviço público
“Não vou sequestrar a Assembleia Legislativa”
Nesta parte da entrevista, concedida ao DMTV, o governador eleito Ronaldo Caiado (DEM) trata da respeitabilidade entre os poderes. Ele garante consideração e reverência ao Judiciário e Legislativo. Oriundo do parlamento, o futuro gestor diz que respeitará deputados estaduais em sua origem: na liberdade de tribuna.
Para Caiado, é absurdo o Poder Executivo querer colonizar o Legislativo ou mesmo sequestrá-lo, como muitas vezes ocorre no Brasil. Caiado explica também outros tópicos e características de seu mandato, como a reativação da Secretaria de Agricultura. Nos bastidores, ele se mostrou também indignado com a situação que a cultura foi tratada em Goiás. E garantiu olhar com determinação para algumas áreas, como a literatura e artes plásticas, mas sem esquecer de outros segmentos.
“Nós estamos impedidos de buscar junto ao Governo Federal qualquer tipo de empréstimo para que a gente possa, pelo menos, no início de governo ter uma condição mínima de operar essas adversidades. Você sabe que deveremos receber o atraso da folha, o que impacta enormemente”.
“A Celg foi privatizada. A Enel continua sendo a pior distribuidora do país. Temos a Saneago vivendo uma situação precária. Os prefeitos sem saber o que fazer, como ter o abastecimento nas cidades. São políticas em várias áreas que nós teremos que atuar rapidamente para podermos dar uma resposta a todas as pessoas que esperam do nosso governo mudanças substantivas”
“A folha hoje gira em torno de R$ 1, 2 bilhão. Um quadro que também nos preocupa, que são todos aqueles empenhos que foram feitos em que as obras foram realmente realizadas e eles estão cancelando esses empenhos. Ora, isso tudo irá recair sobre nossos ombros. Mas vamos voltar para nosso dia a dia, para aquilo que o cidadão sente no dia a dia. A situação da saúde: ela está vinculada, se não me engano, a 17 OS´s no estado de Goiás. E com uma dívida que ultrapassa R$ 280 milhões”.
“Digo: não terá jamais da minha parte processo de enfrentamento muito menos de querer sequestrar a Assembleia. Teremos um diálogo mostrando com toda clareza a realidade do estado , buscando junto com a Assembleia Legislativa a construção de uma legislação também de mudanças”
Welliton Carlos
Marcus Vinícius de Faria
O senador Ronaldo Caiado (Democratas) já entrou para a história: é o candidato ao governo que venceu com maior tranquilidade um pleito eleitoral na história recente de Goiás. Nem mesmo Iris Rezende (MDB) teve tamanho apoio popular. Em 1951, bem distante da modernidade, Pedro Ludovico obteve 59,97% contra Altamiro Pacheco – que conquistou 40,03%.
Caiado conquistou 1.773.185 votos. O segundo colocado obteve 479.180. Com 59,73% dos votos válidos – número menor daquele de Pedro por traço de número – o democrata enfrentou outros quatro candidatos. Além de significar prestígio com a população, a emblemática vitória manda um recado: o povo não estava contente com a política de Goiás. Muito menos com a gestão pública.
É aqui que entra o senador eleito: ele pretende mudar radicalmente a ação em várias frentes administrativas, a começar da corrupção e do crime organizado que estaria em atuação no estado de Goiás – seja na vida privada seja na pública.
Em visita o jornalista Batista Custódio, diretor-geral do Diário da Manhã, Caiado garantiu que “vai arrumar o governo”. Ele pretende não dar trégua até o último minuto de seu mandato. Nos últimos dias, ao lado do fiel escudeiro, senador Wilder Morais (DEM), esteve em Brasília e Rio de Janeiro, onde visitou o presidente eleito Jair Bolsonaro. Caiado já articula em busca de solução para as graves crises que encontrará pela frente: existe uma dívida pública altíssima de R$ 19 bilhões, inadimplementos que afetam a saúde e um cataclismo na educação – o programa Bolsa Universitária está prestes a sofrer uma debandada das próprias faculdades. Elas não recebem há seis meses.
Em entrevista ao DMTV, para os jornalistas Marcus Vinicius e Arthur da Paz, o futuro governador foi claro sobre as dívidas que encontrará e otimista nas soluções anunciadas. Ao DM, o democrata anunciou que em breve deverá apresentar para a sociedade um projeto de reforma administrativa. A proposta a ser enviada para a Assembleia Legislativa deverá reconstruir o estado, que até então estava mais aparelhado para a perpetuação de um grupo no poder do que propriamente para servir o cidadão.
Caiado foi otimista, mas preciso como um cirurgião deve ser ao descrever a fratura: “Não vou cortar na carne. Vamos ter que ir até o osso”. Será através de uma gestão detalhista, inspirada no estado eficiente (nem mais nem menos, mas eficiente) que ele pretende colocar em prática seus sonhos para Goiás. O primeiro deles é reduzir ao mínimo a corrupção – um cancro que aos poucos se tornou um “leitmotiv” dos poderes públicos. Ficha absoluta limpa desde que entrou para a política – em 2019 ele completará 30 anos da disputa antológica com Lula, Brizola e Fernando Collor pela presidência da República -, Caiado terá que articular seu governo sustentado nos votos de indignação recebidos.
A seguir o DM publica trechos da entrevista que pode ser consultada nos sites e redes sociais do veículo de comunicação. Dentre outros temas, como a questão da governabilidade e do respeito dentre os poderes, Caiado afirma que pretende retomar a Secretaria da Agricultura e investir na segurança pública.
DM – Governador, o que é que tem pela frente de desafio para o senhor?
Ronaldo Caiado – Primeiramente, boa tarde a todos os telespectadores, seguidores da TV e Diário da Manhã. É uma oportunidade de poder começar a discutir o momento agora, não do processo eleitoral, mas pós-eleitoral, diante de um quadro que nós tomaremos posse a partir do dia 1º de janeiro. Você formula qual é o cenário que nós analisamos neste momento. É lógico que a cada dia é uma nova situação que aparece. É um quadro que se agrava dentro da situação fiscal do estado de Goiás. Pra você ver: hoje o estado de Goiás está na mídia nacional, como sendo um dos estados que perdeu a condição junto ao tesouro nacional de poder ter acesso a qualquer aval do Ministério da Fazenda do Tesouro Nacional. Isso quer dizer o que? Nós não temos acesso a nenhum empréstimo! Seja ele em banco público , seja em qualquer banco privado . Nós estamos impedidos de buscar junto ao Governo Federal qualquer tipo de empréstimo para que a gente possa, pelo menos, no início de governo ter uma condição mínima de operar essas adversidades. Você sabe que deveremos receber o atraso da folha, o que impacta enormemente.
DM – Ela chega a quanto hoje?
Ronaldo Caiado – A folha hoje gira em torno de R$ 1, 2 bilhão. Um quadro que também nos preocupa, que são todos aqueles empenhos que foram feitos em que as obras foram realmente realizadas e eles estão cancelando esses empenhos. Ora, isso tudo irá recair sobre nossos ombros. Mas vamos voltar para nosso dia a dia, para aquilo que o cidadão sente no dia a dia. A situação da saúde: ela está vinculada, se não me engano, a 17 OS´s no estado de Goiás. E com uma dívida que ultrapassa R$ 280 milhões. Algumas já estão quebrando contrato. Os hospitais estão em uma situação calamitosa. O ponto que me preocupa enormemente é que nós não temos a regionalização da saúde. Tudo está concentrado nos hospitais aqui de Goiânia e entorno. E isso leva a uma preocupação maior que é um colapso numa área que é fundamental, indispensável a todos nós. A parte da Bolsa Universitária: alguns diretores de algumas universidades entraram em contato comigo dizendo que estão sem receber há seis meses , podendo chegar a oito meses até o final do ano. E eles dizem que não têm como garantir a matrícula desses estudantes. Eu disse: “Olha vocês têm que me dar um crédito, eu não sou responsável por essa situação que abate sobre 20 mil jovens no estado de Goiás. Eu preciso ver uma maneira de como renegociar essas dívidas”. Você vê também o quadro dos presídios: hoje é um colapso completo. Estive com o ministro da Segurança, Raul Jungman, com a procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Hoje pela manhã ao visitar o Tribunal de Justiça levei essa discussão aos desembargadores. Ou seja, é uma situação difícil em cada setor. Veja a segurança com salários de R$ 1.500! Essas situações nos aguardam: essas defasagens todas que nós temos no momento, onde o estado de Goiás vive uma situação de extrema dificuldade para superar todas as adversidades que têm. A Celg foi privatizada. A Enel continua sendo a pior distribuidora do país. Temos a Saneago vivendo uma situação precária. Os prefeitos sem saber o que fazer, como ter o abastecimento nas cidades. São políticas em várias áreas que nós teremos que atuar rapidamente para podermos dar uma resposta a todas as pessoas que esperam do nosso governo mudanças substantivas . É fazer com que haja uma política de botar ordem na casa. Esse é o meu objetivo. Tendo o apoio dos bons servidores que querem trabalhar e ao mesmo tempo de uma estrutura de governo funcionando tenho certeza que a sociedade irá retribuir .
DM – Esse cenário que o senhor coloca parece de terra arrasada. Ele é proposital ou fruto de uma má gestão?
Ronaldo Caiado – Diria que é um total aparelhamento do estado. Você não pode dizer que é só má gestão, porque existiu dentro do governo uma política de aparelhar o estado para poder manter essa estrutura de poder. Ou seja, o uso da máquina pública com o objetivo de impedir qualquer mudança no processo eleitoral já que eles tinham quase que o controle de todas as lideranças políticas dos municípios, como tinham também ações diretas sobre até os órgãos de controle do estado. Isso fez com que a situação deteriorasse e chegasse ao ponto que chegou , Goiás com uma dívida de R$ 19 bilhões consolidada, um orçamento que nós vamos agora no final do ano receber com déficit de R$ 3,6 bilhões. Então, são situações que precisamos mostrar que o estado não pode ser utilizado com interesse político, partidário de poder. O estado tem que ser servidor do cidadão. É assim que eu quero deixar muito claro da necessidade de nós retribuirmos ao cidadão aquilo que ele paga no seu dia a dia em forma de taxas e impostos e tantas contribuições para isso possa retornar a ele. Não é fazer um estado que você tem milhares e milhares de pessoas que foram muitas vezes indicadas, pois não passaram no concurso público e que hoje drena maior parte da arrecadação do estado. Pra você ter uma ideia, a folha de pagamento hoje do estado de goiás é igual a arrecadação, que é entorno de R$ 1,2 bilhão.
DM – O senhor já tem o quantitativo de comissionados? Uma pesquisa do IBGE que falava em 120 mil.
Ronaldo Caiado – Acho que nesse momento as informações que tenho não chegam a esse ponto. Você tem também várias autarquias, instalação de conselhos em vários órgãos, uma estrutura não apenas do comissionado. E não estou fazendo juízo de valor do comissionado, mas dizendo que a máquina pública tem que mostrar eficiência. Por causa desses penduricalhos irei apresentar uma proposta de reforma administrativa nos próximos dias.
DM – O desequilíbrio da folha acaba inviabilizando investimentos por parte do estado…
Ronaldo Caiado – Investimento e eficiência para que você possa apresentar projetos junto ao Governo Federal para que áreas que têm ministério próprio com dotação orçamentária possam chegar ao estado de Goiás.
DM – O senhor tem o compromisso de reativar a Secretaria da Agricultura. As instituições de apoio aos produtores rurais vão voltar a funcionar?
Ronaldo Caiado – Em respeito a um setor que é o sustentáculo do estado de Goiás e também do Brasil – que é o setor a agropecuária. E vou dizer que merecem ter secretaria com pessoas qualificadas em cada uma das áreas para nós avançarmos na pesquisa. Aí sim digo que tenho respeito pela Embrapa, pela Emater. Para, enfim, que a gente possa avançar cada vez mais principalmente o pequeno e médio produtor. Se você visitar hoje um assentamento no estado de Goiás, você vai ver ali as pessoas totalmente jogadas, sem nenhum apoio técnico, sem nenhuma orientação de mercado nem daquilo que se deve produzir. E muitas delas, a grande maioria, 60% não tem sequer energia elétrica. Como você vai querer que alguém possa produzir se não tem nem energia elétrica nem água para que possa sobreviver? A Emater tem também esse trabalho. Ela desenvolve técnicas para atender essas pessoas de baixa renda como pequenos agricultores, orientando a sua comercialização, seu plantio e também na comercialização do produto. Agora para tudo isso, o que é importante para que seja dito, é importante que tenhamos a condição de poder fazer com que Goiás volte a ter dinheiro para investir, porque hoje único e exclusivamente você recebe o dinheiro e repassa para pagar a folha de pagamento e algumas outras obrigações que você têm com os empréstimos federais que já estão parcelados e nós teremos que cumprir esse pagamento de encargos.
DM – O senhor vem de uma vasta experiência legislativa. Vai aproveitar esse momento e fazer uma formação de maioria na Assembleia. Qual a visão executiva que o senhor irá encarar?
Ronaldo Caiado – Estou seguindo exatamente aquela sequência lógica do legislativo com a experiência de mandatos como deputado federal e senador da República e neste período que não me ausentei sequer um dia depois da eleição: estou conversando com os deputados sejam eles os que não se elegeram e os que se elegeram. Digo: não terá jamais da minha parte processo de enfrentamento muito menos de querer sequestrar a Assembleia. Teremos um diálogo mostrando com toda clareza a realidade do estado , buscando junto com a Assembleia Legislativa a construção de uma legislação também de mudanças para que a gente possa avançar cada vez mais na gestão do estado de Goiás e eficiência da máquina pública. Como disse hoje aos desembargadores, vocês podem saber que será uma convivência harmônica, respeitosa e com a responsabilidade ao ser eleito numa mudança que o povo de Goiás deixou bem claro. Ser eleito em primeiro turno com quase 60% dos votos mostra que realmente a sociedade quer que as coisas funcionem e que coloquemos ordem na casa. Isso é o que a sociedade deseja nesse momento. E para isso é importante que seja dito que um governador é um funcionário público, sem estabilidade. Tem que apresentar a sociedade os resultados, prestar contas. As pessoas dizem que terei que cortar na carne, mas como ortopedista vai ter que cortar é no osso. Dessa vez o quadro é mais grave ainda. Temos que ter austeridade com resultado para a sociedade.
Fonte: Welliton Carlos